A mídia social da pequena e média empresa

Há algum tempo, venho pensando nas pequenas e médias empresas e sua relação com as Mídias Sociais. Claro, temos aqui como colaborador o Bob Wollheim, empreendedor que poderia até falar com mais autoridade a respeito de suas descobertas para a ResultsON, mas queria falar mais de empresas com negócios um pouco menos inovadores, por assim dizer, do que as startups de tecnologia que são pauta mais freqüente por aí.

Por isso, conversei com três amigos, com negócios distintos: o Erik Momo toca a 1900, pizzaria aqui de São Paulo criada em 1983 por sua família e, hoje, uma (na verdade, cinco) das casas mais requintadas quando o assunto é pizza; o Rodrigo Zapico estudou comigo na ECA-USP, mas preferiu a fotografia e especializou-se em fotografia de casamentos; o Maestro Billy é DJ e produtor musical e mantém, junto com sua mulher Mafê, o Estúdio Mellancia de produção de áudio.

Em comum, seu core business não é exatamente uma novidade no mundo, mas os três experimentaram o relacionamento mais direto com clientes, prospects ou formadores de opinião pelas Mídias Sociais e, em maior ou menor escala, possuem resultados interessantes para compartilhar.

Outra coisa em comum é o fato de todos eles ainda se enquadrarem em Pequenas ou Médias Empresas. Sobre as pequenas empresas, há dados interessantes do IBGE (talvez um pouco ultrapassados por serem de 2002, mas não muito distantes, devido à curva de evolução dos números desde os anos 80) sobre sua participação na economia do país: correspondem a 22% da receita gerada por todo o setor de comércio e serviços do país, mas respondem por mais de 60% dos empregos formais. Não são poucas as análises que apontam na reforma tributária à micro e pequena empresa uma grande saída para a geração de empregos no Brasil.

Incluo aqui também uma Média Empresa, a 1900, devido a um único fator que a torna comparável às Pequenas Empresas: seu orçamento publicitário anual não representa uma conta interessante às grandes agências, isto é, não se trata de uma quantia exorbitante para ser queimada em mídia e fazer o círculo veículo-BV-agência funcionar com grandes resultados. Não significa que a empresa gaste pouco, mas significa que ela não se pode dar ao luxo de gastar mal.

Como eles andam utilizando as Mídias Sociais para se aproximar de seus clientes?

– Da experiência pessoal para o perfil da empresa

Todos apontam o uso pessoal como primeiro contato. “Éramos nerds, usávamos CP500, TK82, TK85, AppleII e seus vários clones. Aprendemos a desenvolver a curiosidade e fizemos muita coisa com as precárias ferramentas que tínhamos. Videotexto, BBS, etc. Era a ‘internet’ da época” – conta Momo, que em uma discussão com amigos, soube do Twitter e que eles já haviam embarcado na onda. “Pensei ‘Eu estou fora! Não estou honrando minha turma! Preciso entrar e ver o que é’”. A febre do Orkut e a onda dos blogs também foi lembrada como um início do contato com estas novidades. “Voltei a me satisfazer por poder escrever os textos que tanto gosto e publicá-los por aí” – diz Zapico. Billy completa a idéia: “naquele momento (febre do Orkut) não sabíamos o tamanho que isso teria na nossa vida empresarial.”

Uma vez ambientados, a conclusão de utilizar tais canais para os negócios foi clara. Os perfis no Twitter pessoais geraram os perfis da empresa, de contato direto com o público. Mas não parou no Orkut, nos blogs ou no Twitter: Facebook e até o Ning também entram no discurso.

E como foi o primeiro impacto da experiência? Billy falou a respeito da crítica: “Numa busca no Twitter, achei um @ falando mal de uma dos programas web que cuidamos. Começei a seguí-lo e perguntei por que ele não gostava e ainda falava mal do produto. Na hora houve uma mudança de atitude. No final ganhei mais um ouvinte contente pela resposta e rapidez no contato direto”. Momo explicou um pouco da experiência com a crítica pela 1900: “Se alguém escreve algo sobre a 1900, qualquer um pode ler. O lado bom disso é que os elogios são compartilhados, mas as reclamações também”.

A transparência, quando se fala em comunicação de empresas, também é uma experiência bastante nova. “Ao entrar em contato com um cliente que reclama, você expõe suas falhas a todos os seus seguidores”, relata Momo, que fala em maior responsabilidade sobre o que se fala. “Uma vez escrita, por mais que se apague da sua timeline, ela (a mensagem) deixa vestígios” – e completa – “99% das informações são publicadas por mim e procuro fazer com cuidado para não deixar um texto com possível erro de interpretação”. Zapico conta sobre o relacionamento com suas clientes: “Não é nada difícil ter noivas me adicionando no Facebook e Orkut. Portanto ‘andar na linha’ e ser ‘politcamente correto’ nas mídias sociais é quase uma obrigação”.

– Resultados: contatos virtuais viram contatos reais. E trazem oportunidades

Billy é enfático quando fala sobre a experiência. “Excelente”. E completa: “Muitos contatos virtuais viraram contatos pessoais e consequentes novos clientes”.

Zapico e Momo falam sobre o contato com pessoas de fora de São Paulo. “Recentemente, recebi uma cotação de uma noiva da Bahia que havia visto um tweet de um dos meus seguidores comentando a respeito de fotos de casamento. Entrou em contato comigo e, dois e-mails depois, fechamos contrato para cobertura de seu evento em Salvador” – explicou Zapico. Momo diverte-se: “Há seguidores de clientes de fora de São Paulo que estão se organizando para virem conhecer a 1900, de tanto ouvir falar”.

– E o que interessa aos comunicólogos de plantão?

Se hoje tocam suas iniciativas em Mídias Sociais sozinhos, o futuro pode reservar alguma alocação de verba para melhorar o trabalho de comunicação online. “Atualmente, anuncio apenas em um guia de alto padrão e Google AdWords. No futuro, havia planejado a criação de um canal no YouTube para veiculação de filmes que ajudem as noivas na escolha de todos os profissionais do casamento.” – conta Zapico, que afirma – “Na verdade, seria interessante algo específico para esse tipo de mídia, sim”.

Momo vai ainda mais longe: “A publicidade vai mudar totalmente”. O futuro pode reservar um CRM online bem apurado: “Com base em histórico de consumo (sua própria base), preferências pessoais e hobbies (Facebook, Orkut) e locais frequentados (Foursquare), pode-se acertar perfeitamente o que cada cliente espera”. “A 1900 não tem um planejamento tradicional, mas já começamos 2010 com um direcionamento muito claro para Mídias Sociais”.

Billy conclui: “É a hora de começar a procurar um planejamento mesmo. Temos que pensar e agir de forma mais especifica para alcançar melhor e mais rápido os objetivos propostos pelo relacionamento nas Mídias Sociais”.

Não sei se algo aqui foi exatamente uma novidade, mas considerando que não estamos falando de empresas de tecnologia, o conhecimento da causa impressiona. Com certeza, há neste grande bloco de empresas muitas vezes ignoradas pelas agências grandes com áreas modernetes grandes oportunidades de comunicação muito bem feita, com chances de realmente tocar as pessoas como aqueles casos que vemos no exterior, mas que geralmente só funcionam no mundo mágico dos videocases.

Estou convencido que algumas das vagas que pequenas e médias empresas gerarão são voltadas a profissionais de comunicação. Considerando que este Eldorado de Mídia Social possui mais de 15.000 “Social Media Experts” por auto-definição, quem sabe não sejam 15.000 experts devidamente empregados num futuro próximo?

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie


RT, CTRL+C CTRL+V, EMBED, FWD ou WRITE, REC, CLICK?

Blogs, Twitter, Flickr, Tumblr, YouTube, Facebook, Orkut, LinkedIn…. A lista é imensa, quase infinita, e a cada minuto são lançadas várias novas ferramentas de mídias sociais e relacionamento de pessoas, certamente.

Content is king, ouve-se por aí, mas as vezes fico com a sensação que o King está nú!

Dizem que nunca se escreveu tanto nem se produziu tanto conteúdo como nestes tempos modernos onde todo mundo virou publisher.

RolfconCreative Commons License foto: BERart

Mas será mesmo que todo mundo virou publisher, fico me perguntando, até porque tenho uma empresa de produção de conteúdo e pretendo poder viver – não está fácil, mas sou empreendedor persistente! – de produzir conteúdo, e essa questão vem me perturbando um pouco.

Talvez a melhor resposta seja MAIS OU MENOS. RT, CTRL+C CTRL+V, EMBED, FWD é produção de conteúdo?

Penso que não.

É distribuicão de conteúdo, claro, é re-empacotamento de conteúdo em alguns casos e, em muitos outros é cópia descarada mesmo de algo feito por alguém outro.

Só quando estamos no modo WRITE, REC ou CLICK, é que estamos, de fato, criando conteúdo. Mas será que essa discussão tem alguma importância num mundo digital social?

Talvez para a maioria das pessoas comuns, não. Pode ser que isso seja totalmente irrelevante, pois o que vale é achar coisas legais e dentro dos interesses dela, pouco importando de onde veio ou por que foi originalmente produzido… ou não?

Por outro lado, pra quem de alguma maneira lida com conteúdo, seja profissionalmente ou mesmo como algo mais pessoal num blog ou no twitter, acho que vale uma provocação pra pensar: há vida longa na web pra RT, CTRL+C CTRL+V, FWD e EMBED?

Não, penso eu.

Pode-se enganar por um tempo (e enganar a você próprio, cuidado), mas a web é uma anarquia mas é também auto-reguladora e, num prazo maior, auto-depura o que tem originalidade, o que é novo, diferente e autêntico, do que é CTRL+C CTRL+V (especialmente o CTRL++C em inglês para CTRL+V em português – ainda tão comum por aí), EMBED, RT ou FWD.

E tenho observado que mesmo para aquele internauta comum o que acaba sendo mais visto, lido, comentado, é o conteúdo que é original, novo, e não a eterna web-reciclagem geral.

Pode ser até que o internauta não vá à fonte, tendo acesso ao original via um RT ou um EMBED, mas ele sabe quem fez aquilo, reconhece o autor e não tenho visto retuiteiros mór serem percebidos como produtores de conteúdo original e relevante, por exemplo.

Já pensou nisso? Você tem ligado seu modo WRITE, REC ou CLICK ultimamente?

Se não, dá RT aí. ;)

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie


Filmes para futuros publicitários

Quando eu estava na faculdade, um professor sempre falava que a maioria dos alunos estava com idéia fixa de trabalhar apenas em agência. Vários não queriam nem saber de cliente. Afinal de contas, eles eram criativos. E, como tal, deveriam trabalhar em Criação de grandes agências de publicidade. Esse professor que dava a aula de Marketing na PUC-RJ sempre insistia que havia muito mais na comunicação do que apenas a criação. Acho que poucos realmente deram atenção para ele. Até porque vários outros professores falavam a mesma coisa: publicidade não é só criação. Eram professores das cadeiras de mídia e outras matérias que não lembro mas que faziam sentido estudar na época.

Enfim, muita coisa mudou na publicidade de lá para cá. Mas continuo vendo muita gente só pensando em agência na hora de trabalhar com comunicação. Tem gente que gosta da informalidade de se trabalhar de camiseta e tênis, outros imaginam que será uma maneira de viver fazendo uma coisa que gosta muito e ser bem pago para isso e etc. Acho que quase qualquer “vantagem” que falarmos de se trabalhar em publicidade será uma meia verdade. Já falei bastante sobre isso em um outro post.

Então resolvi escrever sobre dois documentários sobre publicidade que se complementam. Um deles é sobre os homens e mulheres de sucesso da publicidade nos EUA e outro é sobre os outros, os que em determinado momento da carreira foram demitidos de uma agência e se viram sem pai nem mãe, na rua da amargura e que teriam que dar um jeito na sua carreira.

O primeiro é Art & Copy. Um filme bem feito, que conta vários cases do mercado americano e mundial e que tenta ressaltar os dois lados da publicidade. Tanto o lado do glamour quanto o lado do profissional que monta os outdoors. Tem depoimentos como o de Rich Silverstein, David Kennedy, George Lois e Dan Wieden em que eles contam como começaram suas vidas na publicidade e algumas curiosidades. É propaganda old school e com ótimos insights. Mas o lado que era para ser um contraponto acaba ficando vazio. Mostrar a rotina de uma pessoa que instala outdoors não funciona tão bem quanto funcionaria se mostrasse o conteúdo do outro filme: Lemonade.

Há um tempo, um documentário chamado Lemonade foi bastante divulgado pelo mercado de publicidade. Esse filme, que foca na vida de publicitários demitidos durante a crise financeira de 2008/2009 e como eles reinventaram suas vidas, profissões e etc. É um filme bonito. Tem aproximadamente 30 minutos e mostra gente que virou artista, professor de Yoga, vendedor de café e gente que mudou de sexo. É um filme sobre esperança e a busca por algo que realmente te dá prazer e que pode ser sua fonte de renda. Não há trabalho fácil. Mas é bem mais agradável quando você se sente bem fazendo-o. Foram escolhas forçadas mas que funcionaram para algumas dessas pessoas. Esse é o lado da publicidade que ninguém fala. O lado das demissões, das horas de trabalho que te deixam sem vida, prazos impossíveis e outras coisas ruins que existem no mercado. Nos acostumamos a falar que é assim mesmo mas, na real, não precisava ser.

Acho que toda e qualquer faculdade de comunicação, publicidade ou o que seja, deveria exibir esses filmes para os seus alunos. Seria interessante também ver esses filmes serem exibidos em sequência nas agências de publicidade e ver no que dá.

Falamos tanto de um quanto do outro antes aqui no Brainstorm#9 e ambos estão disponíveis na Amazon (Lemonade e Art & Copy)

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie


Social Karma e a presença da marca nas redes sociais

Ontem eu fui na palestra da MaWá sobre Social Karma no Proxxima e fiquei pensando em algumas coisas. O conceito de Social Karma é interessante. Tudo o que você já fez online conta para avaliar o seu Social Karma. Não interessa muito se está na primeira ou 30ª página do Google. Algum impacto vai ter na sua marca. É algo que faz parte da sua história e que você terá de aprender a lidar com isso.

Foi bom vê-la explicar que comunidades e redes sociais já existiam antes dessas tecnologias e fazer analogias com as comunidades do mundo offline. São conceitos básicos mas que muita gente fica bitolada na tecnologia se de esquece como reagiria em uma situação offline.
Outra coisa interessante foi que ela mostrou um slide com diversos números de uma ação e mostrou que o cliente ainda não sabe se isso foi bom e tal. Não vou comentar sobre as boas maneiras de mensurar que ela apresentou mas vou focar no fato do cliente ainda não saber direito o que é um bom resultado em redes sociais ou mídias sociais.

Acho que parte do problema pode ser das agências.

Imagine uma reunião de planejamento em que estão pensando nas frentes que usarão para determinada campanha:

Vamos fazer um filme

Vamos fazer mídia nos maiores veículos

Vamos usar mídias sociais para viralizar o nosso filme

Se não considerarmos o “viralizar”, me diga onde você viu uma discrepância nos verbos das frases acima.

Pois é. Essa, no meu ponto de vista, pode ser uma das raízes dos problemas entre clientes e redes sociais. Pensar em redes sociais como algo para se usar e não para fazer parte.

É algo aparentemente pequeno. Poucas pessoas percebem mas acontece muito.

As marcas que realmente estão participando das redes sociais, gerando e mantendo diálogo com seus consumidores e seu público são as que se diferenciam.
As marcas que estão apenas fazendo spam são as que enxergam redes sociais como algo a ser usado apenas.

E como spam estou vendo ações que visam apenas falar sobre a marca/produto e pronto. E não, essa não é uma ação para manter a marca viva na mente dos consumidores. É spam mesmo. É falar de futebol numa comunidade/blog sobre telefones.

Geralmente, esse tipo de mentalidade vem associado a um pedido do cliente. Algo como preciso estar nas redes sociais e que a agência, para atender esse pedido, pega um milésimo da verba da campanha, faz spam em redes sociais e mostra para o cliente que ainda tem a mentalidade “eu falo-você escuta” e não a do “nós conversamos

Não são todas as agências que fazem isso. Não são todas as agências que pensam em usar as redes sociais. E não são todas as agências que fazem spam em comunidades.
Muitas empresas e marcas já entenderam o conceito de Social Karma mesmo não usando o termo. Muitas aprenderam da pior forma, vendo os erros do passado as atormentarem até hoje. Assuntos resolvidos sendo retomados como se nada tivesse sido feito a respeito.
E esses erros do passado podem ser desde tirar vídeos do YouTube até processar blogueiros. Ao invés de tentar conversar e chegar a um ponto comum em um momento de crise, usa-se a força para tentar resolver o assunto. E o resultado nós já sabemos que é piorar tudo.
Mas o tal do Social Karma também vem para o bem. Se o serviço prestado nas redes sociais é bem feito, relevante, entende e respeita as diferenças, a marca é privilegiada no final. O recall aumenta. A possbilidade de indicação para os amigos também. E se essa marca também aparece em ações interessantes com os formadores de opinião, isso também é bem visto. Pode ser um kit-blogueiro? Pode. Mas pode ser também algo que faça com que o blogueiro impactado se sinta realmente útil e prestando um serviço para a comunidade que acessa o seu blog. Poderia ser uma festa mas um preview do produto pode ser bem mais interessante para a marca e para o blogueiro.

Mas como já disse outras vezes, estamos em um momento de transição e é natural que tenhamos os dois modelos acontecendo simultâneamente. Tanto o de quem usa quanto o de quem participa das redes sociais.

Resta saber apenas qual o Social Karma que você quer que a sua empresa/marca tenha. No final, a escolha é sua.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie


O que podemos aprender com phishing

É até engraçado escrever isso. Várias pessoas vão pensar no trocadilho fácil que é “Ah! os publicitários já enganam as pessoas o que será que eles podem aprender com esses emails falsos que vão do Banco do Brasil à TIM e do governo de Angola à última notícia polêmica (sejam fotos de acidente de avião até vídeo “que vazou” do bola-gato que uma atriz famosa praticou num ex-namorado)?”

O que podem aprender? Exatamente esse senso de oportunidade ímpar que esses caras com uma noção moral e ética questionável fazem para pegar a sua senha do banco, email e etc. Eu explico. Antigamente, nós víamos mais peças de oportunidade na publicidade. Eu não sei explicar os motivos de não vermos mais tantas propagandas de oportunidade. Levanto algumas dúvidas, totalmente baseadas no chute, mas que eventualmente podem nos levar a algum motivo real. Aqui vão elas:

– Será que é porque a publicidade não está mais na sua época de ouro em que podia fazer quase tudo como nos anos 80?

– Será que é porque os processos internos de aprovação se tornaram mais longos e com isso perde-se o timing?

– Será que é porque os gestores de marca hoje estão mais preocupados em não errar do que arriscar e deixar a sua marca na empresa?

– Será que é porque agora que os consumidores podem se expressar em redes sociais, o medo de danificar a marca aumentou?

– Será que é porque hoje há uma noção melhor do que é a essência da marca? Ou porque hoje há menos marcas com a fama de ousadas do que antigamente?

Ou será que é porque, como diz o MrManson (em relação a internet mas que eu adapto para a propaganda) isso era coisa da época da propaganda “moleque, alegre e descompromissada”?

Pensei alguns minutos e lembrei que a Nike, volta e meia faz uma propaganda de oportunidade mas, geralmente, essa peça pode ser planejada (ex.: Ronaldo volta a fazer gol, a conquista de um campeonato, etc) claro que o tom pode ser adequado de acordo com o que houve.

O que muitas vezes acontece é que as agências várias vezes fazem um banner, um anúncio de oportunidade, geralmente em seu tempo livre e depois tenta vender para o cliente, que fica surpreso, agradece o esforço, dá uns pitacos mas até o negócio ser aprovado o timing já foi para o espaço.

Outras vezes a peça criada é realmente ousada demais, não se adequa à personalidade da marca e é barrada pelo atendimento da conta e acaba indo para portifolios e para o Desencannes. E muitas vezes nem isso segura uma boa sacada. Para o público leigo, fora do nosso mercado, não importa se foi autorizado pelo cilente e se é real ou não. Quantas vezes não recebemos spams de familiares com peças do Desencannes e que eles juram que eram propagandas proibidas em algum lugar do mundo?

Esse post é um apelo aos clientes para arriscarem um pouco mais. Nem tudo precisa ser de apenas um jeito. Aliás, nem tudo precisa ser sempre do seu jeito. Dê chance para os criativos da sua agência serem criativos.

Mesmo que você não tenha feito lembre-se que podem criar vídeos que usam a cena de A Queda -As Últimos Horas de Hitler e que já criticou todo mundo. De times de futebol ao iPad. Aliás, E o intestino? Não tem nenhuma paródia com o Hitler? É um filme tão polêmico, né? Nenhuma marca está livre dessas paródias. Será que se as marcas não se levassem tão a sério, isso poderia ser usado como uma oportunidade?

O fato é: boa propaganda, associada a um timing certo vira uma propaganda histórica. E essa parte do timing, é algo que, aparentemente, está sendo mais usada pelos profissionais de phishing do que por nós publicitários.

Claro que corro o risco de ser detonado com uma lista de anúncios de oportunidade. Mas, se eu não lembrei na hora, o recall deve ter sido baixo. Se não gerou o fator “Você viu o anúncio da _______ (marca que eu esqueci)?” nem no nosso mercado, é mais uma vez, algo que não marcou tanto. Mas a idéia é arriscar sempre porque uma hora emplaca. E aí, ninguém segura.


Qual característica um bom publicitário deve ter?

Esse ano, durante o Concurso Universitário de Jornalismo CNN, perguntamos para vários jornalistas qual característica um bom jornalista deve ter. Marcelo Tas, Heródoto Barbeiro, Tiago Dória entre outros responderam a questão no vídeo acima.
Totalmente influenciado pelos comentários do meu último post, em que várias pessoas falaram que o lado negro da publicidade é o publicitário (e seu ego), fiquei me perguntando, qual característica um bom profissional de publicidade deve ter?
Independente da área (atendimento, criação, planejamento, mídia, etc.) em que esse profissional trabalhe. Os prêmios são o único indicador? Muitos devem responder criatividade. Mas é só isso? O cara que faz o job de todo dia que não dá prêmio mas que paga as contas. Como deve ser esse cara. É um redator que não desliza no português? É um diretor de arte que aceita sugestões?
Numa profissão em que somos pagos para defender produtos que as vezes não consumimos ou acreditamos a questão fica mais difícil de ser respondida.

Se fizermos um pequeno comparativo com outras profissões que prestam serviços,geralmente são respostas simples. Um encanador bom é um cara que conserta/instala bem os canos. Um garçom bom é prestativo, atencioso, solícito e honesto.
E mesmo com as respostas dos jornalistas citando curiosidade, ética, isenção e persistência são realmente características que esperamos de um profissional. Independente da área em que ele atue no jornalismo.
Mas e nós? Que características devemos ter para sermos bons publicitários?

PS: ainda devo fazer outros posts baseados no “A publicidade tem um lado negro?

A publicidade tem um lado negro?

lado_negro

O Brainstorm #9 faz todo ano uma pesquisa sobre que agências você gostaria de trabalhar. É uma pesquisa que conta muito a imagem que as agências projetam no mercado e entre os estudantes de publicidade.
Trabalhar com publicidade é legal. É um ambiente criativo, interessante, as vezes desafiador e que dá prazer em ver um conceito seu na rua. Uma idéia que você teve no banho ser usada por marcas internacionais em campanhas é muito bom.
Ainda tem os amigos que falam:

“Ah! você trabalha em publicidade. É tudo festa, prêmios, glamour…”

É a visão que algumas pessoas de fora têm do nosso mercado e que nós ajudamos a criar e sustentar.

Mas e a parte que poucos vêem? A parte que não tem nada a ver com o mundo das festas das grandes agências, dos prêmios.
A parte rotineira da nossa profissão não vale. Fazer um texto ou um layout para um banner sem graça, um planejamento para um cliente que se acha criativo e que quer a idéia dele no plano mesmo que não vá funcionar. Isso faz parte da profissão. Geralmente não dá prêmio ou glamour mas paga as contas no fim do mês.

Acho difícil que não exista pelo menos uma história moralmente questionável em relação a fornecedores, clientes e funcionários (ou todos citados). Várias pessoas que eu conheço já passaram por maus momentos por conta dessas más-práticas que são comuns em várias agências e por isso é algo pertinente. Algumas quando eram estagiários e outras quando estavam fazendo um freela. Mas o fato é, ninguém quer falar muito a respeito por medo de ficarem marcados no mercado e não conseguirem outro emprego.

O ponto é: toda profissão tem seu lado ruim, práticas condenáveis e etc.

O que eu gostaria de saber é quais são as práticas ruins do mercado de publicidade/comunicação? Notem que estou falando do mercado e não de uma ou outra agência.

E por mercado de publicidade/comunicação entendam tudo: Agências de publicidade, de marketing direto, digitais, de engajamento, de guerrilha, de redes sociais, de branding, de design e etc.

Então me diga quais são as coisas ruins que você já viu/viveu no mercado de comunicação e publicidade? Quais foram as nossas más práticas? É a hora do mea culpa, mesmo que você tenha sido uma vítima e não o algoz. Sem corporativismo.

Enfim, não vou citar nenhum exemplo para não induzir as possíveis respostas, ok?

PS: Acho que esse vai ser o post com menos comentários ou com mais comentários anônimos da história do Brainstorm#9.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

Não somos mainstream

mainstream

Esse ano tive a oportunidade de conhecer pessoas com o seguinte perfil H/M, AB, 20-35 anos e que, curiosamente (na minha opinião), não dão tanta importância para a internet, Twitter e etc. É engraçado publicar sobre esse assunto agora, já que o Marcos também escreveu a respeito mas de um ponto de vista mais pessoal. E é algo que temos conversado bastante, como engajar pessoas que não tem um relacionamento diário com tecnologia?

Essas pessoas que conheci têm email e o acessam como nós acessamos a nossa caixa do correio no prédio. Semanalmente e pronto. Algumas dessas pessoas estão empregadas e usam o email do trabalho normalmente como todos nós embora deixem o Outlook fechado e abram de vez em quando para ver se chegou algo. Mas sem ansiedade.

Uma dessas pessoas é uma artista. Tem celular. Não tem computador. Acessa a internet ocasionalmente em Lan Houses. Usa SMS e MMS mas não tem um celular de ultima geração. Não tem Twitter. Tem MSN. Acessa o Orkut para se comunicar com seus amigos e saber como eles estão.

Por que estou citando essa experiência? Simples. Porque nós vivemos em um gueto e esquecemos disso. Achamos que todo mundo tem os nossos hábitos. Nós somos parte dos 10% do Twitter que fazem 90% do conteúdo que aparece por lá. Quer mostrar que olha para fora do nosso gueto? Assista a novela, pegue o metrô e o ônibus sem usar um fone de ouvido.

As piadas do Twitter, os memes da internet, os zemayerfacts e etc fazem parte do nosso ambiente de trabalho. Claro que isso roda muito no nosso mercado (de comunicação), reverbera também em outros canais eventualmente e isso faz com que achemos que somos parte do mainstream. Nós não somos o mainstream.
Já experimentou falar para o seu porteiro que o elevador quebrado é Fail?

Para não falarem que estou sendo preconceituoso, vou dar outro exemplo. Já experimentaram falar para o seu amigo que acessa o email semanalmente que só de pensar em um chopp já te dá ressaca feelings? Ele provavelmente vai entender o que você falou mas não o porque de você colocar o feelings no final da frase.

São exemplos que remetem a um diálogo do filme “De Volta pro Futuro” quando o Marty McFly fala que algo é “Heavy” e o Doc pergunta se no futuro há algum problema com a gravidade. É falar algo de um universo que outras pessoas não entendem a referência.

Nós vivemos de comunicação. É nossa obrigação viver nessa overdose de informação. É como nos mantemos atualizados, como sabemos o que vai comover o público e etc. E temos que fazer isso mesmo. Cada vez mais temos que nos manter atualizados.

Twitter, blogs e todas as ferramentas mobile são importantíssimas e revolucionárias, estão mudando muita coisa na nossa vida, inclusive a maneira que lidamos com a mídia. Mas é um exagero esperarmos que uma piada do Twitter vire piada nacional se ainda não foi coberta por nenhum veículo da mídia tradicional.
As vezes tenho a impressão de que algumas campanhas são feitas para movimentar o nosso mercado e não para os consumidores. E acho que muitas das vezes é porque estamos presos no nosso dia a dia e não olhamos ao redor.

No primeiro episódio de “Mad Men” (que só comecei a assistir agora. Uma vergonha, eu sei) há uma situação dessas quando o protagonista, Don Draper, tenta empurrar uma campanha de cupons para uma loja de artigos femininos “porque mulheres adoram cupons”. Ignorando o fato de existirem mulheres diferentes.

E aí chego na pergunta chave: como vamos engajar esse público se nós acabamos vivendo em um mundo paralelo? Quais são as maneiras que temos de nos aproximar dessa realidade e não tentar impor a nossa realidade?

===============
E já que falei de engajamento, você já preencheu a pesquisa mundial de engajamento da CScape? É até o dia 30/10 e você recebe o relatório quando for lançado.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

O Flight e o Engajamento

flight_vs_engajamento

Vejo tanta gente culpando a mídia, o BV, a comissão como vilões da nova publicidade que esquecemos que também podem haver outros aspectos que também podem ser co-responsáveis por alguns dos problemas que reclamam no mercado publicitário hoje.

Um deles, na minha opinião, pode ser a cultura do flight versus o da continuidade. Entenda isso como aquela mídia programada para usar a grana do cliente apenas no lançamento do produto e manter o ciclo da mídia (e talvez, da publicidade) vivo.

Não. Esse post não é uma agressão aos mídias. Mas um questionamento ao hábito do flight isolado, ok? Então vamos lá.

Se a verba do cliente é focada no lançamento do produto e há pouca ou nenhuma verba para uma sustentação por um período longo depois, o que geralmente é feito é já deixar o cliente preparado para gastar mais dinheiro no futuro para que o produto continue sendo falado pela massa, para que as vendas voltem a subir, para aumentar o recall, top of mind e por aí vai. São todas justificativas válidas e necessárias para fazer publicidade. Acho que um dos papéis da publicidade é comunicar o produto para conseguir exatamente isso. Mas precisa ser apenas desse jeito?

Talvez seja por isso que tantos clientes vêem agências de publicidade como fornecedores e não como aliados de negócios.

Uma parcela da responsabilidade vem do cliente. O cliente sempre quer fazer o máximo de barulho e ninguém pode culpá-lo por querer isso. O cliente quer ver o produto dele em lugares que ele frequenta/assiste, muitas vezes sem se importar se ele é o target. Nesse momento, eles podem estar mais preocupados em mostrar que são gerentes/diretores e etc de uma marca que está anunciando no horário nobre, em páginas duplas das revistas semanais e por aí vai. Ele quer resultado rápido, bater suas metas rapidamente e acha que concentrando todo o esforço em dois meses, vai garantir o resto do ano. As vezes dá certo. Mas isso está mais para ser a exceção do que a regra. Muitas vezes clientes pensam em fazer muito barulho por um período especifico. Sem se preocupar com o depois. Eles elevam o volume ao máximo e por vezes as pessoas ficam ate cansadas da mesma mensagem.

A outra parcela da responsabilidade é nossa, dos publicitários. De alimentar esse tipo de raciocínio e pensar em bater as nossas metas, manter a rentabilidade da agência lá em cima e a própria empregabilidade alta.

Se somarmos a cultura do flight à marcas/empresas que não querem ouvir o cliente e que acham que só elas devem falar, você já sabe o resultado. Temos diversos exemplos para citar. O ciclo continua, principalmente, por que a aderência dos flights têm durado cada vez menos nesse mundo em que 30 segundos é tempo demais para o consumidor desperdiçar.

Nós temos CRM, promoções para conseguir dados do consumidor, data mining e a única coisa que conseguimos fazer é uma comunicação unidirecional com o nome do consumidor no início da mala direta, email marketing ou até mesmo do Facebook Connect? Nós podemos fazer mais que isso, mas dá bem mais trabalho.

Ouvi tantas pessoas falando que a palavra do ano em Cannes foi Engajamento e vejo essas mesmas pessoas apresentando campanhas em que o engajamento é medido apenas pela quantidade de pessoas que mandaram um vídeo para uma promoção de conteúdo criado pelo consumidor. Será que usar isso como métrica não é um desvio? Será que não é quase a mesma coisa de contar participações em um concurso cultural de frases?

Conseguir que X pessoas se envolvam em uma ação de CGC e não tentar manter o diálogo quando termina a ação eu entendo como um desperdício sem tamanho. As pessoas já demonstraram interesse em manter um relacionamento com a marca e ao terminar o flight, a promoção etc, a empresa simplesmente passa a mensagem: “ano que vem nos falamos novamente, se eu tiver budget para te chamar”

Há tantas novas ferramentas que permitem uma aproximação melhor com as pessoas que consomem a marca e nós tratamos essas pessoas que iniciam um movimento de engajamento com a marca dessa forma? Sabemos que quando essas pessoas gostam de um produto e se sentem donas do produto costumam divulgar espontaneamente sobre seus benefícios. Mas o que muitos estão fazendo? Continuam falando sozinhos apenas no período que os interessa.

Um dos principais fatores de engajamento, na minha opinião, é a continuidade da presença. É a frequência. É a abertura ao diálogo. Se você chama um amigo para tomar um chopp (um café ou o que seja) e ele sempre tem outra coisa para fazer, uma hora você para de chamar, certo? É isso que os consumidores vem fazendo com as marcas. Tentam se relacionar e ao dar com a cara na porta, mudam a atitude e começam a não se importar mais tanto com a marca.

Mas algumas coisas nós podemos mudar. Por que não tentar manter um relacionamento com essas pessoas que compraram o seu produto, que entraram na sua promoção e que demonstram ter interesse legítimo com a sua marca? Na próxima campanha estas pessoas serão verdadeiros multiplicadores.

É óbvio que anúncio no horário nobre das principais emissoras de TV do país dá resultado. E nem estou questionando isso. Estou questionando o hábito de deixar o consumidor se sentir usado. Mais ou menos como aquele amigo que só te liga quanto está com um problema e precisa conversar. Uma hora isso cansa.

Mudar essa cultura de flights isolados pode fazer com que os picos e os vales da comunicação sejam reduzidos não por se fazer mais flights. Mas por começarmos a construir uma marca que se importa com o que as pessoas pensam sobre ela.

Estamos em um momento de transição e isso quer dizer que há alguns que se arriscam e outros não. E isso é normal. Não dá para exigir que todos tenham esse grau de envolvimento com algo que está mudando tão rápido.

Claro que podem falar que a estratégia de engajamento, diálogo contínuo se torna o novo flight. É possível. É uma questão de nomenclatura. Mas algumas já estão fazendo isso tanto no Brasil quanto fora.

Acho que ainda não encontramos um modelo ideal mas fazer o flight de lançamento e sustentar a campanha, se aproximando daqueles que se interessaram pelo que foi apresentado me parece um caminho, mas com certeza não é o único.

Gostaria de saber a opinião de vocês sobre que outros caminhos temos para uma nova cultura do flight. Uma que seja mais inclusiva e que seja boa para todas as partes envolvidas.

Que caminhos poderíamos tomar? Essa mudança não acontece de uma hora para outra e depende de todos nós, agências e clientes.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

Daytum e Life Data

Desde que conheci o audioscrobbler lá em meados de 2005, que logo se transformou em Last.FM eu passei a curtir muito ver estatísticas sobre hábitos pessoais e principalmente data visualization.

Quando comecei a ter uma noção visual sobre tudo o que eu escuto, meu gosto ganhou valor, simplesmente por conseguir comparar e me relacionar ao gosto dos outros. E isso meio que trai a máxima de que gosto não se discute.
last

Por aí vi uma série de pessoas que começaram a compilar seus gostos e hábitos, muitos através das redes sociais e alguns chutando o balde e gerando estatísticas lindas e assustadoramente completas sobre suas vidas.
feltron
Feltron annual report, quase um livro de infográficos sobre o ano do cara, vale a visita.

Há um tempo, através do próprio Feltron conheci o Daytum, que é um site que se compromete a juntar essas informações do seu dia-a-dia para você. Na época era fechado pra convidados e estava em fase de testes. Esqueci completamente dele, e hoje, assistindo a apresentação, imperdível por sinal, do Google para AdWeek (via Adivertido) vejo o Daytum por lá e descubro que ele está aberto.

daytum

O site melhorou muito do que era, e já conta com versão mobile e atualizações via twitter – escrevendo com os termos que o site orienta.

Fiquei bem curioso em testar pra conseguir esse overview das minhas atividades e hábitos.
Hoje, o twitter virou um verdadeiro histórico de hábitos coletivos, que influenciam o comportamento de toda a sua rede de relacionamentos e tudo mais. Super interessante integrar isso com sua vida real.

A conclusão? Provavelmente as pessoas sentem cada vez mais a necessidade de tornar experiências reais em conteúdo digital e compartilhável. Seja por autruismo ou aspiração social. Obviamente essa é uma análise ultra rasa e pessoal.

O que vc acha disso? Comente aí.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

E o futuro da publicidade?

MinRepTT

Engraçado. Semana passada eu li o post do Cris Dias sobre o Google (e o Twitter) como ferramenta para previsão de futuro ilustrada com uma imagem de Minority Report e me lembrei de um texto que achei online em 2002 sobre o Think Tank que o Steven Spielberg fez na pré-produção do filme e que tinha uma parte pequena sobre como eles imaginaram a publicidade no futuro.

Com certeza já houve algum post aqui no Brainstorm #9 sobre o futuro da publicidade. A cada nova tecnologia lançada, a cada novo modelo de comunicação desenvolvido, a cada buzzword aparecem novos gurus prontos para assassinar o velho e exaltar o novo. Mas na real, de que publicidade estão falando? Dá que vivemos naquele momento ou a de um futuro próximo e imaginário?

A idéia não é comentar sobre o impacto do digital na propaganda. Mas pensar em como a publicidade é exibida em filmes passados no futuro e como nós vemos a publicidade no futuro.

Nos filmes geralmente temos três cenários:

1- Tudo igual. As marcas interagem normalmente conosco sem dominar a nossa vida. Um exemplo seria “2001″.

2 – Exagero. Publicidade overload. As marcas dominam a nossa vida e invadem o nosso espaço pessoal. Exemplos seriam “Blade Runner”, “Minority Report” e diversos outros.

3 – Clean. Sem publicidade. O mundo é dominado ou por uma marca grande irmão ou por um governo hiper controlador. A comunicação é toda centralizada. “THX1138″, “Logan’s Run” entre outros.

Que as marcas continuarão interagindo conosco é fato. Mas como será essa interação? Será que a maneira que nós reagimos a essa interação é que ditará como a publicidade será no futuro?

O cenário do “Blade Runner”, embora quase seja real em vários locais do mundo, já vem sendo questionado e a lei Cidade Limpa é um indício disso, assim como o cenário Tudo limpo. As pessoas têm se cansado da publicidade exagerada. Quem está numa cidade em estado quase “Blade Runner” não nota mas qualquer pessoa que viva em São Paulo ou outras cidades com leis semelhantes se sentem agredidos ao visitarem locais em que a lei não existe.

“Minority Report” mostra a invasão das corporações na nossa vida. Você não tem escolha e continua sendo bombardeado com ofertas das lojas que passa. É o marketing direto e o CRM ao extremo.

Na transcrição das reuniões de pré-produção (abril de 1999) em que o Steven Spielberg chamou alguns futurologistas para pensarem com seria o mundo na época em que o filme se passa, a publicidade aparece assim:

Steven Spielberg: Eu quero fazer publicidade como um conceito nesse filme. “Blade Runner” é algo que nós temos que tomar cuidado ao utilizar como uma visão do futuro.

(…)

?O futuro da publicidade como foi debatido.
?
Steve Barnett: ?É um símbolo passivo. Nós vemos as novas gerações resistindo à publicidade. Você pode usar a publicidade como entretenimento. A publicidade, de alguma forma, é tentadora. Quanto mais alto você sobe na sociedade, menos publicidade você tem. No futuro, se você é parte do Nike World você é parte de uma comunidade maior.
?
Neil Gershenfeld: Privacidade e identidade tornam-se importantes. Quanta publicidade você recebe se torna algo que tem um preço.??

Kevin Kelly: Um anúncio sutil parece ser a tendência do futuro ??
(…)
??Kevin Kelly: Pense sobre vender o seu futuro. O Indivíduo tem mais coisas em jogo.

??Stewart Brand: A publicidade por ajudar Anderton (o personagem de Tom Cruise). Enquanto ele está tentando sair da cidade, os anúncios podem oferecer para ele: “Quer sair da cidade rápido?”. Nas áreas mais pobres da cidade, a publicidade é mais explícita??

Steven Spielberg: Seria bom entrar em uma loja de roupas e se ver virtualmente nas roupas.

?Jay Ogilvy: O consumidor direcionará o produtor. O mistério é o que os consumidores vão querer no futuro. ??Steven Spielberg: As pessoas ainda vão querer jornais?

??Kevin Kelly: O livro vai continuar existindo mas de uma maneira diferente. Talvez exista um jornal que tenha a sensação de papel mas que será digital.

??Steven Spielberg: Isso é factível hoje?
?
Doug Glen: No futuro, os mais pobres poderão começar a usar publicidade e se tornarem outdoors/cartazes ambulantes

Mas se alguém te perguntasse qual é o futuro da publicidade o que você responderia?
Será que em 10 anos redes sociais, mashups, crowdsourcing, realidade aumentada teriam espaço definitivo assim como a TV e jornais têm hoje (e ontem)?

Se você ficou curioso sobre esse documento, pode baixar a versão na íntegra.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

O paradoxo do “novo que já tenha histórico de bons resultados”

Há alguns dias, o Daniel Sollero avisou sobre uma apresentação que ele havia subido para o SlideShare, intitulada “The Fake Innovator’s Dilemma”. Trata-se da apresentação de um paradoxo que se encara diariamente: ao mesmo tempo que o falso inovador quer algo novo e original, ele procura uma solução segura, com um histórico de sucesso comprovável.

Vale a pena bater um pouco nesta tecla, já que muitos daqueles que querem inovar não parecem perceber quando o seu briefing pede um absurdo destes.

Afinal, o que define realizar algo novo? Seria a vontade de fazer como uma marca arrojada faz? Talvez. O problema é quando o briefing pede para fazermos exatamente o que uma marca arrojada realiza. Diferença sutil ao primeiro olhar, mas que é fácil de perceber quando a peça está na rua.

Se buscamos a novidade ou a forma de fazer da novidade um atributo da marca, não podemos oferecer como solução aquela que estão todos procurando, a não ser que efetivamente tenhamos algo de novo para contar. Se o Twitter é a bola da vez, vale a pena lançar uma conta na ferramenta apenas para constar? Se o site institucional de agência está com os dias contados, vale a pena lançar uma simulação de presença digital, com meia dúzia de fotos no Flickr, um vídeo no YouTube e um verbete apagado na Wikipedia? Só porque alguém já fez? Acho que não.

Também não parece que vale a pena ser o só o primeiro a usar determinada tecnologia. Cases como “o primeiro vídeo interativo publicitário no YouTube” ou “a primeira empresa brasileira a utilizar QR Codes” falam muito pouco se não estiverem bem amparados por uma boa idéia. Não é o caso de usar uma ferramenta nova por usar. Cairemos fatalmente no erro de apenas constar ali.

No fim das contas, a questão de inovar pode ter releituras do passado. Pode comportar até o que uma empresa mais descolada já fez por aí. Mas é o caso de ter algo novo para contar. Alguma outra faceta ainda não explorada, algum feature matador. Algo que transforme aquele esforço de comunicação em único, e não mais um numa ruidosa pilha de intervenções diárias que temos que agüentar.

Em suma, eu posso até considerar o que uma outra empresa já fez. Mas para fazer diferente, da concepção criativa às metas de sucesso, para estabelecer um diálogo ainda mais eficiente com os meus consumidores, para, enfim, fazer algo que seja pertinente.

Se eu fosse um cliente e precisasse “inovar”, talvez fosse isto o que eu pediria à minha agência. Mas enquanto eu sou agência, não custa sonhar.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

Behind The Brains: FlashForward

FlashForward

Se “Lost” se transformou em um fenômeno mundial de mídia e entretenimento, e já tem até data de aposentadoria definida, o que o mercado vai colocar em seu lugar? É óbvio que a ABC, emissora de “Lost”, já pensou nisso muito antes de decidir o fim de sua série líder de audiência. Nos mesmos moldes, estilo, grandes nomes da indústria e hype, anunciaram no final do ano passado a produção de “FlashForward”.

Você já deve ter lido diversas notícias sobre a série, que inclusive será bombada pela ABC agora na 40º Comic Con, no fim do mês. Porém, entre as dúvidas se existe algo com potencial de substituir “Lost”, vale olhar mais a fundo as mentes por trás da nova produção, que tem estréia marcada para o próximo dia 24 de setembro em horário nobre nos Estados Unidos.

“FlashForward” é inspirada pelo livro homônimo de Robert J. Sawyer, escritor canadense considerado um dos grandes nomes da ficção científica na atualidade. Publicada em 1999, a história contada por Sawyer envolve um acidente no CERN (Organização Européia para a Investigação Nuclear) com o LHC (Grande Colisor de Hádrons), que deixa toda a raça humana inconsciente durante 2 minutos e 17 segundos. Nesse período desacordadas, as pessoas tem visões de cenas em até 21 anos no futuro.

FlashForwardO ator Joseph Fiennes e Robert J. Sawyer nas gravações de FlashForward

Além dos acidentes envolvendo veículos e aviões nesses pouco mais de dois minutos de apagão, que fizeram quase 40 milhões de vítimas, o futuro passa a assombrar as pessoas, já que grande parte da humanidade previu cenas que não gostaria de ver. Nesse universo, Robert J. Sawyer discute temas como livre-arbítrio vs. destino, esperança vs. realidade, paradoxo temporal da causa e efeito, etc.

Quase todos os trabalhos do escritor tem uma missão: combinar a intimidade humana com o grandioso universo cósmico. Grandes idéias e noções misturadas com histórias pessoais, que se transformam em ficção científica com diversos níveis de abordagem. A inspiração de Sawyer veio dos três problemas fundamentais da metafísica definidos pelo filósofo alemão Immanuel Kant: “Existe vida após a morte?”, “Deus existe?” e “Nós temos livre-arbítrio?”

O autor já abordou as duas primeiras questões em seus livros anteriores “The Terminal Experiment”, de 1995, e “Calculating God”, publicado em 2000. “FlashForward” trata justamente da terceira pergunta, tentando responder através da física e de mecânicas quânticas o que é verdadeiro: destino ou vontade própria.

FlashForwardCena do piloto de FlashForward

A obra literária de Sawyer foi parar nas mãos de David S. Goyer, o roteirista hypado de “Batman Begins” e “The Dark Knight”, e do veterano Brannon Braga, que depois de fazer carreira em diversos spinoff de “Star Trek”, virou o principal roteirista da sétima temporada de “24 Horas”. Os dois são inclusive produtores executivos de “FlashForward”.

Na adaptação para TV, a história vai sofrer algumas mudanças: no livro o protagonista é um físico canadense de 47 anos, na série será o agente do FBI Mark Benford, interpretado por Joseph Fiennes. No livro, as visões do futuro mostram até 21 anos adiante, na série apenas 6 meses.

O piloto de “FlashForward”, já gravado, foi dirigido pelo próprio David S. Goyer, com roteiro de Robert J. Sawyer. De agora em diante, o escritor trabalhará como consultor da série, rediscutindo seus próprios argumentos a cada episódio. Nenhum dos livros de Robert J. Sawyer foi editado no Brasil (ainda), e atualmente ele trabalha na trilogia WWW: “Wake”, “Watch” e “Wonder”, que trata de uma inteligência tecnológica emergente existente na internet.

E “FlashForward”, será que pega? O começo parece promissor, o buzz pelo menos já está garantido, e provavelmente a pergunta “What Did You See?” deve surgir em algum ARG por aí. Abaixo você pode assistir o trailer da série:

| Fontes: Televisonary, Jawbone.TV, Robert J. Sawyer Blog

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

Behind The Brains: The Matrix

Recentemente, tenho abordado aqui no Brainstorm #9 alguns processos criativos envolvendo a produção de cinema, e a idéia é expandir isso para outras indústrias como televisão, games e música. Exemplos: “Os Criadores de Criaturas” e “As trilhas dos trailers”.

Muito mais do que discutir e mostrar aspectos técnicos, a idéia é buscar inspiração por trás da criação de obras consagradas (ou não) do entretenimento, fugindo do estrito envolvimento com marcas que sempre procurei trazer aqui pro blog. Isso partiu de curiosidades simples: “como deve ter sido o brainstorm de tal filme?”, “De onde surgiu a idéia de tal série?”, “como foi a concepção de tal projeto?”, etc.

E para continuar essa série de posts, que provisoriamente (ou não) dei o nome de Behind The Brains, escolhi abordar uma obra fundamental da história do cinema (ainda que recente), aproveitando também o seu aniversário de 10 anos, completados exatamente no dia 31 de março de 2009. É impossível falar de “The Matrix” sem parecer repetitivo, já que você que está lendo esse texto certamente assistiu e testemunhou o fenômeno de perto.

The Matrix

Porém, não custa lembrar o impacto que a criação dos irmãos Larry e Andy Wachowski causou, revolucionando todo um gênero cinematográfico e criando demanda para experiências cada vez mais fortes e maiores, além de passar a fazer parte imediatamente da cultura pop e influenciar muito do que viria a seguir. A história toda você já conhece, mas de onde isso saiu?

Os Irmãos Wachowski sempre falaram de suas influências através dos quadrinhos japoneses, do kung fu e da mistura entre filosofia oriental e ocidental. Isso tudo pode ser percebido na tela, mas o argumento principal saiu de um tratado do filósofo francês Jean Baudrillard, publicado em seu livro “Simulacra and Simulation”.

The MatrixNeo pega seu “Simulacra and Simulation” com compartimento secreto

Editado originalmente em 1985, a obra só teve sua primeira versão em inglês em 1996, ou seja, apenas três anos antes de “The Matrix” chegar aos cinemas. As idéias de Baudrillard sobre realidade, corpo, símbolos e sociedade funcionaram como essência do filme, além das várias referências pontuais em diversas cenas. Apesar disso, Baudrillard declarou, anos mais tarde, que “The Matrix” distorceu e não compreendeu seu trabalho.

Outras duas grandes referências literárias para a concepção do universo de Matrix são “Evolutionary Psychology” de Dylan Evans e Oscar Zarate, e “Out Of Control: The New Biology of Machines, Social Systems, and the Economic World” escrito por Kevin Kelly. Aliás, são esses três livros que os Wachowski exigiram que o ator Keanu Reeves conhecesse antes de ler o roteiro. Dá para incluir nessa mistura mais uma tonelada de textos, mas nunca poderia esquecer de destacar o clássico “Neuromancer” de Willian Gibson, o primeiro a abordar sistemas como forma de interação humana.

The Matrix

Com tudo isso reunido, o que se tinha eram argumentos filosóficos densos e complexos colocados em movimento através da estética dos quadrinhos e mangás, um verdadeiro mashup cyberpunk. Falando assim parece simples, mas quantas pessoas poderiam pensar que essa associação de coisas poderia virar um filme? E mais ainda, que poderia dar certo?

O próprio produtor de “The Matrix”, Joel Silver, revelou que foi quase um milagre que o filme tenha acontecido. O roteiro era complexo, poucos conseguiram entender, e seria ainda mais difícil convencer a Warner Bros. arriscar com algo tão alternativo. É então que entra outra parte essencial do projeto: os storyboards.

The MatrixStoryboards de Steve Skroce

Eles foram necessários para cumprir dois papéis: explicar visualmente o roteiro para aqueles que tinham achado complicado demais, e ajudar a vender a idéia para a Warner, afinal, dar 100 milhões de dólares na mão de dois diretores estreantes não era tarefa para qualquer um. Vale lembrar aqui que, os Irmãos Wachowsky também tiveram que fazer uma outra concessão para poder dar vida ao universo de Matrix. Dirigiram “Ligadas pelo Desejo” (Bound), um filme dramático de baixo orçamento, apenas para provar que tinham capacidade de dirigir.

Já que os storyboards foram vitais para que “The Matrix” saísse do papel, então talvez tudo fosse diferente se os Wachowsky não tivessem a ajuda de Geof Darrow. Ilustrador e designer, Darrow ficou conhecido principalmente por sua colaboração com Frank Miller na HQ “Hard Boiled”, lançada em 1990, além de ter trabalhado em visuais para o filme “TRON”.

O que Darrow fez para “The Matrix”, junto com o ilustrador Steve Skroce, foi criar verdadeiras narrativas gráficas, storyboards dramáticos em um nível de detalhe insano. Suas artes conceituais são responsáveis por muito do que o filme virou. Uma das principais cenas que demonstram seu estilo é quando Neo desperta: a máquina que praticamente o ataca é um mecanóide clássico de Darrow, feito de tubos e telas.

The Matrix
The MatrixArtes conceituais de Geof Darrow

The Matrix | Born Scene

O “renascimento” de Neo e a máquina de Geof Darrow

Essa concepção artística é inegavelmente uma das grandes marcas registradas do filme, junto com a proposta visual de retratar o mundo real em tons azuis e a simulação em verde. Além disso, os cenários recheados de malhas e grades representam a visão das máquinas, como 0 e 1.

No final das contas, “The Matrix” é um somatório de todas as suas influências, um amálgama artístico e filosófico que gerou um produto único. Porém, já era de se imaginar que o filme não passaria incólume das acusações de plágio e excesso de referência. Do animê “Ghost in the Shell” aos conceitos filosóficos milenares, dos quadrinhos “The Invisibles” aos livros cyberpunk, de “Alien – O Oitavo Passageiro” aos filmes noir clássicos, tudo virou pedra no telhado dos Wachowsky.

Uma comparação visual entre “The Matrix” e “Ghost In The Shell”

O processo criativo de “The Matrix” talvez nunca possa ser explicado ou enxergado da maneira como fazemos no dia-a-dia. Não é apenas sentar numa reunião e decidir o que fazer, também não é um insight milagroso que surge quando menos se espera, mas sim juntar o que se viu a vida inteira em uma obra distinta (Tarantino faz isso com todos os seus filmes).

Os próprios Wachowsky admitem que, nesse único filme, estão todas as idéias que já tiveram na vida. Isso ficou provado mais tarde, com as duas sequências meia-boca que prejudicaram algo que não precisava de continuação, arruinando o mistério, o tom político e dualidade.

De qualquer forma, souberam reunir conceitos e estéticas já existentes em algo que se tornou absolutamente novo, redefinindo um gênero. E certamente, com essas toneladas de referências que recebemos todos os dias, isso tudo funciona como uma lição. Se você é fã de “The Matrix”, finalizo com dois links pertinentes aos 10 anos do filme: “Animatrix: O Segundo Renascer” no Smelly Cat e o Nerdcast especial sobre a trilogia.

The Matrix | Revisited (excerpt)

Os Wachowsky, atores e produtores falam das origens de “The Matrix”

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

Os criadores de criaturas

Creatures

Imagine que alguém lhe pergunte o que você faz da vida, e a resposta em seguida seja: “sou designer de criaturas”. Parece um trabalho bem específico e hermético, certo? Não se você estiver na mira dos grandes diretores de ficção e dos maiores estúdios de cinema.

Neville Page é um desses caras, um dos mais requisitados da atualidade. Formado pela Art Center College of Design, na Califórnia, ganhou fama depois de ter criado o monstro de “Cloverfield”. Seu trabalho vai desde a arte conceitual no papel até a impressão de um modelo 3D. A biologia da Terra é que serve de inspiração para criar monstros gigantescos, com vários braços, pernas e olhos para garantir um impacto visceral na platéia.

Creatures
Creative Commons License imagem: Neville Page: Primeiros rascunhos de “Cloverfield”

Creatures

Em mais uma parceria com J.J. Abrams, Page também é o responsável pela besta que vimos no novo “Star Trek”. O briefing era: “uma criatura com a boca mais nojenta já vista”. Na Wired deste mês, Neville conta um pouco do processo de produção do alien que batizou de Big Red, contendo mais de 200 olhos pelo corpo. Foram cerca de 9 meses de trabalho no desenvolvimento da criatura e, além de “Star Trek”, poderemos conferir mais dos monstros de Page no “Avatar” de James Cameron, que estréia em dezembro.

Creatures
Creative Commons License imagem: Neville Page: Rascunho do monstro de “Star Trek”

Creatures
Creative Commons License imagem: Neville Page: Desenho final do Big Red de “Star Trek”

O sucesso de Neville Page é atual, apesar de ele não ser novo nesse meio, mas suas referências são clássicas e responsáveis por verdadeiros ícones do cinema. Uma delas é Rick Baker, uma lenda quando se fala em design de criaturas antropomórficas, da cena da cantina em “Star Wars” aos aliens de “Homens de Preto”, dos zumbis de “Thriller” de Michael Jackson aos fantasmas de “Os Espíritos” de Peter Jackson.

Baker começou seu trabalho com maquetes mecatrônicas, se especializando em animais de mentira, principalmente símios com emoções como “King Kong”, “O Planeta dos Macacos”, “O Poderoso Joe”, etc, mas não demorou para adotar os efeitos digitais. Desde seu primeiro trabalho como assistente em “O Exorcista” até hoje, Baker já ganhou 6 Oscars de Melhor Maquiagem e/ou Efeitos Especiais.

Creatures

Seu novo trabalho é transformar Benicio Del Toro em um lobisomem no filme “The Wolf Man”, que estréia em novembro desse ano. Pra ele que ganhou um de seus Oscars com “Um Lobisomem Americano em Londres”, em 1976, parece moleza. Não é toa que Baker é hoje um dos profissionais de design de produção mais respeitados da indústria do cinema.

E claro, é impossível falar de design de criaturas sem lembrar do genial H.R. Giger. A pintura “Necronom IV” do artista suiço, publicado em seu livro “Necronomicon”, foi o que fez Ridley Scott decidir como “Alien” seria. Um desenho que virou ícone, e além de suas características sombria, foi escolhido porque poderia representar ambos os sexos. Um alienígena masculino ou feminino.

Creatures

Assim como todo o trabalho de Ginger, o design de “Alien” era surrealista, biomecânico, assustador e monocromático, ideal para o que os produtores queriam. Porém, inicialmente, a Fox achou o monstro perturbador demais para o público e queria alterações. Ginger finalizou o desenho, concebendo uma criatura alienígena vagamente humana, sem olhos, e com uma espécie de armadura.

O animatronic de “Alien” foi construído com cerca de 900 peças móveis, e posteriormente digitalizado pelo especialista em efeitos digitais Carlo Rambaldi. Além de alçado a clássico do cinema, o filme rendeu o Oscar de Efeitos Especiais para Ginger em 1979, influenciando para sempre o design de terror. Ainda assim, o artista nem sempre tem o seu trabalho respeitado, penando na mão da Fox nos anos seguintes. Se quiser saber mais, recomendo o documentário “H.R. Giger’s Sanctuary”.

Creatures
Creatures

Talvez você nunca tenha imaginado que poderia ser um designer de criaturas, uma profissão tão específica mas que é vital na indústria de entretenimento. Além do cinema, as produtoras de games investem muito dinheiro e tempo para imaginar os monstros mais assustadores e nojentos possíveis.

Se lhe interessa, vale dar uma olhada no The Gnomon Workshop, um site/evento que reúne tutoriais, treinamento e entrevistas com os melhores profissionais da área, mantido pela Gnomon School, escola de efeitos visuais em Hollywood. E também conhecer outros designers de criaturas como Carlos Huante (e seu livro “Monstruo”) e Jordu Schell.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Contato | Anuncie

Susan Boyle: ITV e YouTube brigam pelo dinheiro dos anunciantes

Mais do que um fenômeno viral, a sensação do “Britain’s Got Talent”, Susan Boyle, causou uma disputa que nos mostra como os meios novos e tradicionais ainda estão longe de se entender.

A emissora britânica ITV e o YouTube tentaram um acordo publicitário, que repartiria parte do dinheiro arrecado através de anúncios nos vídeos de Susan Boyle. E não é qualquer coisa, estamos falando em cerca de 100 milhões de visualizações. Só o título de um post do Mashable resume: “Susan Boyle Video Profits: $0″

Susan Boyle Britain Talent

A ITV queria inserções antes dos vídeos, já o YouTube, como é premissa do Google, só aceita overlays e anúncios periféricos em texto. Não houve consenso, e a ITV declarou que o YouTube se aproveita desse tipo de material original para fazer dinheiro.

Mas a grande questão é: seria que Susan Boyle teria se transformando em um fenômeno senão tivesse a exposição massiva que teve na internet? Em uma era antes de YouTube, internet, sua performance teria sido conhecida pelo mundo inteiro em questão de horas?

A resposta nós sabemos, e outras grandes companhias também sabem. A Sony BMG está negociando um contrato com Susan Boyle para a gravação de um disco, estúdios de cinema já se mexem para produzir um filme, e o interesse pelo reality show da ITV só aumenta.

É claro que a ITV, assim como diversas outras corporações, deve negociar com o Google para distribuir seu conteúdo no YouTube, caso contrário, vai virar mais uma nova briga como vimos entre o site de vídeos e a Warnerou a Viacom, por exemplo, que caçam toda e qualquer menção as suas propriedades na internet. Porém, enquanto isso não se resolve, os vídeos continuam bloqueados para embed em sites e blogs.

A pergunta que fica, e que deve inclusive ser respondida por todas as empresas de mídia e produtoras de conteúdo, é: O que vale mais, o dinheiro de anúncios do Google ou a possibilidade de exposição maciça?

Twitter e as marcas: “Call Of Duty: MW2? e “Terminator Salvation”

Não era preciso ser nenhum gênio, lá pelos idos de 2006 e 2007, para saber que o Twitter tinha potencial de estourar. Acho que só o que não se esperava, é que quando acontecesse isso seria de maneira tão arrasa-quarteirão como tem sido (e não, não são válidas comparações com o morto-vivo Second Life).

Desde aquela época, já existia o interesse de marcas em aproveitar a ferramenta em campanhas ou simplesmente como meio de contato mais próximo com as pessoas. É cada vez mais comum ouvir a pergunta: “que empresas estão utilizando melhor o Twitter?”.

Existem centenas de perfis corporativos no site. Veja no Mashable uma lista com 40 grandes marcas na rede social. Alguns utilizando bem, a maioria sem saber direito ainda o que fazer, e quase nenhum podendo ser chamado de case.

Twitter Marcas Brands
Creative Commons License imagem: rikulu

O que é decisivo para usar bem a ferramenta? Estabelecer uma conversa com as pessoas? Oferecer conteúdo exclusivo? Ser um simples feed de notícias? Não existe receita do bolo, mas nas últimas semanas estão surgindo idéias que nos podem dar uma noção um pouco maior disso tudo.

Falar da rede Zappos no Twitter já ficou batido, citar as ofertas da Dell Outlet também. Mesmo quando são perfis que repetem o conteúdo do site, existem exemplos de sucesso, como a CNN, Época Negócios, BBC Brasil, Wired, etc. E claro, grade de programação da TV em tempo real com o Telecine ou o lineup em primeira mão do finado TIM Festival, são sempre usos que gosto de citar. (esses são só alguns, cite nos comentários os seus preferidos)

Mas esse post é para falar de cases um pouco maiores, e para variar, é a indústria do entretenimento que parece ditar o que vem pela frente quando se trata de aproveitar uma nova mídia.

O primeiro caso é o da Infinity Ward e seu jogo “Call Of Duty: Modern Warfare 2″, sequência de um dos grandes bestsellers da indústria dos games nos últimos anos, e que será lançado no final de 2009.

Twitter Marcas Brands
Twitter Marcas Brands

E o que eles tem a ver com isso? Simples: os produtores da Infinity Ward estão utilizando o Twitter para ouvir o que os fãs de “Call Of Duty” esperam do novo jogo. Qualquer um pode dar sugestões do que quer ver no game, utilizando a hashtag #MW2, que vão parar no site: twitter.infinityward.com. Depois disso, as pessoas votam nas idéias que consideram as melhores e que serão analisadas pelos desenvolvedores.

Simples, mas que é um uso bem mais amplo do Twitter, praticamente que dando vida ao primeiro game high-end colaborativo que se tem notícia. Se os produtores estão dando a atenção devida para essas participações, é outra história, mas a iniciativa foi lançada.

Outro case, e esse me chamou ainda mais anteção pela uso criativo da ferramenta, é o lançado essa semana pela Sony Pictures. Trata-se de um advergame, um game viral multiplayer (chame como quiser) dentro do Twitter para promover o filme “Terminator Salvation”, também conhecido como “O Exterminador do Futuro 4″.

Twitter Marcas Brands

Intitulado “Resistance 2018″, a brincadeira inclui o perfil @Resistance2018 e o site resistance2018.com. A proposta é que os usuários se unam para formam exércitos de resistência contra as máquinas, recebendo mensagem cifradas pelo Twitter, que quando resolvidas contabilizam pontos.

São três tipos diferentes de enigmas, através de trívias, palavras embaralhadas e frases incompletas. Tudo envolvido pela trama do filme, com pertinência e voltado para quem é fã da franquia.

São dois belos exemplos de uso útil e criativo do Twitter, sem que isso desmereça as iniciativas mais simples de conversação e feed de notícias, é claro. Mas acredito que pode ditar um pouco das possibilidades da ferramenta. Lembrando sempre que, não importa o tamanho do hype, para uma marca estar em qualquer rede social depende de algo simples: ter o que dizer.

KISS: Música ou Marketing?

KISS

Para alguns eles são quatro palhaços de luxo que usaram a música como desculpa para ganhar dinheiro, para outros milhares formam a maior banda de rock do mundo. Desde que eu comecei acompanhar a carreira do KISS, por volta de 1996 (apenas um moleque de 15 anos) depois de explodir a cabeça com álbum “Destroyer”, nunca encontrei pessoas no meio termo: é sempre 8 ou 80, amor ou ódio, mas com a certeza de que a banda constitui um dos maiores impactos culturais da década de 1970.

Há quem, até hoje, acuse a banda de incompetência musical camuflada pela maquiagem e pelos efeitos especiais, ou acredite que não tem credibilidade alguma por causa de tanto merchandising. Mas uma resposta de Gene Simmons a um repórter que questionou a mesma coisa diz tudo: “Credibilidade? Está louco? Nós nunca tivemos credibilidade alguma, então por que devemos nos preocupar? Quanto mais dinheiro eu ganhar, melhor. Não estamos forçando ninguém a comprar nada. Se os fãs querem, o que podemos fazer senão satisfazer seus desejos?”.

Se você ainda não sabe o que esse post tem a ver com esse blog (além do autor ser um fanboy), ainda não deve ter parado para pensar no KISS como uma marca. Nada aconteceu por acaso. Desde que começaram compondo e ensaiando em um apartamento minúsculo e imundo em Manhattan, Gene Simmons e Paul Stanley já planejavam criar um fenômeno musical, proporcionando ao público não só música e sim um espetáculo sonoro e visual completo.

KISS
Creative Commons License foto: Denis O’Regan

Baseados em simples mas excelentes estratégias de marketing, alcançaram níveis de popularidade que muita banda séria jamais sonhou. Já começando pela criação de personagens, adicionando storytelling, como um grupo de super-heróis de diferentes personalidades. Maquiados e fantasiados de “The Starchild” (Paul Stanley), “The Demon” (Gene Simmons), “Space Ace” (Ace Frehley) e “The Catman” (Peter Criss). Como bem já disse J.J. Abrams: mistério vende, e assim mantiveram suas identidades “secretas” por mais de uma década.

Nos primeiros shows, ganhando 35 dólares por noite, o KISS era motivo de risos, piadas e deboches por grande parte do público, mas chamaram atenção de muita gente não só pela estética, mas porque já nesse início pareciam ter grande sucesso. Bobagem, eram ainda apenas pé-rapados.

Para passar a imagem de que eram uma banda famosa, contrataram o popular grupo Brats para abrir um show e mandaram convites para imprensa em nome do KISS. Como se já não bastasse, mesmo endividados até o último fio de cabelo, alugaram uma limousine para chegar ao local da apresentação em grande estilo.

Toda essa jogada de marketing não foi em vão. Dezenas de jornalistas e produtores de gravadoras compareceram ao show movidos pela curiosidade de ver quem eram aqueles ilustres desconhecidos que haviam contratado os famosos Brats para uma apresentação.

“Lotamos toda a primeira fila com camisetas feitas em casa, que continham o logotipo da banda. Então, quando as pessoas entravam no clube e viam vários fãs vestidos com camisetas da banda, pensavam: – Esta banda deve ser importante”, revelou Gene Simmons sobre o primeiro grande show do KISS anos mais tarde. Alguém falou em marketing de guerrilha?

KISS
Creative Commons License foto: Denis O’Regan

Foi depois desse episódio que conseguiram um contrato com Neil Bogart, presidente da recém-inaugurada Casablanca Records, até então. O sucesso foi inevitável e o dinheiro começava a aparecer, mesmo assim a banda ainda adotava truques curiosos para economizar e impressionar o público. Entre outras manobras, eles amontoavam caixotes de madeira vazios com uma frente falsa no formato de amplificadores, construindo assim uma suposta parede gigantesca de amplificadores.

Tendo em vista que cada amplificador Marshall utilizado no palco custava na época o equivalente à US$ 600, a mídia se perguntava: “Como era possível que uma banda desconhecida possuísse tamanho equipamento?”.

O KISS é uma banda com slogan. A partir da turnê de “Hotter Than Hell”, uma mensagem acompanha todos os shows. Sempre ao início de cada apresentação, um mestre de cerimônias berra a seguinte frase: “You Wanted the Best and You Got the Best. The Hottest Band in the World, KISS!”. Esta repetição constante da mensagem tornou-se emblemática na carreira da banda, um slogan que marca, definitivamente, o conceito KISS de ser um super-grupo.

KISS
Creative Commons License foto: Denis O’Regan

Nesta fase, surge o empresário Bill Aucoin, renomado profissional que passa a controlar os negócios do KISS. Começam a associar a imagem da banda em quase tudo, o que fazia que ficassem cada vez mais populares e arrecadassem mais dinheiro. Podia-se encontrar centenas de produtos com a marca do KISS, incluindo posters, lancheiras, fotos, radinhos de pilha, revistas, máquinas de fliperama, bottons, adesivos, carrinhos de brinquedo, jogos, quebra-cabeças, chaveiros, fósforos, gargantilhas, moedas comemorativas e cartões postais.

Ainda na década de 1970, funda-se o KISS Army, exército de fanáticos em todo o mundo que é comandado pela própria banda. O KISS Army responsabiliza-se, como um fã clube mundial, pela promoção e divulgação da banda, produzindo fanzines e comercializando diversos materiais relacionados ao grupo. Existe ainda uma curiosa lenda em torno do KISS Army, onde dizem que o fã-clube possui uma gigantesca fortuna que será distribuída como herança aos fãs após a morte de seus ídolos.

KISS

Como se isso não bastasse, em 1978 o KISS realizou uma parceria com a Marvel Comics em mais estratégia de marketing. Lançaram uma revista em quadrinhos da banda, transformando Ace, Paul, Gene e Peter em super-heróis, tendo como base Capitão América, Super Homem e Homem Aranha. O detalhe é que as primeiras trezentas cópias da HQ continham sangue dos próprios músicos misturado com a tinta utilizada na impressão (você viu a Adidas fazer o mesmo há dois anos). No dia da retirada do sangue de cada integrante num laboratório americano, a imprensa acompanhou tudo de perto. Segundo declarações da banda, seria uma forma de “dar nosso sangue pelos fãs”.

Tudo isso transformou o KISS em uma banda com adoradores, e não apenas com fãs. A turnê mundial era monstruosa, com mais de 50 pessoas na equipe, 16 toneladas de equipamento pessoal, 24 toneladas de som, 17 toneladas de luz, 18 toneladas de cenário. Com o som e a iluminação eram gastos um milhão de dólares e só o custo do cenário estava avaliado em cerca de um milhão e cem mil dólares. Eram necessárias 24 horas de trabalho intenso para montar toda a estrutura do show. Tudo ficava pré-estabelecido nos contratos, desde a dimensão do local escolhido para a apresentação até caracterizações detalhadas sobre os camarins. E de escasso, o dinheiro passou a ser farto, nessa época a banda também já possuía seu próprio avião, chamado “Of Course”. Desde 1975 até 1980, o Kiss já havia percorrido cerca de três milhões de quilômetros.

Começaram a acontecer por todo o mundo as chamadas KISS Conventions, uma espécie de congresso em que os fãs trocavam informações, fotos, revistas, camisetas, etc. Nesses eventos, era possível conhecer desde sósias dos integrantes até roupas originais utilizadas nos shows. Ao final de cada evento, a banda realizava um show acústico em que os fãs determinavam o repertório. Além disso, o KISS concedia uma coletiva em que os repórteres eram o próprio público.

Quando a banda se perdeu sonoramente na metade da década de 1980 e com a popularidade em queda, resolveram aparecer em público pela primeira vez sem maquiagem, dizendo que estavam cansados de seus personagens. Mais uma tentativa de chamar atenção da mídia e do público. No retorno da formação original, em 1996, o impacto também foi grande: convocaram uma misteriosa coletiva de imprensa e, sem ninguém esperar, apareceram maquiados e fantasiados novamente.

KISS

O primeiro show dessa reunião teve os ingressos esgotados em 45 minutos, e em 1998 lançaram a turnê do disco “Psycho Circus”. Era o primeiro show 3D em tempo real da história da música. Na porta do estádio eram distribuídos óculos especiais para o público visualizar os efeitos em terceira dimensão. Além disso, explosões, fumaça, efeitos de luz e som, números cospe-fogo e cospe-sangue, 10 minutos de fogos de artifícios no encerramento. Uma produção nada modesta: foram desembolsados 10 milhões de dólares para que fosse realizada tal monstruosidade visual e sonora. Resultado: Foi a turnê mas lucrativa nos EUA na década de 1990, no ranking da revista Forbes.

O KISS nunca foi elogiado pela crítica, provavelmente nunca vai ter uns de seus discos em uma lista séria de “melhores de todos os tempos” (apesar de eu achar que deveria ter pelo menos uns três), e sempre vão ser considerados palhaços de luxo por muitos, mas ainda assim deixaram uma marca indelével na história do rock e do show business. Pergunte para Pink Floyd, Stones e U2 em quem eles se inspiraram para produzir seus mega-shows, ou aos cariocas o que foi aquele 1983 no Maracanã.

Amanhã, depois de 10 anos, vou novamente ver a banda ao vivo e a cores, e contaremos em quantas explodidas de cabeça se faz um show de rock. Provavelmente, a última vez que os brasileiros poderão conferir isso tudo de perto. Com ou sem marketing, truques de palco e fogos de artifício, ouvir KISS ainda continua sendo uma das coisas mais divertidas de se fazer.

E para responder a pergunta do título deste post, vale citar mais uma vez Gene Simmons, um dos maiores publicitários de nosso tempo. Quando perguntado pelo apresentador britânico Tony Wilson, em 1976, sobre o que era mais importante para a banda, se a música ou todo o circo de marketing, o baixista respondeu: “o público”.

PS: O vídeo abaixo foi gravado anteontem, é a abertura do show no Chile. Só para dar uma idéia aos que não conhecem. Se quiser saber mais, escrevi uma biografia da banda, também há quase 10 anos, para o Whiplash!.




EUA também estuda regulamentação de publicidade em blogs e mídias sociais

Depois do Reino Unido, é a vez dos Estados Unidos estudarem a criação de uma regulamentação de publicidade em blogs e redes sociais. Como não podia ser diferente, a decisão já começa envolta em polêmica.

Por conta da nova realidade, a Federal Trade Commission (FTC) está revisando uma série de diretrizes pela primeira vez desde 1980. O objetivo é tentar controlar declarações e inserções a respeito de marcas e de produtos feitas por anunciantes e por usuários. A vigilância se estende também para blogueiros, que poderão ser penalizados e responder a processos pelos seus textos publicados.

Assim como no novo Código de Proteção ao Consumidor britânico, o alvo principal do FTC são as práticas de marketing online, como custos escondidos em “ofertas grátis”, resenhas positivas plantadas em sites, criação de blogs falsos (para campanhas publicitárias como se escritos por usuários comuns), e comentário editorial sem a indicação de ter sido pago por um anunciante: o polêmico post pago.


Creative Commons License foto: MMC

As recomendações do orgão americano também citam companhias distribuindo amostras grátis de seu produto a blogueiros e internautas que, em contrapartida, postam informações na internet criticando ou aprovando o produto.

A American Association of Advertising Agencies rapidamente declarou que considera uma atitude prematura essa tentativa de regulamentar blogs e novas mídias, já que a própria maneira de se trabalhar com esses meios ainda não foi plenamente estruturada.

Mais do que isso, é preciso lembrar da tenue separação entre regulamentação e censura. Tentei, mas ainda não consegui encontrar uma boa justificativa para proibir empresas de enviarem seus produtos para serem testados por blogueiros, twitteiros e afins.

Nesses momentos, faltam aos blogs aprenderem algumas das lições já ensinadas pelas mídias tradicionais há anos, de saber tratar conteúdo e publicidade de maneiras que sejam claras para o leitor. Obviamente, não dá para exigir da grande maioria dos blogs, feitos por pessoas (e não corporações), que sejam profissionais com o assédio de agências e marcas.

O que se espera é bom senso, pois não dá para colocar ações de relacionamento com blogs na mesma panela das resenhas positivas falsas e informações enganosas. Como disse a AAAA, a regulamentação tem que partir primeiro de agências e anunciantes, com ética e transparência vindo de quem cria e coloca em prática as estratégias de mídias sociais, bem antes de se falar em punições e processos.

Vale dizer ainda que, de acordo com a Word of Mouth Marketing Association, os investimento nos Estados Unidos com mídia de relacionamento (tanto a propaganda boca-a-boca como a divulgação de informações pela internet, via blog, Twitter, Orkut e demais redes sociais) atingiram o montante de US$ 1,35 bilhão em 2007, com previsão de aumento para US$ 3,7 bilhões até 2011.

| Via Meio & Mensagem e Financial Times

Telefonica patrocina Twitter de Marcelo Tas em campanha para Xtreme

Com a popularização do Twitter, que cresceu 1382% em apenas um ano (segundo dados da Nielsen Online), uma discussão começa a ganhar os holofotes além daquela velha pergunta de “como o Twitter vai se tornar rentável?”. Ou melhor, não é uma nova discussão, e sim a mesma que temos acompanhado em torno dos blogs a respeito de posts pagos, presentinhos, convites e o assédio de marcas.

Até hoje parecia apenas mais um #mimimi, como chamamos os chororôs generalizados no Twitter, só que o Wall Street Journal publicou uma matéria sobre o acordo do apresentador Marcelo Tas com a Telefonica, que farão uma campanha publicitária através da ferramenta de micro-blogging.

Tas foi contratado pela empresa espanhola para ser o porta-voz do Xtreme, serviço de internet e TV por fibra-óptica. Um dos aspectos da campanha é que Tas deverá mencionar o produto da Telefonica pelo menos 20 vezes por mês em seu perfil no Twitter, o mais popular do Brasil com quase 19 mil seguidores.

Tas Telefonica Xtreme Twitter

A iniciativa foi criada pela iThink, que escolheu o Twitter e outras ferramentas online para atingir um público bem segmentado, já que o serviço da Telefonica estará disponível apenas para 370 mil domicílios no país.

Na semana passada, quando participei de um encontro promovido pela Telefonica para apresentar o Xtreme, com a presença do próprio Marcelo Tas, já imaginei a polêmica que os tais tweets patrocinados poderiam causar. A matéria do WSJ deflagrou uma grande discussão no próprio Twitter sobre a validade desse tipo de ação, muito similar aquilo que vimos quando “uma grande marca de refrigerantes” resolveu mandar geladeirinhas (que não eram USB) para diversos blogueiros. Acompanhe pela tag #twitterdealuguel.

Tas Telefonica Xtreme Twitter

Não dá para dizer muito sem saber como a campanha se desenrolará no Twitter, qual o tipo de conteúdo que será enviado por Marcelo Tas. Ele mesmo comentou há pouco: “Para os ejaculadores precoces que quiserem unfollow, suerte e byebye…”.

O que eu posso imaginar é que parece existir uma paranóia atualmente, medo de propaganda, como se ela já não estivesse presente de forma indelével na nossa vida cotidiana. Ninguém reclama de celebridades como garotos-propaganda em comerciais de TV ou em anúncios de revista, só o que muda agora é o formato.

Sempre defendemos por aí o uso de novas mídias e maneiras diferentes e engajadoras de se comunicar com os consumidores, portanto, vale a experiência, a aposta em uma ferramenta nova, desde que o conteúdo seja inteligente.

É esperar pra ver. Mas enquanto isso, e você, o que acha?