Aprenda copywriting com moradores de rua

De todas as formas de expressão, talvez a mais complicada seja a escrita. Isso porque nem sempre o que o autor escreve é o que o leitor entende. É a tal da interpretação de texto. Me lembro que, na época da escola, ouvi uma entrevista com um escritor bastante citado em vestibulares, que foi desafiado a responder algumas questões sobre sua obra em uma destas provas. Coisas do tipo “o que o autor quis dizer com…”. Errou todas. Parece absurdo, mas não é: ele sabia o que queria dizer com suas palavras, mas alguém interpretou aquilo de maneira diferente e pronto, virou verdade universal – pelo menos para responder as tais questões.

Quando se trabalha escrevendo textos, corre-se o risco constante de ser mal-interpretado. Porque, apesar de você, autor, entender o que está dizendo/escrevendo, o que o leitor vai entender depende de inúmeras variáveis – referências, experiências, maturidade, crenças e por aí vai. E tem também a urgência, característica marcante dessa nossa época. Todo mundo precisa saber de tudo antes, o mais rápido possível, mesmo que superficialmente, e emitir uma opinião – ainda que equivocada.

Tudo isso torna a vida de qualquer produtor de conteúdo escrito complicada, mas tem mais: como é que hoje, com tantas opções, um redator consegue chamar a atenção do público para sua mensagem? No caso dos redatores publicitários, as dicas reunidas pelo Tumblr Hello You Creatives podem ser bem úteis. A partir dos cartazes que moradores de rua usam para pedir dinheiro, é possível aprender um pouco sobre copywriting com quem depende disso para sobreviver. Literalmente.

As orientações incluem ser honesto, usar a imaginação, ser direto e até mesmo engraçado. Bom, ainda bem que este não é um texto publicitário.

Ah, e se você pensa que nada disso funciona, talvez você não se lembre de Ted Williams, um morador de rua que se tornou hit no YouTube depois de chamar a atenção com um cartaz que aguçava a curiosidade das pessoas sobre seu “dom divino”. Hoje, ele continua trabalhando como locutor da Kraft, saiu das ruas e, apesar das recaídas, tem conseguido levar uma vida digna.

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E não é que o mundo está virando uma grande pegadinha do Mallandro?

Estes dias andei me deparando com uma série de ações na internet. Confesso que fiquei um pouco preocupado com o teor das coisas que andei vendo. Na ordem cronológica, a primeira que apareceu foi a o “Stress Test” da Nivea.

Funciona mais ou menos assim. Voce está ali, tranquilo num aeroporto, esperando seu vôo quando de repente você descobre que está sendo procurado pela polícia. Jornais estampam seu rosto. O sistema de som dá a sua descrição. A TV fala que você é um tipo perigoso e que ninguém deve se aproximar. Você se pergunta: o que foi que eu fiz? Por que tudo isso astá acontecendo comigo? A resposta vem numa maleta nas mãos do segurança:

“Estressada? Novo desodorante Nivea Anti -Stress”

Videocase aceita tudo. Felizmente, para aquele fiapo de mim que ainda acredita na humanidade, vi muitos comentários negativos para a tal ação. Ufa. Então veio a seguinte. “The Candidate” da Heineken.

De forma resumida, o que acontece é o seguinte: primeiro você anda pelo escritório inteiro de mãos dadas com um desconhecido. Depois seu entrevistador finge ter um enfarte na sua frente. No meio do seu pânico ele levanta a cabeça e pergunta “se estivessemos falando de dinheiro, quanto você ia querer ganhar?”

Será que vale tudo para chamar a atenção?

Só faltava o cara ser o Ivo Holanda. Pra terminar, os caras simulam um incêndio, evacuam o escritório e você tem que ajudar os bombeiros a segurar um cara que pula do prédio. No videocase ficou bacana. Quase todo mundo elogiou.

A Heineken é mesmo foda. Mas… e se você fosse o mané da entrevista? Não o que ganhou o emprego, mas qualquer um dos outros manés? Talvez seja coisa minha. Excesso de ranzinzice, sei lá. Mas fico imaginando, será que vale tudo mesmo para chamar a atenção? Existe algum tipo de limite?

Pra terminar, vi esta ação acima do Weather Channel para vender um aplicativo que fala a hora exata que vai começar e parar de chover.

Sensacional. Eu baixaria fácil. Agora, como vamos mostrar isso? Simples. Instalando uma máquina de chuva no ponto de ônibus e dando um banho nos desavisados que estão ali, distraídos esperando sua condução.

Sei não. Por esta pequena amostragem, parece que o mundo está virando uma grande pegadinha do Mallandro. E não, isso não é nada engraçado.

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Instagram, música e direitos autorais

De tempos em tempos, a discussão em torno da propriedade intelectual na internet se intensifica, como aconteceu esta semana em função das novas regras do Instagram. Se na segunda-feira a rede social dizia que poderia utilizar comercialmente as imagens ali publicadas, sem notificar, creditar ou pagar seus autores, após pressão popular e uma debandada geral o discurso já evoluiu para um “fomos mal interpretados”. E se você está presente em alguma rede social, provavelmente leu alguma variação da frase “Baixa MP3 mas quer os direitos autorais das fotos no Instagram”.

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Pronto, agora chegamos onde eu queria: música.

Se você é da era pré-internet, como eu, deve se lembrar do tempo que levava para se conseguir o novo disco da banda que você curtia. Isso quando era lançado no Brasil. A MTV, apesar de diminuir um pouco as distâncias, também deixava a gente ainda mais atiçado por alguns artistas que eram considerados comercialmente inviáveis no país. Para os artistas, também era complicado: conseguir um contrato com uma gravadora poderia ser o fator determinante para se fazer sucesso ou ser condenado ao eterno anonimato. Só que no final dos anos 1990, as coisas começaram a mudar graças à popularização da internet e, junto com ela, a criação dos programas de compartilhamento de música, como o Napster.

A partir daí, ter um contrato com uma grande gravadora já não parecia tão importante. Isso era bom para artistas independentes, que poderiam divulgar sua música sem precisar do apoio de um grande selo, mas era ruim para as gravadoras e seus artistas consagrados, que começaram a perder dinheiro por conta da pirataria. Afinal, quem iria comprar discos?

napster

Essa nova era trouxe também uma busca constante por modelos de negócio que beneficiassem (e satisfizessem) artistas, gravadoras e consumidores.

Steve Jobs era um grande fã de música, mas foi a possibilidade de usar a abrangência do mercado musical para vender hardware o principal motivo por trás da criação da iTunes Store em 2003. O grande sucesso deste empreendimento foi uma consequência, já que a música puxou o hardware, que puxou a música, criando uma espécie de looping infinito. Com isso, o consumidor não precisava mais comprar um disco inteiro, apenas as músicas que quisesse. Gravadoras e artistas receberiam por isso e pronto: novas lojas e serviços seguindo esta mesma linha começaram a aparecer, como o MySpace, OiRdio, eMusic, Spotify e Amazon, para citar algumas.

É claro que tudo isso acabou gerando novas questões a serem resolvidas. Artistas e selos independentes são cada vez mais comuns. É o caso de músicos de renome como Chitãozinho & Xororó, Emicida, Gabriel O Pensador e Erasmo Carlos, para citar alguns. Só que para quem está começando, ou não tem ligação alguma com gravadoras grandes ou pequenas, surge o primeiro obstáculo: as lojas online não aceitam cadastros diretos de artistas, o que tornam necessários os serviços de distribuição digital, ou agregadores, como a ONErpm e o Tunecore.

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A questão é: que vantagem Maria leva em se livrar das gravadoras, mas utilizar um serviço de distribuição? A resposta está na divisão da receita gerada pelo trabalho dos artistas. Na época das majors, artistas recebiam algo em torno de 9 a 12% dos royalties de vendas, sem discussão. Para piorar, grande parte dos compositores não tinha nenhum controle sobre sua obra, salvo aqueles que conseguiam incluir isso em contrato. Os Beatles, por exemplo, enfrentaram diversos problemas neste sentido. E, acredite, eles também tiveram dificuldades ao entrar no mercado americano, já que as editoras musicais costumam fazer acordos territoriais. Ou seja: o que vale em um país não vale no outro.

Uma distribuidora, então, atua como uma facilitadora para que os músicos possam se inserir em diferentes mercados, seguindo as regras de cada um deles, sem precisar ter uma gravadora. Em resumo, aquela relação major-artista se inverte completamente. “Aqui os artistas ficam com 85% da receita gerada por sua música, em um acordo 100% não-exclusivo, que os deixam ter completo controle sobre sua obra – o que significa escolher onde, quando, como e por quanto ela será comercializada”, foi o que me disse Emmanuel Zunz, CEO da ONErpm.

Pois agora nos aproximamos da esquina do Instagram com o YouTube, ambos serviços gratuitos que hospedam conteúdo gerado/criado pelos usuários (e também músicos, fotógrafos, artistas). A quem pertence esse conteúdo? Ao serviço que o hospeda e que de certa forma possibilitou os meios e ferramentas para sua criação e circulação ou ao usuário que o gerou? E mais: quem pode ganhar dinheiro com essas fotos, músicas, textos? Talvez a reposta correta seja: os dois.

Temos exemplos disso. A ONErpm anunciou esta semana uma parceria com o YouTube e Grooveshark para dividir as receitas entre os serviços e os criadores. No caso específico do YouTube, a distribuidora passará a enviar todo seu acervo de áudio para que o serviço de vídeo faça a identificação automática do conteúdo que circula no site, seja ele gerado pelo próprio artista ou pelos usuários (tipo o cara que faz aquele videozinho no PowerPoint e usa o som do Bad Brains na trilha sonora). Com isso, os artistas serão informados da utilização de sua obra e aí poderão decidir o que fazer: retirar o conteúdo do ar ou permitir a utilização gratuita ou paga. Isso fará com que os músicos recebam sua parte dos royalties de sincronização musical gerados pelos anúncios que circulam no YouTube. Igualzinho ao que o Instagram está propondo, só que não.

instagram

A discussão em torno da propriedade intelectual – seja ela na forma de fotos, música ou qualquer outro tipo de conteúdo – está longe de acabar. Uma vez que você cria algo e compartilha na internet, é difícil manter o rastro sem ajuda e infelizmente a gente acaba se sujeitando às consequências. O mais importante é manter a discussão acesa, buscando soluções que beneficiem tanto quem cria quanto quem consome conteúdo, e não esperar a água bater na bunda para pensar a respeito, usando dois pesos e duas medidas.

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Meus primeiros passos no novo MySpace

Depois do teaser do novo MySpace, os primeiros convites começaram a chegar nos últimos dias a alguns usuários perdidos que pediram um perfilzinho na rede social. Entre eles, eu.

Apesar de ter noção de que tudo está ainda em início de desenvolvimento, que o novo projeto é muito melhor do que o antigo MySpace – que era praticamente um case de usabilidade, só que não – e que “new is always better”, minha primeira impressão é: não sei, não…

Apenas impressão, mesmo. Fico com a sensação de que o tempo do MySpace passou. Sua proposta musical, no passado, era fascinante. Mas enquanto a pirataria é uma realidade muito mais amigável ao usuário que consome música digital, outras redes sociais possibilitaram uma interação até mais verdadeira entre artistas e fãs. Nada como poder xingar muito o seu artista favorito no Twitter ou curtir/compartilhar qualquer besteira que ele (ou sua agência de mídia social) poste.

Podemos até acreditar na volta daquele que já foi o Facebook de ontem. Eu particularmente aposto nestes serviços diversos para o consumo de música como Spotify, Rdio, Pandora e até o enigmático e não-lançado MegaBox, os competidores naturais. É um caminho longo para a indústria da música brigar com as mesmas armas que os piratas aperfeiçoaram por tanto tempo, mas pelo menos ela já começou a trilhá-lo.

E também vejo valores no que o MySpace está colocando no ar: a busca é incrível, por exemplo. Basta sair digitando o nome de uma banda, uma música, uma pessoa. Sem cliques.

Nem mesmo o Justin Timberlake disponibilizou todos os seus discos por lá.

Em relação ao pequeno acervo, um ponto fraco. Se o foco é música, a rede tinha que impressionar um pouco mais com o catálogo, já que não é mais a pioneira.

Tudo bem, nenhum outro serviço possui legalmente músicas dos Beatles além do iTunes. Mas achá-los em snacks de 30 segundos ou ter uma ou duas músicas do At the Drive-In a mais que o Rdio não vai fazer ninguém abandonar os concorrentes já mencionados. Nem mesmo Justin Timberlake, o porta-voz da nova era do MySpace, já disponibilizou todos os seus discos por lá.

Mídia social não é ferramenta, e sim o que a gente faz com ela.

Finalmente, a rede social ainda tem pouca gente, o que não permite que esta análise seja muito mais do que uma primeira impressão. Supondo que o MySpace chegue aos números do passado, quando foi a primeira rede social a bater a marca dos 100 milhões de usuários, poderemos observar alguns movimentos propostos pela comunidade. Afinal, mídia social não é ferramenta, e sim o que gente como eu e você faz com ela.

Até lá, você pode fazer como esta gente bonita aí embaixo: conectar-se (é o follow de lá) a mim e compartilhar umas canções bonitas.

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África pela Noruega: Radi-Aid

Lembra-se de todas as campanhas pela salvação dos problemas africanos como o famoso USA for Africa, o Live Aid e as coisas mais recentes como Kony 2012?

O Fundo de Financiamento para Estudantes Internacionais da Noruega (ou SAIH) também considera tais iniciativas nobres, mas se pergunta: é apenas isso o que sabemos sobre a África? Um continente pobre, castigado pelo colonialismo até o século XX e pelas guerras civis desde então, onde as pessoas morrem de AIDS quando não passam fome? Será que a mídia global não se esquece de evidenciar boas iniciativas de desenvolvimento de diversos países, incluindo a castigada região sub-saariana?

Como crítica a este tipo de meia-verdade, eles bolaram uma campanha de ajuda… à Noruega, este país conhecido pelo seu alto índice de desenvolvimento humano, mas que sofre com algo que “mata tanto quanto a fome”: o frio. Assim, os alegres africanos que moram em países tropicais, abençoados por Deus e bonitos por natureza podem ajudar a causa doando os seus aquecedores elétricos para os tristes noruegueses. Nasceu assim o Radi-Aid.

Imagine se toda pessoa na África visse o filme “África pela Noruega” e esta fosse a primeira informação sobre o país que eles tivessem. O que eles pensariam sobre a Noruega?

O vídeo é bem-humorado, com direito a todo o tipo de estereótipo de campanhas pela África. A chamada para a ação é “Coletando aquecedores, embarcando-os para a Noruega, espalhando calor e sorrisos. Diga sim ao Radi-Aid” e o discurso inclui frases como “se ninguém ignora pessoas passando fome, por que ignorar pessoas passando frio?”. No site, você pode obter mais informações e conhecer outras iniciativas semelhantes, como a mobilização africana de ajuda à Suécia.

AfricaforNorway

Será que a mídia global não se esquece de evidenciar boas iniciativas de desenvolvimento de diversos países?

Não há como discordar que a África tem severos problemas e que a ajuda é bem-vinda. Mas concordo com a postura norueguesa: também quero conhecer as coisas boas e reais que se desenvolvem no continente que não sejam apenas bebidas exóticas e safáris. Quero que as escolas e a mídia também nos informem sobre isso. Ou por acaso alguém aqui gosta de explicar a algum gringo desavisado que não vivemos numa selva tropical pulando de cipó em cipó, jogando futebol e sambando nas horas vagas? Diga sim também ao Radi-Aid.

Afinal, se for para ajudar de verdade, argumentam os próprios africanos, que tal discutir um plano de desenvolvimento do continente a longo prazo, com melhores condições de juros, o perdão ou o refinanciamento da dívida externa e a vinda de investimentos diretos?

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Africa transforma seleção de estágio em circo

A Africa aprontou em seu novo processo seletivo de estágio (de um mês) para estudantes. Tudo o que ela pede é que os candidatos mostrem seu “talento” (não, nada de peças fantasmas: vale dançar, cantar, sapatear, pagar um mico e garantir a risada de alguns publicitários) em 30 segundos para um júri que contará também com Anderson Silva, comediantes do Pânico na TV e até o saudoso Décio Piccinini.

Está lá no Facebook deles, bem como todos os comentários criticando a iniciativa. Este post é mais um.

Por que eu sinceramente aconselharia a você, jovem estudante que gostaria de estagiar na Africa, que ignore este processo bastante esdrúxulo?

Não acho que você precisa ser contratado só porque foi o moleque “gente-boa” que fez a Sabrina Sato rir.

Não tenho tantos anos de vida, é verdade, mas já faz algum tempo desde o meu primeiro estágio. Como a maioria dos estudantes que resolvem cursar Publicidade e Propaganda, eu também queria uma vaguinha no departamento de Criação das mais inspiradoras agências do mercado.

Para isso, passei por diversos processos seletivos. Claro, ouvi mais “não” do que “sim”, realizei trabalhos pouco glamurosos (sites de empresas pequenas, principalmente), até que um dia uma agência me deu uma oportunidade. Em toda a trajetória, não houve um minuto de desrespeito a mim ou ao meu trabalho, por mais amador que a maioria dos trabalhos parecesse.

A partir de então, tudo foi rápido, por maior que seja o clichê. Um dia, eu já estava selecionando estagiários e, por mais engraçado que alguns currículos e portifólios fossem, não poderia desrespeitar um jovem que também doou parte de seu tempo se inscrevendo em uma vaga. Feedbacks foram dados quando possível e alguns foram contratados.

Eu também sei que um dia já tive uma pasta horrorosa e umas ideias ruins que eu pensava serem geniais. E não acho que virei o melhor publicitário do mundo. Mas respeito o meu valor, fui muito respeitado enquanto estive no mercado e respeitei também o valor de diversos profissionais.

Faço aqui um sincero apelo: respeitem-se e ignorem processos seletivos como este.

O que quero dizer ao estudante hoje é: se você se esforçar, tiver boas histórias, bom repertório, boas idéias, ou mesmo bons projetos pessoais, sua hora de estagiar vai chegar. Pode não ser na agência dos seus sonhos, mas você vai aprender um pouco por onde passar, se tiver humildade e respeito suficientes, e vai deixar a sua marca, se souber valorizar o seu trabalho.

Se este Brainstorm9 é realmente bastante lido por estudantes de publicidade do Brasil, eu faço um sincero apelo: respeitem-se e ignorem processos seletivos como este. Não acho que você precisa ser contratado só porque foi o moleque “gente-boa” que fez a Sabrina Sato rir. Todos os dias, há vagas de estágio brotando neste mercado. Você pode começar a sua trajetória de uma maneira melhor.

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Reclamões de verdade votam

Enquanto o Brasil acabou de sair do processo eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores, os Estados Unidos está prestes a escolher seu próximo presidente. Ao contrário do Brasil, onde o voto é obrigatório, nos EUA as pessoas escolhem não apenas em quem querem votar, mas se querem votar. É aí que entra o Real Complainers Vote, que se define como um esforço apartidário para garantir que todos os norte-americanos votem antes de reclamar.

“Nós não nos importamos em quem ou pelo que você vota, nós apenas queremos que você vote. Ou não reclame.”, diz o site do Real Complainers Vote.

O que chamou a atenção nesta campanha foi a honestidade dela ao dizer: você pode reclamar, mas antes você tem de assumir a responsabilidade e fazer a sua escolha. Nas últimas semanas, todos nós ouvimos e lemos muitas reclamações por aí. Aliás, com as redes sociais, reclamar se tornou um hábito, mas poucas destas reclamações sobrevivem para se tornar ações práticas. Talvez a gente precise de uma campanha assim por aqui, mas trocando a palavra votar por fazer: reclamões de verdade fazem algo a respeito. E isso é para quase tudo.

Reclamões de verdade votam, cobram, fazem. E, no caso da política, não devem se esquecer quem são os patrões de verdade.

A campanha do Real Complainers Vote leva a assinatura da Third Street.



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Dark Social e a importância do conteúdo compartilhável

Recentemente eu me deparei com um texto sobre Dark Social. O termo, embora seja novo, é algo que muita gente desconfiava (e via) que acontecia mas ninguém havia parado para analisar direito.

Dark Social, nada mais é que todos os referrals que são derivados de um comportamento social mas que não necessariamente vêm do Twitter, Facebook ou Google Plus (mas esse só eu e Cris Dias usamos). São aqueles links compartilhados por emails, Instant Messages, listas de discussão e etc.

Segundo o artigo, o que acontece é: se descartarmos os referrals que vem sites de social media e que hoje são responsáveis por boa parte do tráfego dos sites, começamos a ver que vem muito tráfego de outras fontes que somadas acabam sendo maior que o tráfego vindo do facebook e adjacências e que sua origem também é de compartilhamento.

A grande sacada, na minha opinião, foi que o pessoal da Chartbeat, a empresa que ajudou Alexis Madrigal na obtenção dos dados que não fossem apenas do seu site, simplesmente dividiu esses referrals que não tem uma origem definida em dois grupos:

– Os que vão direto para a homepage de um site ou para uma categoria determinada
– Os que vão para a página de um artigo que geralmente tem uma URL grande demais para ser digitada.

Além de fazer total sentido, o que eu mais gostei foi que essa mudança na leitura dos dados tem muito de comportamento humano. Realmente, ninguém vai ditar uma URL podendo mandar apenas um link por qualquer meio (email, IM, celular, etc) mas aí fiquei pensando, e as URLs encurtadas, como elas são tratadas? Segundo o pessoal da Chartbeat, URLs encurtadas não são tratadas como fonte mas sim o o destino delas é o que conta. Mas aí eu fiquei com a pulga atrás da orelha. Muitas URLs encurtadas podem ser ditadas para outras pessoas e, embora isso não seja comum, já vi acontecer. Poderia distorcer um pouco do resultado mas não muito. Isso na verdade apenas mostra e confirma que existe também uma cauda longa nos acessos a sites.

Mas a parte mais legal disso tudo é a importância do conteúdo. Ele tem que ser compartilhável. Porque sendo compartilhável, ele é a força que vai mover as pessoas a envia-lo para os seus amigos. Não adianta ser um conteúdo mais do mesmo. Ele tem que ser diferente, tem que envolver e comover as pessoas. Tem que fazer com que as pessoas se mexam. Tem que fazer com que as pessoas queiram ganhar alguns pontos com seus amigos mostrando algo novo com o famoso “Viu isso?” ou “Vi esse texto e lembrei de você”. É isso que vai fazer com que ele se espalhe com mais facilidade. É isso que temos que entender sempre. Por mais que seu site esteja otimizado para as redes sociais, quem manda ainda é o conteúdo e você saber o que faz com que a sua comunidade se movimente.

Eu juntei uma série de posts do Henry Jenkins sobre conteúdo compartilhável (Spreadable Media no original) em um ebook para quem quiser se aprofundar no assunto. Tem versão para Kindle e iPad.

E realmente recomendo a leitura dos textos sobre Dark Social no The Atlantic e no Buzzfeed para complementar e ter mais pontos de vista sobre o tema. Ambos são em inglês.

Mas na minha opinião, embora essa nova classificação seja interessante e útil, o que realmente vale lembrar é que conteúdo é importante, porra!

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Procuram-se curiosos

Uma coisa que tenho notado muito ultimamente é a ausência da curiosidade nas pessoas. Quando falo de curiosidade é muito mais uma questão de estilo de vida do que procurar alguma coisa num FAQ. Sinto falta de ver pessoas questionando as coisas. E nem quero dizer que isso é algo apenas para nós publicitários. É para todo mundo. Se você é curioso, você vai perguntar o porque das coisas serem assim. Vai questionar o status quo. Vai perguntar “E se…?” e vai procurar outras respostas. É saber que mesmo que isso não resolva o seu problema imediato, isso pode ser uma referência que pode ser cruzada no futuro e resolver algum outro problema. Essa falta de curiosidade pode aparecer de várias maneiras independente da idade, cargo, ou função:

Quando se trabalha com relatórios qualquer e não se pergunta porque aconteceu um determinado desvio, quando vê algo que funciona ok e não tenta pensar em alguma maneira de muda-la e por aí vai. Quando simplesmente aceita-se que as coisas são assim e pronto.

Segundo o dicionário Houaiss, curiosidade é
2 desejo intenso de ver, ouvir, conhecer, experimentar alguma coisa ger. nova, original, pouco conhecida ou da qual nada se conhece
2.1 vontade de aprender, saber, pesquisar (assunto, conhecimento, saber); interesse intelectual
2.2 interesse, procura de coisas originais, insólitas etc.

Ou seja, o curioso é uma pessoa inconformada com o que lhe é apresentado. Ele sempre quer experimentar coisas novas. Teoricamente, curiosidade é o sobrenome do meio de todos os publicitários mas o que notei é que muitas vezes o que está acontecendo é um aprisionamento nos formatos e linguagens existentes. É ficar preso ao “Curta e Compartilha” porque “dá certo” em termos de números por mais que seja algo que muitas vezes nada tem a ver com a marca. É mais fácil repetir o que já existe do que procurar coisas diferentes. Claro, existem situações em que não dá para mudar muita coisa mesmo, tem outras que o cliente não topa. Mas há muitas vezes em que nem se tenta mudar nada. Alguns vão culpar a rotina do trabalho, o cansaço de ver idéias serem vetadas porque o cliente não entendeu ou porque não quis. Mas acho que quem não é curioso para pelo menos pensar se é viável

O Douglas Rushkoff falava nos seus primeiros livros, cheios de idealismo do início da internet, que as outras gerações iriam mudar o mundo porque elas se comportariam de outra forma e iriam aproveitar muito todas as possibilidades da internet para fazer coisas incríveis. O que aconteceu na verdade, e ele notou mais tarde, foi que a maioria dos jovens vê a internet apenas como mais um canal para falar com amigos e se distrair enquanto a vida passa. Acaba sendo quase como mais um canal de mídia passiva.

Essa falta da vontade de saber como as coisas e as pessoas funcionam me incomoda. As pessoas não querem assumir riscos. É uma postura quase de um hacker de tentar procurar maneiras de desafiar o status quo. Não estou falando que todos devem fazer coisas ilegais. Apenas acho que temos que procurar hackear o mundo. Nosso objetivo deve ser otimizar o trabalho e não apenas reduzir o trabalho. Reduzir trabalho hoje acaba sendo repetir formatos sem questioná-los.

Se você parar para pensar, vai notar que tudo relacionado ao movimento Open Source e Crowdsourcing é focado no que os curiosos podem conseguir para a humanidade. Em Crowdsourcing, tem aquele exemplo clássico de um chefe de logística solucionar um problema de química porque esse é um assunto que ele tem interesse e é curioso.
No caso do open source é um pouco mais meritocrático mas é interessante também: Você é tão bom quanto o seu código. Se o seu código continua em algum programa open source (que muita gente mexe) é por que você fez ele muito bem.

No Braincast sobre Insights uma coisa que foi pouco abordada na minha opinião é o lance de ter muitas referências e cruza-las quando tem um insight. E esse tipo de associação acontece mais quando se tem mais referências, quando se buscou mais assuntos, quando a pessoa foi mais curiosa.

Por isso que o discurso/manifesto “Stay Hungry,stay foolish” do Steve Jobs faz tanto sentido assim como o “Here’s to the crazy ones…”. O alvo deles são as pessoas insatisfeitas com alguma coisa e que vão correr atrás para muda-las. Pode ser uma coisa boba ou super complexa mas motivação e curiosidade são os principais motores dessa mudança.

É o caso do garoto que começa a jogar no computador e ele gosta muito do jogo. Primeiro ele tenta ganhar jogando na boa, depois ele arruma cheats para jogar e ganhar o jogo, depois ele começa a criar mapas e fases para o jogo e no final ele acaba fazendo seus próprios jogos. Claro que movido pela paixão pelo jogo e pela curiosidade de saber como funciona. Não é todo mundo que tem esse perfil de se aprofundar tanto em um assunto mas as vezes é melhor saber um pouco mais das coisas para ter mais informações. Infelizmente o que tenho visto é que nem nas coisas que as pessoas curtem elas tem procurado mais informações.

Em um mundo em que tudo está tão sob demanda que acabamos não procurando saber mais de algumas coisas. A impressão que tenho é que hoje em dia não é a curiosidade que matou o gato. O que matou o gato foi o tédio de ficar só olhando a vida passar.

Como diria o Timothy Leary numa citação que também aparece numa música do Tool”

Think for yourself, Question authority

Só de fazer isso, você já está bem mais perto do perfil do curioso. Por que ao questionar algo, você vai buscar alternativas e ao fazer isso, você vai buscar referências e tentar ver se isso que pensou é viável. E esse já é o comportamento de uma pessoa curiosa. Mesmo que dê tudo errado, aquele conhecimento já está com você e poderá ser usado em algum outro momento. Seja para verificar tudo de novo ou como referência.

Mesmo que esse texto tenha extrapolado um pouco a definição básica do curioso, acho que a curiosidade acaba sendo o primeiro passo para a mudança. Se somarmos curiosidade com determinação muita coisa pode mudar. E isso já é bem mais do que temos hoje.

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Battle Born: The Killers sem colhões

Battle Born tem tudo para fã de Killers nenhum botar defeito: os refrões grandiosos já pensados nas multidões que vão berrá-los nos estádios, as letras aventureiras de Brandon Flowers, os hits certeiros que com certeza vão pipocar nas rádios pelos próximos dois anos e a produção impecável que deixa tudo límpido, cristalino e tremendo nos fones de ouvido e nas caixas de som.

Quanto às músicas, a maioria delas é ótima, e trazem tatuadas em seu DNA o típico som do Killers. Mas por incrível que pareça, este é o grande problema do disco.

Por ser exatamente o que as pessoas esperam, Battle Born soa como a repetição de uma fórmula.

Parece que alguém inventou um aplicativo chamado The Killers Song Generator e deu OK.

As músicas são novas, mas parece que você já ouviu todas elas antes.

Claro que são boas, eles ainda são os Killers. A grande questão é que eles parecem ter ficado tão preocupados em impressionar na produção apoteótica que se esqueceram de dar atenção às próprias músicas. Por causa disso, o disco é um grande mais do mesmo.

Justiça seja feita, isso não significa que seja ruim. Ao contrário, é longe disso. Runaways foi a escolha perfeita para o primeiro single. Flesh and Bone é a introdução que vai arrebatar as multidões no início de cada show da nova turnê e The Rising Tide tem aquela característica super legal de ir melhorando a cada nova audição.

Por outro lado, coisas como The Way It Was são intragáveis. É tão brega, mas tão brega que se fosse cantada em português poderia fazer parte do repertório do Luan Santana.

Aí a gente pensa que essa é a mesma banda que fez Read My Mind, dois discos atrás. Fica difícil não sentir um pouquinho de decepção. Aquilo sim era uma balada de respeito, e o Killers sempre foi muito bom em impressionar com esse tipo de coisa.

É uma banda que acostumou os fãs a esperar novidades e ousadias de um álbum para o outro. O salto de Hot Fuss para Sam’s Town é gigante, e de Sam’s Town para Day & Age também. Independentemente de qual dos três é o seu preferido, é inegável que eles todos têm pegada, ousadia e trouxeram novidades em relação ao anterior. E é isso que falta em Battle Born.

O disco é bom? Claro que é. “Mais do mesmo” de uma coisa boa não tem como virar uma coisa ruim. Mas faltou punch, nada faz seu coração bater mais forte.

E, em se tratando de Killers, isso era o mínimo a se esperar.



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Teve uma ideia? Problema seu!


Creative Commons License foto: Stéfan

As pessoas têm uma noção fantasiosa da verdadeira natureza das ideias. Graças a essa noção, diariamente sonhos morrem e vidas se perdem. Este texto é a minha tentativa desesperada em ajudar aspirantes a escritores, desenhistas e artistas em geral. Poderia ser resumido à próxima frase, mas embora eu ache que só atrapalhe, vou tentar decupar um pouco seu conteúdo nos parágrafos seguintes. Se você não tiver 5 minutos para ler todo o resto, memorize somente isso:

Uma ideia é um problema disfarçado de solução.

Muitos artistas acham que, imediatamente ao ter uma ideia, o mundo lhes deve algo

Se você teve uma ideia para um quadro, um livro, uma série de TV ou uma empresa de internet, você está entrando num mundo de problemas. Acredite, eu já tive todos. E assim como a maioria das pessoas, eu também já senti o entusiasmo contagiante que uma nova ideia traz, aquela vontade de sair falando, de mostrar pra mãe, arrastar meio mundo, registrar domínio, fazer um novo cartão de visita e jogar tudo para o alto. E já senti aquela mesma energia se esvair de mim como uma ressaca, esperando a euforia da próxima ideia, muitas vezes com uma certa depressão.

Não cabem adjetivos numa ideia, simplesmente por não existir ideia boa ou ruim. Ter uma ideia é como fazer a matrícula numa academia. É algo totalmente isento de valor.

Não há glória, não há vitória, não há NADA enquanto não houver execução, frequência e disciplina empregados diariamente.

Quando você se matricula, pode até pedir que alguém te acompanhe durante os treinos. Mas o ato de ir – e continuar frequentando – é algo que só você pode fazer.

Seguindo este mesmo raciocínio, a ideia de “copiar” uma ideia se torna paradoxal. Ideias de como de fazer um carro, um blend de café, um romance, estão aí pelo ar. São livres, gratuitas, não é proibido fazer nada disso. Então por que tão pouca gente faz, e menos gente ainda o faz direito? Porque, na minha opinião, as pessoas têm uma certa tendência a se focar nas coisas erradas. Perdem tempo demais tentando copiar algo insípido e de valor quase zero que é uma ideia, e esquecem-se totalmente do grande quebra-cabeças que é a execução.

E é nisso que a maioria dos artistas que conheço pecam. Eles acham que, imediatamente ao ter uma ideia, o mundo lhes deve algo. E pior: tentam transferir para outras pessoas o ônus da ideia. Não é assim que funciona. Se você teve a ideia para um livro, ela só será de algum valor quando você tiver terminado de escrever. Não culpe a editora por não “acreditar em você”.

Nem eu, que escrevi isso tudo só pra te ajudar, acredito até ter o seu manuscrito pronto. Se você teve uma ideia para uma história em quadrinhos, olha, boa sorte, viu. Dá um trabalho danado, saiba ou não você desenhar. Uma ideia para um filme? Ai, ai, ai. Em tempo, lendas sobre gente que teve uma ideia mirabolante de uma empresa de internet e ficou milionária da noite para o dia são tão reais quanto a noção que este texto tenta desmistificar.

Livre-se dessas fantasias. Arranje um problema. E vá criar algo incrível.

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O Neymarketing veio pra ficar?

Você pode até tentar, mas parece quase impossível fugir do neymarketing: Essa onda inevitável que afoga mais e mais as idéias e o bom gosto num dos terrenos mais bem explorados nas últimas décadas no país. A comunicação.

Faça um teste: Ligue a televisão em casa e conte quantas vezes o atacante santista aparece vendendo algum produto ou serviço. E não pensem que é exagero meu. Só em julho deste ano foram mais de mil inserções com o camisa 11. Volume estrondoso, bancado por seis diferentes anunciantes.

Se imaginarmos que são filmes de 15” (um chute baixo, já que os anunciantes pagam uma fortuna pra ter o craque e o aproveitam ao máximo em produções maiores), são horas e mais horas veiculando um único garoto-propaganda em rede nacional.

Mas as agências não são bobas. E muito menos os anunciantes. O fato é que o neymarketing está aí por uma simples razão: Vende.

E (queira você ou não) um badge como este representa a massa como nunca representou. Não há o que discutir. Em tempos de “eu quero tchu eu quero tcha” o Neymar é (vai ser duro escrever isso, mas vamos lá)… o “nosso” melhor.

Percebem?

Não se trata de criticar agências, anunciantes ou mesmo o próprio jogador. Até porque não é “O NEYMAR” (ele é só o ícone mais evidente dessa maré). Trata-se, sim, de refletirmos (como comunicadores) sobre o tamanho da nossa responsabilidade nisso. Afinal, sabemos que a publicidade tem papel importantíssimo como (parte do) molde cultural da sociedade. E provavelmente a degradação do critério e a putrefação do gene criativo são sintomas decorrentes do monstro que nós mesmos ajudamos a criar lá atrás, promovendo uma publicidade burra como melhor (e mais fácil) opção para bater metas.

E isso amplia ainda mais esse problema. Pois a questão não é se “o Neymar está vendendo muito”, mas sim “o que aconteceu para chegarmos a este nível?”, onde os referenciais estão tão distorcidos e a comunicação (que precisa atingir resultados) é obrigada a abrir mão de boas idéias e ótimos personagens (com conteúdo) para envelopar tudo no “tche tche rere tche tche”.

Portanto, mais do que neymarizar a comunicação, é neymarizar nosso talento mais importante: A capacidade de raciocinar, avaliar e seder espaço para aquilo que realmente merece ser ouvido. Cresci assistindo comerciais com artistas, esportistas e celebridades que realmente formavam opiniões (como o Ayrton Senna, por exemplo). E claro, haviam os fúteis também: Mas esses não eram a maioria.

Fazer algo inteligente de forma simples (o que é extremamente difícil) era um padrão no passado. Mas a impressão que tenho hoje é que basta fazer algo ligeiramente idiota, usando as conexões de um bom empresário, mais um excelente investimento em marketing, e pronto. Você é a nova sensação da mídia / do país / da comunicação.

Ronaldinho Gaúcho ontem. Neymar hoje. E sabe-se lá o que amanhã.

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O novo logotipo do Senac e a responsabilidade do ensino universitário

Qual é o papel de uma universidade na sociedade? Cultivar o saber humano? Formar profissionais capacitados ao trabalho e à pesquisa? Qual é o tamanho dessa responsabilidade? Qual é o impacto do ensino que elas fornecem à seus alunos?

Essas questões são sempre nebulosas ao analisarmos o sistema de educação no Brasil. A “particularização” do ensino nas últimas décadas e o abandono total do governo às escolas públicas fizeram do nosso sistema educacional uma grande corrida por dinheiro. A maioria das instituições não está preocupada com o aprendizado, de fato.

E o que isso tem a ver com o novo logotipo do Senac?

O Senac Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – é uma instituição tradicional, criada em 1946, que fornecia cursos profissionalizantes e a partir de 2004, com aprovação do Ministério da Educação, fornece também cursos universitários. Um dos cursos mais procurados é o de Design Gráfico.

Esta semana eu vi o novo logotipo do Senac sendo criticado nas redes sociais. Desculpe Senac, desculpe à agência que o criou, mas é impossível defender esse logotipo. Eu não consigo imaginar como uma universidade que oferece um curso de design pode ter um logotipo tão fraco como esse. Tipografia pobre, ícone sem nenhuma personalidade e estilo totalmente trivial, sempre acompanhados de um discurso “inovador” como as palavras do diretor geral Sidney Cunha:

“A logomarca traz um avião de papel estilizado, formado pela junção de triângulos que, como uma seta, aponta em direção ao novo, ao futuro. A educação profissional é o veículo dessa transformação de vidas, possibilitando a ascensão pessoal e profissional dos brasileiros, que acompanham a trajetória de sucesso econômico e social do país.”

Logomarca? Não senhor, é logotipo! Logomarca não existe.
Até a wikipedia já sabe disso.


A minha intenção nesse post não é simplesmente falar mal dessa nova identidade, porque isso qualquer pessoa com bom gosto pode fazer. Há outros pontos a se levantar aqui. Questiono o tamanho da responsabilidade do Senac sobre seus alunos dos cursos de design ao assumir um logotipo desse e publicar oficialmente em seu site o termo “logomarca” diversas vezes. Tudo isso faz parte do aprendizado que uma universidade pode oferecer a seus alunos.

Quão confiante é um dentista que não escova os dentes?

Quão confiante é um dentista que não escova os dentes? Ou um médico que fuma e bebe, mas pede para seus pacientes terem uma vida mais saudável? E olha que isso tem de monte! Seria o “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” ou o “em casa de ferreiro o espeto é de pau”?

A credibilidade está em jogo. E infelizmente esses logotipos banais que você vê por aí são apenas o puro reflexo da qualidade do ensino de design no nosso país. Infelizmente. E infelizmente.

 

Obs.: quero deixar claro que isso não é de forma alguma uma crítica ao curso de design e a qualidade de ensino em geral do Senac. É apenas uma crítica sobre a responsabilidade do departamento de marketing comprar um logotipo desse, com tamanha visualização e importância que ele tem no Brasil. Também reitero que acho um absurdo uma instituição de ensino que leciona design usar a palavra “logomarca” em suas divulgações oficiais.

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Facebook: Não curti, não cliquei. [Parte 1]

27 de junho, 21:57 – Uma noite tranquila de quarta-feira. Estava eu procrastinando calma e alternadamente afazeres domésticos e profissionais, chutando latas web afora, quando subitamente (ping!) uma velha amiga pipoca no chat do Facebook.?

Distraído, olhei e não entendi imediatamente, até olhar de perto o printscreen que ela havia me enviado.

E então seguiu-se o curso normal de qualquer conversa contemporânea digital entre duas pessoas abismadas com um absurdo em comum.

?

Um dos únicos e principais jeitos dessa bagaça gerar lucro é totalmente fundado em mentira e enganação.

Daí, ao imediatamente espalhar o ocorrido pelos meus amigos(as) de Twitter e da timeline do próprio canalha virtual, fazendo coloquialmente o devido uso de palavras de baixo calão como tão dignamente nos convém no legítimo exercício de nossa indignação imediata diante de situações tão disparatadas, apareceram outros(as) camaradas que, estranhando o fato em si, prontamente começaram a me enviar printscreens de suas timelines com essas minhas aparições fantasmas. Fui recebendo, documentando, postando as imagens e expondo o caso lá no próprio salafrário digital.

Pelo resto da noite e dia seguinte, o assunto se estendeu em diversas conversas online, telefônicas e analógicas, levantando tanto pontos de coesão e raciocínios coerentes quanto graves distensões que até então conhecia, mas não havia exatamente me dado conta de como essas proposições nefastas estão disseminadas e enraizadas como senso comum entre usuários ditos web-thinking-savvy.

Então, além dos absurdos moral, ético e legal que o caso esfrega publicamente na fuça de qualquer criatura pensante, foram certas ideias preocupantes que me levaram a estas letras. Foram questões distorcidas que brotaram tanto em grupos de discussão de publicitários e de analistas de social-mídia onde meus posts acabaram replicados, quanto levantadas por alguns amigos(as) e conhecidos de forma assustadoramente natural, como se fossem a base de uma lógica perversa, universal e irrefutável:

O usuário é o novo mordomo, a culpa é sempre dele.

Não, a culpa não é nem sempre e, nesse caso, nem nunca do usuário.

Ironicamente, o único motivo dessa venda/exposição/golpe de uma curtida não-curtida-nem-clicada ter iniciado toda essa sequência de fatos e raciocínios foi justamente algo que a tal velhacaria internética explana de bocarra marketeira cheia como sendo a sua principal razão conceitual e prática de existir: a ligação entre as pessoas.

Ou seja, a Clara só me chamou porque me conhece bem, e estranhou a divulgação de uma pretensa ação cometida por mim (curtir uma fanpage de marca de cerveja) em termos que ela sabe que NUNCA poderia ter acontecido justamente porque ela me conhece bem. Assim como vários amigos próximos, Clara tem familiaridade com três características minhas básicas (não necessariamente nessa ordem):

1. Não sou hacker ou ultra-tech-sabichão, mas além de fazer parte da geração que literalmente cresceu com e utilizando a rede mundial de computadores, sou curioso, chato, bem informado (descobri que mais até que um monte de gente que ganha dinheiro com essa rede) e obsessivo em relação a tudo que clico, copio, salvo, leio, favorito, habilito, rodo, e/ou instalo, seja off ou online. Resumindo, não sou retardado pra clicar coisas sem saber o que são, ou como diz meu sócio não saio “clicando doida” por aí;

2. Sempre achei, acho, e sempre vou achar estúpido curtir páginas de corporações, e nunca, em nenhuma hipótese, curtiria página de empresa, banco, marca, produto e muito menos, é claro, de bebida;

3. Não bebo absolutamente nada alcoólico, de espécie alguma e em nenhuma circunstância, desde abril de 1997.

E ainda assim, a despeito de tudo isso, lá vinha/vem eu aparecendo assim, exposto como garoto propaganda involuntário nas timelines de várias das algumas centenas de amigos que tenho no estelionatário digital.

E lá estou novamente, minha imagem sendo apropriada à revelia para fazer propaganda de algo que eu jamais endossaria.

?

E obviamente nesses nossos tempos modernos, não poderiam deixar de me expor de forma dolosa também em plataforma mobile.

?

São minha cara e pessoa enfiadas publicamente no golpe que é justamente aproveitar-se das nossas relações interpessoais e vínculos afetivos.

Usando nosso nome, nossa imagem e nossa vida de forma fraudulenta para vender produtos que não endossamos, curtimos ou com os quais não tivemos qualquer relação, para nossos amigos, familiares e amigos e familiares destes.

Os números apresentados para as agências e para os clientes não batem uma vez que, se não todos, no mínimo uma grande parte é artificialmente produzida.

E a partir dessa exposição é que começaram a aparecer os argumentos de lógica perversa que eu e alguns amigos(as) ouvimos, lemos e retrucamos assustados pela quantidade e por nosso desconhecimento do grau de institucionalização deles no senso comum: “É-assim-mesmo-você-clicou-sem-ver-foi-algum-aplicativo-que-você-instalou-você-sabia-disso-quando-entrou-no-facebook-você-aceitou-isso-estava-nos-disclaimers-é-isso-mermo-não-tem-conversa-calaboca-e-aceita-aí”. São discursos repetidos roboticamente em vozes monocórdicas, sem absoluto conhecimento de causa ou informação legal, e assim refutados:

– Não, não é assim mesmo não;

– Não, não assinei nem aceitei nada, nem termo de responsabilidade, nem aplicativo, nem porra nenhuma que possa envolver e expor meu nome e imagem à revelia, privada ou publicamente, afirmando e propagandeando que fiz coisas que não fiz;

– E sim, no planejamento dessas ações escusas é contabilizado e esperado o ovelhismo plácido dos usuários e social-medias-experts-desavisados em repetir discursos sem nenhum embasamento além de telefone-sem-fio e senso comum convenientes a estas ações, em um fenômeno de papagaismo discursal gerado por falta de conhecimento, interesse e/ou noção.

Um adendo lindo em sua perversidade quase perfeita ao absurdo do Facebook envolver de má fé seus usuários em suas ações escusas de publicidade: a criação da figura da autoridade corporativa, da entidade site-rede-social infalível e inquestionável que é enfiada no imaginário do usuário, tanto do desinteressado casual quanto, mais insidiosa e quase que sarcasticamente, dos antenados social-mídia-analistas-gurus-publicitários-digitais-e-congêneres que creem que são os únicos que se interessam e dominam o assunto dos modi operandi, funções e condições de uso (constantemente mutáveis a cada cagada corporativa).

Planta-se no senso comum da turba leiga e da “especializada” a estúpida e primária crença de que todo usuário rigorosa e desavisadamente clica em todos os links que lhe aparecem pela frente, que instalam tudo que é aplicativo que lhes é oferecido e que a responsabilidade de todo e qualquer backlash é única e exclusiva do pobre sem noção. A própria corporação gera uma mentalidade em seus consumidores que age total e apenas a favor dela mesma. Beira algo que poderíamos batizar de uma ação de engenharia social psicológica perfeita.

É claro que esse fenômeno de inversão de responsabilidades não é exclusivo nem de rede social nem do mundo virtual, e repete-se em diversas situações nas esferas de relação público x privado, mas nesse caso do Facebook a coisa fica explicitamente mais patética quando abre-se o olho e percebe-se que essa falcatrua é um dos alicerces de um dos poucos, possíveis e desesperados fiascos de modelos de geração de renda dessa rede social capenga, em clara estagnação e com visível perspectiva de curva descendente. Ou seja, um dos únicos e principais jeitos dessa bagaça gerar lucro é totalmente fundado em mentira e enganação.

Diante dessa permanente bruma de tem-sempre-alguma-coisa-errada-vindo-aí que cerca essa rede social não é à toa que a bolsa reagiu tão mal a abertura de capital desse troço.

A coisa toda no fim das contas é braba de ruim e de má fé. Na esfera empresarial é como meu amigo Marcelo Macedo muito engenhosamente levantou a questão de lógica sobre os números fantasmas de marketing gerados por essas ações falsas e a falta de noção dos social-media-experts envolvidos:

“Já compartilhei e amigos já compartilharam. Aproveitei e avisei aos amigos que fazem estratégia digital. Isso fode com qualquer número que eles apresentam. – E a tremenda bola fora é que o teu perfil de não consumidor fez eles gastarem algum $ – por menor que tenha sido – em um público alvo que não vai nem consumir a cerveja nem tão pouco influenciar os amigos, afinal eles sabem que você não bebe nem nunca endossaria algo do tipo. É o anti-marketing. Tremenda bola fora.”

No final das contas, não há contas. Os números apresentados para as agências e para os clientes não batem uma vez que, se não todos, no mínimo uma grande parte é artificialmente produzida. Debatendo com minha querida dona joaninha, Lú Freitas, profissional de web de primeira hora, de visão límpida e analiticamente casca-grossa de da grande rede, vimos que todo o blábláblá sobre monetização, marketing digital e campanhas publicitárias nas mídias sociais cai como uma fileira de dominós.

Tão vendendo o recheio de queijo, mas o pastel é de vento.

Se elevarmos um pouco mais o queixo e estendermos a visão um pouco além, a picaretagem não fica só na seara do Facebook. A empresa Stella Artois e todas as outras que participam desse serviço também tem responsabilidade nessa história. Uma empresa que contrata um serviço desses é no mínimo conivente, mesmo a despeito do mote de inocência-desconhecimento-de-caso que sem dúvida alegarão em sua defesa. Se usam um serviço desse, a obrigação legal, moral e ética mínima é saberem onde estão metendo sua marca e produto e assumirem todas as responsabilidades decorrentes.

E por fim, na esfera do indivíduo, a questão não é se eu assinei ou aceitei participar de promoções nas letras miúdas dos disclaimers da vida, mas sim o simples, direto e incontestável fato de estarem afirmando e divulgando fraudulentamente que fiz algo que não fiz: eu não cliquei, eu não curti.

——

PS: Esse artigo é assim mesmo, do jeito que estou me sentindo como indivíduo, com sangue vermelho correndo nas veias, diante desse abuso: adjetivado, adverbial, beirando o baixo calão, coloquial e hiperbólico.

PS.2: Só pra desanuviar, caso ainda haja algum argumenteiro dessas distorções de clicou-em-app-sem-saber-etc, se alguém achar alguma coisa aqui que seja o causador dessa parada e que eu tenta clicado desavisadamente, eu peço desculpas nos mesmos moldes da irritação-reclamação que postei e ainda pago pro(a) achador(a) um jantar japonês no melhor restaurante de sua cidade. Detalhe: vários desses como “Aplicativos e Jogos”, “Feed de jogos” e “Gerenciador de anúncios” são categorias default, não tendo como deletar e não tendo absolutamente nada instalado ou diretamente ativo dentro delas.

PS.3: E agora, depois que “deu no New York Times” a turba de sem-noção-cheio-de-certezas-web-noobies parou de falar abobrinha e passou a, pelo menos por hora, entender que corporação é corporação e que, além da culpa não ser do usuário, nem todo usuário é abobalhado, gado e cego como os eles: “Gizmodo – No Facebook, às vezes aparecem posts que nenhum amigo seu curtiu, de uma página que você não curtiu. O que acontece?”

PS.4: Os mesmos argumenteiros de clicou-sem-ver perguntaram: por que ao invés de reclamar e reclamar a cada aparição da minha imagem eu simplesmente não fui na fanpage e simplesmente “descurti”?. Por uma simples questão de princípios: eu não curti esse embuste, então não sou eu quem vou descurtir esse embuste.

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Virgin, Jack Daniels e formas distintas de encarar Direitos de Marca

Direitos que uma empresa tem sobre sua marca fazem um terreno um tanto quanto delicado para um entendimento geral. E, claro, já falamos bastante a respeito disso por aqui. Dois episódios grotescos já envolveram avisos extra-judiciais ao B9, enviados pela revista Rolling Stone e, mais tarde, pelo Ministério do Esporte.

Mas, águas passadas.

Comento hoje sobre dois casos reportados no mesmo dia na terra do Tio Sam envolvendo a Virgin e a Jack Daniels.

No caso da Virgin, a coisa é pior do que um blog postar a respeito da marca. O episódio envolve uma empresa de roupas hipsters chamada I’m not a virgin, que possui este nome porque usa uma porcentagem de materiais sintéticos reciclados em suas calças jeans, e não apenas algodão novo (ou virgem, em inglês). Daí o nome.

A descolada companhia aérea e operadora de telefonia que já foi loja de discos e que tem até equipe na F1 enviou uma carta comentando sobre a confusão que a pequena confecção poderia causar, sendo associada com a poderosa empresa de Richard Branson. Incluiu ainda sugestões para novos nomes de marca, como “I’m not pure”.

No vídeo abaixo, o CEO da I’m not a Virgin comenta sobre a carta. Meu quote favorito é: “será que as pessoas também vão se confundir no mercado ao comprar azeite extra virgem?”

A reportagem do Co.Create ainda comenta que esta iniciativa da Virgin em blindar a palavra é semelhante à tentativa de Mark Zuckerberg em obter direitos sobre a palavra “face”.

É muita megalomania no mundo…

Enquanto isso, a centenária Jack Daniels, que teria todos os motivos do mundo para ter um departamento jurídico mais quadrado do que os que acionaram o B9, achou uma maneira bem mais amigável de resolver um imbróglio.

Um livro cuja capa remetia ao famoso rótulo do whisky americano era um motivo razoável para uma carta de cessar e desistir. Mas o próprio autor surpreendeu-se com o conteúdo da carta, bastante amigável e inclusive oferecendo ajuda para bancar os custos de uma reformulação de capa.

Em reportagem sobre o caso, o time jurídico da marca afirma que não viu intenções do autor em vender mais livros só por causa da capa e procurou fazer um approach a um “fã desavisado”.

Ainda que possamos discutir mais um pouco a respeito de paródia, homenagem, citação, etc, é um direito da marca associar-se ou não ao que bem entender. Mas não é direito intervir na divulgação espontânea de notícias relacionadas a ela (a imprensa ainda é livre) e, acredito, tampouco ser dona de uma palavra.

Como a linha é tênue e os departamentos de marketing e jurídico das empresas ficam em andares diferentes, ainda veremos muitos casos semelhantes por aí.

Colaborou com o post @franklinbarbosa

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Estágios e eventos sob a mesma ótica

Esse post é mais um apelo do que uma reclamação. Mas notei semelhanças entre a mecânica de eventos e de estágios não remunerados. Provavelmente não vão me chamar para nenhum evento depois desse post mas vamos ver o que acontece.

Só pensei nessa comparação recentemente mas ela é muito bizarra. Já notou como alguns eventos têm o mesmo racional de estágio não remunerado? Quando alguém topa algo assim é sempre na esperança de que por conta dessa experiência as portas para o fabuloso mundo da publicidade irão se abrir para você.

Quem chama/contrata tem a mão de obra/conteúdo de graça e oferece educação/experiência grátis.

Acham que trabalhar naquela empresa de graça ou participar daquele evento vai ser bom para você, já que é bom colocar no CV que tem esse tipo de experiência.

A moral da história é: ou as pessoas aprendem a dizer não ou o mercado as engole.

Acho que trocar o tempo de qualquer pessoa apenas por visibilidade é algo que deveria ser evitado. Por apenas um motivo: você perde o controle do que pode fazer se der algo errado. Explico. Um palestrante pago provavelmente assinará um contrato em que assuntos, opiniões polêmicas e etc sejam evitadas e o foco da apresentação esteja definido. Ele pode ser penalizado por não cumprir o contrato e, sem ele, o organizador está sem nenhuma garantia. Dependendo pode até ameaçar queimar a reputação do palestrante quando as coisas derem erradas e não chama-los mais.

Lembro de uma história do Douglas Rushkoff em que ele nunca cobrava para fazer as palestras dele. Até o New York Times publicar que ele cobrava US$7.500 por hora de consultoria para empresas e ele começar a receber convites para palestras e agora já perguntando o valor da palestra. Ele falava para as pessoas simplesmente lerem o livro que seria a mesma coisa mas as empresas preferiam pagar 7500/hora do que 20 dolares e algumas horas para ler o livro.

Mas há situações e situações. Acho que palestras para estudantes, dentro de faculdades não deveriam ser pagas. Acho que palestrantes de eventos pagos devem ser remunerados. É meio que o dilema de Tostines, o que veio antes? O reconhecimento profissional para ser chamado para o evento ou reconhecimento profissional por participar de eventos? O evento é bom por ter bons profissionais mostrando o seu conhecimento, idéias novas além, claro, de uma boa organização e infra-estrutura.

Se todo mundo começar a negar estágios não-remunerados, as empresas terão que se virar e pagar.

O conhecimento que o estagiário acumulou até aquele momento será a sua ferramenta para mostrar o seu valor. E isso vale para estágios e eventos. O estagiário tem uma experiência de vida que vai ajudar na hora de tomar alguma decisão. O que estudou na faculdade é, para o estagiário, a base de conhecimento para o que vai usar/fazer no mercado de trabalho. Acontece que o que era diferencial, virou obrigatório porque ninguém tem paciência de ensinar e tem trabalho para caramba para fazer. Então o estagiário tem que entrar na empresa já sabendo fazer o que deveria aprender. Ele vira mais um trabalhador só que sem remuneração porque, segundo a lógica perversa das empresas que não pagam estagiários, eles estão sendo pagos em experiência profissional.

Já o palestrante, acredita que um dia vai ser remunerado por apresentar suas idéias mas esse dia raramente acontece. E, se acontece, geralmente é porque ele vai dar uma palestra numa empresa e não em outros eventos. Nessa esperança de visibilidade, ele não cobra as horas gastas para preparar e apresentar a palestra. Horas essas que muitas vezes quem paga é a empresa em que ele trabalha.

Agora imagino que um evento que chame alguém de fora para palestrar. Provavelmente vai oferecer o pacote básico de Passagem, Hospedagem e Alimentação e mais o pagamento pela participação. Fora o tratamento de rockstars. É por isso que os caras vêm. Todo mundo é um pouco Jimmy Cliff e quer se sentir importante. Aos palestrantes locais, as vezes rola um brinde de agradecimento e para aí. Transporte, estacionamento, alimentação muitas vezes ficam por sua conta. Parece reclamação mesquinha, né? E é mesmo. Eventos com grandes patrocinadores, com espaço de estandes pago, com inscrição paga e os únicos que não são remunerados são os palestrantes? Não faz muito sentido, né?

Resolvi procurar saber a definição de salário e olha o que achei. Pela Wikipedia a definição é:

Nas sociedades capitalistas, salário (ou capital variável no conceito de Marx), é o preço oferecido pelo capitalista ao empregado pelo aluguel de sua força de trabalho por um período determinado, geralmente uma semana ou um mês, ou por unidade de produção.

Aulete
3. Recompensa prestada em troca de serviço encomendado

E aí sabe o que acontece se todo mundo começar a cobrar para dar palestra? O preço de tudo (inscrições, patrocínio, etc) vai subir, alguns eventos podem acabar mas aí outra coisa também pode acontecer. O sarrafo da audiência pode subir e ela ficar menos tolerante no caso do conteúdo apresentado ser fraco e por consequência, existe a grande possibilidade de a qualidade dos eventos subir. Eu acho que vale o risco. É bom para o mercado todo.

No caso dos estagiários a situação é a mesma. Se todo mundo começar a negar estágios não-remunerados, as empresas terão que se virar e pagar.

Mas no mundo real o que acontece é que os palestrantes ainda acham que vale a pena não ser remunerado em um evento por que isso é um reconhecimento como profissional. E os estagiários continuam aceitando estágios não remunerados porque precisam de experiência. Ambos os casos são parte um ciclo vicioso que não é quebrado nunca. O ponto é que os dois estão pagando para trabalhar.

Para o palestrante a vaidade de ser reconhecido alimenta a ilusão de um futuro como palestrante remunerado. Já para o estagiário, é a ilusão de que essa experiência vá abrir espaço em outras empresas. Será que ninguém nota que desse jeito a mediocridade ganha? O estagiário que consegue bancar o estágio com a mesada dos pais é privilegiado e o palestrante que aceita o que oferecem em troca da tal exposição muitas vezes acaba não sendo o melhor.

Ou seja, sempre tem alguém que topa e quebra a corrente.

Eu participei de alguns eventos na minha vida. Alguns na mesma cidade em que moro, outros fora e notei que eu mesmo ajudei esse ciclo vicioso a se manter. Exigi coisas do pessoal de fora, coisas que não exigi de eventos na cidade em que moro. Acredito que deve haver um pacote básico para palestrantes independente da sua origem (transporte, alimentação e hospedagem se for o caso) e acredito que o mercado só vai evoluir quando os palestrantes forem remunerados. De novo, é garantia para os organizadores e estímulo/compromisso para os palestrantes.

Os melhores estagiários que tive nunca tinham trabalhado com redes sociais mas eram inteligentes, pro-ativos e tinham uma cultura geral de dar inveja. Eles foram remunerados por seu trabalho e todos eles são excelentes profissionais até hoje e acredito que o conhecimento acumulado está sendo usado até hoje na rotina deles. E vários não trabalham mais com redes sociais. E isso é que é legal. O conhecimento valeu para alguma coisa. A experiência valeu para alguma coisa e ela foi remunerada. Nada mais justo.

No final das contas a moral da história é ou as pessoas aprendem a dizer não ou o mercado as engole. E isso serve para os dois cenários que citei nesse post.

Em tempo, a foto que ilustra esse post é do OZinOH

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Lute pelo seu direito de se divertir

Os Beastie Boys e as criações de Adam Yauch já foram citadas algumas vezes aqui no B9. Hiphop, hardcore, filmes, videoclipes, ativismo, Adam foi acima de tudo um criativo e um fazedor de coisas, impossível de parar. Onde colocou a mão, foi pioneiro provavelmente sem se preocupar com isso. Parecia mais preocupado em realizar e se divertir com seus amigos. Foi desta forma que vi ele passar parte destes curtos 47 anos de vida, deixando uma contribuição incalculável para a arte e influenciando gerações.

“(You Gotta) Fight for Your Right (To Party!)”

Deixo aqui o trailer do classico recente “Awesome I Shot That” assinado pela sua produtora Oscilloscope Laboratories, em Nova Iorque.

Rest in Peace Adam Yauch!

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“Os Vingadores”: Nerds, vencemos a batalha. O mundo é nosso.

Aviso: CONTÉM SPOILERS!

LOS ANGELES – Não só Hollywood, mas toda a indústria do Entretenimento, vive um momento definitivo e, nas proporções corretas, desesperador: ninguém sabe para onde o cinema, a TV e a literatura vão. Índices de atenção cada vez menores, oferta gigantesca de conteúdo, a necessidade absurda por produtos gratuitos e, claro, a pirataria contra os gigantes do mercado. São muitas variáveis e a instabilidade torna-se inevitável.

Os produtores entenderam a sociedade moderna: divertir, homenagear o passado, e permitir o sonho por um futuro interessante.

Logo, todo mundo está testando soluções – algumas às claras, outras só nos nichos ou mesmo a portas fechadas. Já existe um projetor de 8k de resolução, projetores 3D sem óculos tão poderosos que não se sabe onde acaba o filme e começa o ambiente real e até mesmo hologramas com sensor de movimento, transmissão ao vivo e reconhecimento de voz.

Parte dos testes, porém, envolve descobrir os gostos do público para sustentar a indústria durante essa transição traumática – que deve ocorrer nos próximos cinco anos – e é aí que “Os Vingadores” se encaixa nisso tudo. Quadrinhos e filmes de nicho tem o maior potencial para unir gerações, garantir resultados e, de certa forma, ser um porto seguro durante a tempestade. E é exatamente isso que a Marvel fez sob o comando de Kevin Feige.


Porém, “Os Vingadores” não é um teste, mas sim a conclusão óbvia da estratégia por trás dos bons filmes do “Homem de Ferro” (com vantagem para o primeiro), os dois “Hulk” (com desvantagens espalhadas entre o criativo Ang Lee e pau-mandado Louis Leterrier), o neutro “Thor” e o fantástico “Capitão América”! Gostem os fãs de quadrinhos, ou não, a verdadeira estratégia por trás disso tudo é a construção de um novo público.

A lição tirada de “Os Vingadores” é justamente a da consolidação de um plano efetivo e lucrativo.

Os nerds foram a base inicial e já cumpriram sua função como o primeiro estágio de um foguete. Deram a propulsão, agora está na hora de expandir e solidificar. Basta olhar as análises de público antes mesmo da estréia nos Estados Unidos: o filme lidera as bilheterias em TODOS os quesitos.

Remanescentes da Golden Age, jovens dos anos 80, mulheres, crianças, espectadores casuais… todos optaram pela aventura de Joss Whedon. E como poderiam resistir? Mesmo quem nunca encostou num quadrinho na vida, mas vai ao cinema ou vê TV, já ouviu falar no Homem de Ferro, no Hulk, em Thor e, claro, no Capitão América – especialmente aqui no Tio Sam.

De maneira alguma essa foi uma invenção de Feige e da Marvel, mas eles encontraram a medida certa para construir seu sucesso e, para isso, precisaram revisitar o passado ao usar os pesos pesados da companhia e fazer isso de caso pensado. Os produtores parecem ter entendido a necessidade da sociedade moderna: divertir, homenagear o passado, e permitir o sonho por um futuro interessante.

Essa frase não é nem um pouco idealista, basta ver o mito construído por Stallone com a franquia “Mercenários”. É exatamente a mesma táctica utilizada pela Marvel. E Avi Arad também sabe disso com seu “Espetacular Homem-Aranha”, o grande inimigo intelectual e dramático de Christopher Nolan, pelo menos nesse ano.

Comédias entregam gratificação instantânea e isso está incutido no cerne de “Os Vingadores”.

Essa estratégia é para poucos pela gigantesca proporção de investimento necessário para atrair a atenção do público antes mesmo da estreia. Já se fala em maior bilheteria da história, alias. Tudo isso passa pela arriscada opção de super-expor a marca, com infindáveis trailers, pôsteres, prévias, campanha de imprensa com marcação homem a homem em todos os grandes mercados e, mais recentemente, o convencimento à esfera blogueira, que não precisa de mais que uns trocados para vestir qualquer camisa, infelizmente.

Entretanto, a lição tirada de “Os Vingadores” é justamente a da consolidação de um plano efetivo e lucrativo. Como tudo que fica popular, a “posse” dos heróis dos quadrinhos passa das mãos dos leitores intelectuais dedicados a cada detalhe aos volúveis espectadores satisfeitos apenas com as duas horas de projeção.

Joss Whedon trabalhou três elementos fundamentais para o sucesso de “Os Vingadores” no aspecto cinematográfico: comédia, distribuição de tempo de tela e o Hulk!

Comecemos pelo gigante esmeralda: Depois de duas tentativas frustradas do ponto de vista qualitativo (embora eu tenha gostado de Edward Norton como Bruce Banner), eis que o Hulk surge com personalidade, utilidade e apareceu apenas nas horas certas. Mark Ruffalo atrapalhou menos do que aparentava e criou curiosidade ao “outro cara”. Esse personagem foi tanto a arma tática dos Vingadores em combate, como do filme, construído em torno de sua revelação, sem se preocupar muito com os dilemas de Banner e seu passado. Hulk apareceu, esmagou e conquistou!

Tudo foi bem distribuído, evitando assim, o “filme do Homem de Ferro e seus amigos”.

Se ele apareceu nas horas certas, o humor esteve presente ao longo de todo filme. Essa parece ser a grande chave dos vídeos virais mais atuais e, sem dúvida, o gênero favorito dos espectadores online. Comédias entregam gratificação instantânea e isso está incutido no cerne de “Os Vingadores . O roteiro arma sua estrutura e fecha todos os pontos, cômicos ou dramáticos, ao longo da exibição e isso é muito importante, pois entrega um produto fechado. É mentalidade de linha de produção e decisão de executivos, como disse o Merigo? Com certeza. Mas a execução foi fantástica.

Outro dia ouvi o Spielberg dizendo que sempre assistia filmes tentando ver os movimentos de camera, onde usaram grua ou dolly, onde entraram os efeitos ou a edição mais fresta, até que ele desistiu e agora só quer ver se puderam contar uma história. Bem, “Os Vingadores” conta uma história. Simples, pelo olhar de quem nunca ouviu falar nos quadrinhos, mas conta.

Um cara mal quer mandar na gente (e resolve aparecer justamente na Alemanha, onde se depara com um velhinho casca-grossa que não quer ver a história se repetir), então vamos chamar uns sujeitos meio problemáticos, mas superpoderosos, para segurar a onda e lutar pela gente. Tudo bem que ela começou vários filmes atrás, mas está lá. Começo, meio e fim. Infelizmente, hoje em dia isso é celebrado perante tantos roteiros confusos, temas pretensiosos e tentativas frustradas de se atingir alta intelectualidade.

Se os produtores se meteram no processo, e, com certeza, Kevin Feige virou o Kuato do Joss Whedon, os medos financeiros garantiram foco nas fórmulas que dão certo. Se a comédia – com suas piadas quase sempre certeiras – e o Hulk – com sua magnanimidade – funcionaram, o outro elemento da base foi o tempo de tela. Tudo foi bem distribuído, evitando assim, o “filme do Homem de Ferro e seus amigos”.

“Os Vingadores” escorrega pesado nos dois personagens secundários que são, estruturalmente, o freio de mão do filme: Gavião Arqueiro e Viúva Negra.

Formaram-se vários núcleos renovados constantemente, primeiro reforçando a desorganização dos heróis, depois explorando as forças. Uma das melhores decisões foi inserir o Thor tarde e deixa-lo meio escondido, afinal, seu filme solo foi o mais insosso e o Deus do Trovão não aguentaria levar a ação toda nas costas. E nem seria o caso, afinal, se o filme é d’Os Vingadores, eles devem lutar juntos. E como lutaram! As cenas de combate foram fantásticas e, enquanto aquele mundo caia, o espectador empolgado queria mais.

Como ação, “Os Vingadores” é empolgante. Loki deixa claro desde o princípio: vou enganar todo mundo e quem dita as regras sou eu. Tanto Nick Fury quanto os heróis caem na arapuca e pagam caro por isso, até por uma certa ingenuidade, algo que todo ser humano tem ao imaginar que as coisas vão funcionar da maneira ideal logo de cara. Bem, não é por aí e Whedon transferiu um grande conceito norte-americano para seus heróis: a América só funciona com motivação e um objetivo único. Desde a Segunda Guerra Mundial, esse pais não faz nada de forma unilateral. Nem mesmo a Guerra ao Terror foi aceita por todo mundo, logo, olha a referência ao nazismo novamente.

Acima de tudo, os realizadores buscaram elementos de fácil acesso à memória de seu público e isso deve ser encarado de forma positiva, uma vez de que fácil e efetivo não são sinônimos. Nolan quer ser cerebral, deixar o espectador tenso o tempo todo e extrapolar os limites do drama? Ótimo. Whedon fez isso na alucinação do último combate (que deve estar dando calafrios até agora no Michael Bay) e no envolvimento prático e simples gerado pelo bom-humor. Entretanto, isso não significa que “Os Vingadores” seja isento de falhas.

A Marvel lembrou que filmes de heróis podem ser divertidos e, acima de tudo, que o ciclo está completo.

No geral, agrada. E muito. É bem feito. E muito. Merece os louros da fama e do sucesso. Totalmente. Mesmo assim, escorrega pesado nos dois personagens secundários e, estruturalmente, o freio de mão do filme: Gavião Arqueiro e Viúva Negra. Se toda a preparação dos heróis principais foi feita ao longo de seus filmes solo, esses dois eram apenas rostos pouco familiares, com histórias de fundo praticamente nulas. Mesmo sabendo do extremo respeito e devoção entre eles, foi difícil engolir uma dinâmica aparentemente forçada na tela. Como arqueiro, adoraria ter o arco high-tech do Gavião, mas esse foi o máximo de atenção gerado pelo sujeito, mas tenho noção de que esse sentimento é bastante pessoal.

Mas isso se encaixa perfeitamente no contexto que estou trabalhando: esse filme é sobre gente especial que salva a “gente comum” na hora do aperto. Sendo frio e calculista, o personagem de Jeremy Renner é um baita arqueiro. E ponto. Foi escravizado pelo vilão, matou meio mundo e não teve tempo, nem roteiro, nem dramaticidade para se redimir de forma a justificar sua presença.

O outro grande problema foi a morte do agente Colson. Assim como Boba Fett, em “O Retorno de Jedi”, morreu para render uma piada. Falo da cena em si, não dos efeitos provocados por seu ato heróico (e a artimanha do Fury). Faltou algo, uma justificativa melhor naquele momento, mas diria que foi mesmo falta de respeito por um personagem tão querido, pois ele era uma espécie de C-3PO dos Vingadores poderia muito bem ter permanecido como constante no universo Marvel nas telonas.

Saí da seção de “Os Vingadores” absolutamente apaixonado pelo trabalho em equipe, pelo Hulk todo espirituoso, pela grandiosidade do quebra-pau, e louco de vontade de encher o Loki de safanões a lá Marshall, do “How I Met Your Mother”. Saí feliz, doido para ver outra vez e, devo dizer, arrependido por ter vaiado o Kevin Feige na Comic-Con quando ele anunciou o Rufallo como Bruce Banner. A Marvel fez um ótimo trabalho, demonstrou a força da grande marca frente ao público disperso, lembrou que filmes de heróis podem ser divertidos e igualmente agradáveis, e, acima de tudo, que o ciclo está completo.

Nerds, vencemos a batalha. O mundo é nosso.

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“Os Vingadores”: Quando a criatividade e a imaginação viram produção em massa

Pensando em processos criativos e exigências comerciais – que é, afinal, a essência do que esse blog trata diariamente – posso concluir dois pontos: 1. “Os Vingadores” é um pastel de vento (roubei a definição do Diego Maia). 2. Não poderia ser muito diferente disso.

Criatividade e dinheiro: Essa sim é uma verdadeira união heróica não alcançada por “The Avengers”

Aliás, com poucas exceções, é o que a Marvel tem feito com as suas franquias desde que iniciou a onda de filmes de super-heróis com o despretensioso “Blade” em 1998. Eu excluiria poucos do julgamento de espectador que farei nos próximos parágrafos, são eles: “X-Men 2″, o “Hulk” do Ang Lee, “Homem-Aranha 2″, “Homem de Ferro” e, com alguma boa vontade, o recente “X-Men: Primeira Classe”.

De resto, é a companhia buscando o máximo de bilheteria possível sem arriscar o legado de seus personagens com diretores metidos a artista. Deu certo com Sam Raimi, mas a maioria considera o excelente “Hulk” do Ang Lee – citado acima – um desastre. Então porque insistir no “erro”?

Não conheço o ambiente interno dessas super produções, mas consigo imaginar que muitas delas são geradas mais em salas de reunião cheias de executivos, do que nas mãos de um roteirista/diretor talentoso. E é exatamente esse cenário que enxerguei em praticamente toda a preguiçosa projeção de “Os Vingadores”.

Resumo: Um diretor com pouco poder criativo, que precisa colocar um monte de personagens na tela sem gerar uma confusão, atender a demanda de “blockbuster família” com violência tolerável sem sangue, e garantir sucesso de bilheteria para as continuações já agendadas.

Não há nada de errado em ser apenas divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de ousadia não faz mal

Mas é aqui que chego na minha segunda conclusão: 2. Não poderia ser muito diferente disso. Tento imaginar – caso fosse dono de dezenas de personagens de quadrinhos multi-milionários – se teria coragem de arriscar e fazer de outra forma. Provavelmente não, e nada existe de errado nisso.

A Marvel já sabe a fórmula, e continua repetindo-a ano após ano. Que a empresa queira aproveitar ao máximo seus heróis com filmes rentáveis, eu posso entender, só não é possível dizer que “Os Vingadores” é a melhor adaptação de quadrinhos já feita. O mesmo se pode dizer da franquia “Transformers” de Michael Bay, por exemplo, passatempos rentáveis, mas nenhuma obra que valha a pena revisitar no futuro.

Quem conhece as HQ’s diz que “Os Vingadores” foi muito fiel ao crossover original – eu só lia “Wolverine” e “Super-Homem” na adolescência, portanto não posso opinar – mas como obra cinematográfica a adaptação acaba pasteurizando os personagens e a trama. Um resultado muito parecido com o que vemos diariamente nos ambientes de criação atrelados a altas performances comerciais (leia-se, publicidade).

Eu sei que o filme é divertido e funciona muito bem como passatempo descompromissado – não precisa dizer que tenho um pão embolorado batendo no peito – mas é realmente só isso o que se esperava de “Os Vingadores”? Eu nunca exigiria um “Batman: O Cavaleiro das Trevas” do Joss Whedon – a essência é completamente outra – mas um pouco mais de ousadia não faria mal ao longa.

Eu engulo todas as vezes a velha história de fim do mundo, do artefato alienígena com poder incomensurável, e do vilão que decide roubá-lo com ambições pouco convincentes – estamos falando de quadrinhos, afinal – mas estou cansado da ação repetitiva só para mostrar mais efeitos e barulho na tela.

É possível unir sequências de puro entretenimento com dramaticidade capaz de realmente nos fazer importar com o destino dos personagens… e do mundo. Para tanto, não estou falando de ser dark e tenso como os Batman’s de Nolan, mas esperto e sagaz como o segundo “Homem-Aranha” do Sam Raimi, o segundo “X-Men” de Bryan Singer, e o primeiro “Homem-de-Ferro” Jon Favreau.

Também entendo que Hollywood se assegure nas fórmulas de sucesso para a maioria dos filmes de verão (norte-americano), só acho uma pena desperdiçar tantos personagens do nosso imaginário, desde criança, com adaptações bobas e descartáveis. Não há nada de errado em ser simplesmente divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de provocação poderia me fazer ter vontade de assistir o filme novamente, ao contrário dos bocejos a partir do momento em que o porta-aviões sai do lugar.

O Nolan também deve ter suas brigas com a Warner e a DC Comics, mas não precisa ter mais de um olho funcionando para perceber que, com a carreira que ele desenvolveu, a liberdade é bem maior. O cara trata o personagem com respeito, gera blockbusters milionários e ao mesmo tempo nos faz sair do cinema levando aquilo na cabeça pelos próximos dias.

Também entendo que a Marvel não queira arriscar suas principais propriedades intelectuais, e seu universo seja muito mais leve e bem humorado do que a concorrência. Porém, fico ainda mais decepcionado ao ter certeza de que eles acertam em cheio quando as amarras são mais soltas. Todos os outros filmes da empresa que citei acima se encaixam nisso, mas a maior prova disso responde hoje pelo nome de “Kick-Ass”.

Não tem Capitão América, nem Homem de Ferro, nem Viúva Negra, nem Thor ou Hulk, mas criativamente falando é memorável. Acontece que, na hora do vamo-ver da bilhteria gerou muito pouco para a Marvel, e aí voltamos novamente para a luta no globo da morte entre criatividade e dinheiro. Essa sim é uma verdadeira união heróica para os poucos Nick Fury da vida real que a alcançam.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Um salto alto perdido na rua

 

Dia desses, recomendando livros à amigos, percebi que não lembrava praticamente nenhuma linha inteira de nenhuma obra. O que eu lembrava dos livros eram as pequenas cidades, do frio que fazia no inverno, o pé direito da sala do protagonista e até mesmo a textura das cortinas. Mas não vi nos livros essas coisas. Talvez, essas coisas, as páginas dos livros não tenham nem mesmo me sugerido. Mas essa foi a história que criei pra mim, e pra mim é a história real.

É recorrente: Quando ouço “High and Dry” eu me lembro perfeitamente de voltar pra casa de skate no fim de tarde de um sábado chuvoso, quando eu ainda morava na Califórnia. Acontece que eu nunca andei de skate, muito menos morei na Califórnia.

Não entra ciência nesse tema, que pouco tem a ver com razão. Não vem ao caso explicar por que acontece, mas acontece, e todo designer deveria levar isso em consideração: o universo que a gente inventa é mais real do que o universo em que a gente vive. E é dele que iremos lembrar no futuro.

Já dizia o Professor Martens*:

“Não existe em nenhuma mulher toda a mulher que existe em um salto alto perdido na rua”.


E o Retail Design com isso?

Andar pelo Brasil pesquisando ponto de venda é, em geral, decepcionante, e na maioria das vezes o motivo é o mesmo: parece que ninguém quer convidar o consumidor pra participar. É um monólogo.

Até pouquíssimo tempo atrás éramos um país relativamente pobre, e tudo leva a crer que nosso complexo de inferioridade e raro acesso ao que outros tinham em abundância, tenham feito com que buscássemos ingenuamente uma auto-afirmação de sessão da tarde, de Disney e Beverly Hills. Crescemos achando que um conto de fadas pode (e só pode) ser real se houver um enorme castelo.

Recentemente um amigo europeu, arquiteto, veio nos visitar no Brasil e passeando por um ponto turístico de Florianópolis constatou: “isso tudo parece o cenário faroeste de um parque de diversões”.
É mais ou menos assim: Se for restaurante Mexicano, tem mariachi. Se for moda Brasileira, tem calçada de Copacabana. Se for loja de artigos esportivos, é assustador: tem pista de corrida, quadras e vendedores com apitos (!).

Querer replicar perfeitamente uma realidade externa, seja ela qual for, em um projeto de design, acaba com tudo que o projeto deve ter de mais precioso: a autenticidade. Até porque, no final das contas, se estamos falando de retail design, estamos falando – ou deveríamos – de construção de marca.

Assim como em um livro ou em uma música, a história real de um projeto de design é a história que criamos pra ele. É Gestalt. É Ganzfeld. A nossa mente é viciada em sensações, e se não há nada pra sentir ela mesmo as cria.

Lojas com menos referências óbvias e mais histórias pra contar, por favor.
Porque um enorme castelo não faz do seu ponto de venda um conto de fadas.

“É como se o homem, que permanece ali encantado com aquele salto alto, fosse naquele momento ele mesmo” continuou o Professor Martens. “E tivesse a sua própria biografia. A sua própria memória”

* O Professor Martens é um personagem do livro City (Alessandro Baricco), muito provavelmente meu livro preferido.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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