Morte ao compartilhamento automático

Recentemente os sites de notícias, portais (surpreendente, né?) e a velha mídia descobriram o poder das redes sociais. Mas ainda assim, continuam a ter a mesma postura de sempre: Eu sei o que é melhor para você.
O último exemplo dessa maneira de pensar são os malditos aplicativos de notícias em que, magicamente, você pode descobrir novas notícias que seus amigos estão lendo.
Na teoria, isso é bom. Na prática, não tanto. Eu entendo a vontade de tirar qualquer fricção na hora do compartilhamento mas me parece que a maneira que isso está sendo feito é falha. Compartilhar sem fricção é não ter que pagar um ingresso para ler. E ter que aceitar um aplicativo as vezes soa exatamente como isso. Estou tendo que pagar para te dar audiência. Apenas um lembrete. Não existe compartilhar sem fricção. Sabe por que? Porque a vida tem fricção. Não é um favor inventar esse tipo de funcionalidade. É, na verdade, forçar um comportamento que não é natural.

Compartilhar ou não compartilhar é uma opção e não algo obrigatório. Você compartilha o que é importante para você, o que acha que será importante para as pessoas com quem você está compartilhando e etc.
O compartilhamento de conhecimento e conexões é uma maneira de fazer com que você seja reconhecido, que a sua relevância para esse público seja notada. Ao vulgarizar o ato de compartilhar, esses apps simplesmente tiram do leitor a opção de usar esse conhecimento como uma maneira de se destacar e isso desequilibra toda a cadeia das redes sociais.
Se a maior parte das notícias que as pessoas lêem são de amenidades e fofocas e o que parte dessas pessoas quer ser reconhecida por seu conhecimento em outras áreas, esses apps são um desfavor a essas pessoas.

Compartilhar é algo que deve ser estimulado através de outros métodos e não imposto por outros tipos de recursos. O Twitter faz isso muito bem. Se eu compartilhar que eu adoro Jailbreak 74 do AC/DC e que eu acho que a fase com o Bon Scott é bem melhor que a do Brian Johnson, isso é um endosso real de que aquilo é a minha opinião. Agora, se um aplicativo compartilha que eu estou ouvindo um disco no Spotify ou no Rdio, a única coisa que está fazendo é exatamente isso. Informando o que estou fazendo.

Claro que isso pode ser apenas uma maneira de começar a gerar novas conversas de como esse artista é bom ou ruim. Outro dia eu vi que o Asian Dub Foundation tinha um disco novo e resolvi o ouvir no Rdio. Esse dado foi compartilhado com a minha timeline no Facebook antes de eu ter uma opinião sobre o disco. Ao tentar facilitar a geração de assuntos e contato entre as pessoas, esses apps tiram o que é de mais importante do compartilhamento: a opinião. Eu poderia ouvir o disco e achar que é fraco, pior que o Rafi’s Revenge e nem falar nada para a minha timeline. Aquele fato é irrelevante para mim. Se eu amo eu compartilho, se eu odeio, eu também compartilho mas se aquele assunto não me causa nenhuma reação, eu simplesmente o ignoro.

Enquanto os apps estimularem esse compartilhamento anêmico, acho que estão usando premissas erradas. É legal descobrir novos assuntos mas é bem mais legal quando isso é associado ao que eu gosto e ao que meus amigos têm feito.

Eu não quero saber que alguém leu um artigo sobre quem está pegando a ex-BBB que vai sair pelada em alguma revista ou que a economia no Cazaquistão não está bem das pernas, esses assuntos não me interessam. Agora se eu notar que meus amigos que também gostam do tipo de música que eu gosto, leram um artigo e recomendaram para mim, aí sim eu vejo vantagem. E esse tipo de compartilhamento está sendo trocado pelo tipo automático simplesmente por comodidade. Será que isso é um reflexo ou a causa do excesso de conteúdo compartilhado?

Ou seja, da maneira que as coisas estão sendo conduzidas, esses aplicativos de notícias, na minha opinião, têm sido mais úteis para os veículos do que para o público.

Uma pergunta: você acha que se esses apps fossem realmente legais, eles condicionariam a leitura de seu conteúdo no Facebook a aceitação de um app ou simplesmente te levariam ao conteúdo e perguntariam depois se você gostaria de usar o app?

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Fotos valem mais que 140 caracteres?

Recentemente li uma matéria na The Economist sobre os idiomas que levam vantagem no Twitter. São idiomas que raramente usam os 140 caracteres para passar a mensagem. Idiomas como o chinês, precisam de apenas 28 caracteres para uma frase que em inglês usaria 78 caracteres. O japonês também teria essa “vantagem” Isso acontece, basicamente, por que os idiomas que usam mais símbolos sintetizam melhor as situações.

Corta.

Pessoas reduzem o uso do Twitter para focar mais no Instagram. Ao invés de escrever no Twitter, começam a apenas colocar fotos. Uma imagem vale mais que mil palavras é o ditado, certo? Pois é. O Instagram sacou isso, montou sua comunidade e o Facebook ficou com medo e acabou comprando o Instagram.

Seria isso realmente uma tendência? O retorno em posts com imagens nas timelines ser maior que o de textos no Facebook é um sintoma dessa tendência também?

O fato de termos celulares com uma camera com qualidade de fotos melhor que as nossas primeiras maquinas digitais também pode ser um dos fatores. As pessoas começam a compartilhar os momentos enquanto acontecem e não o vivem em sua plenitude. É mais importante o registro do que a experiência. Autógrafos são legais mas fotos com a celebridade são mais. De novo voltamos para o caso de a imagem valer mais que mil palavras.

Aí aparece o Pinterest. Quase um Delicious visual de referências.

Os aplicativos que tentam dar uma aquecida nas fotos digitais tentando dar um ar retrô com filtros e bordas (como o Instagram, Hipstamatic e outros) se tornam estética, carne de vaca e, em breve, estarão em cartaz até de padaria.

Outra coisa que reforça isso de as coisas em redes sociais serem mais visuais é a existência de serviços já querendo monetizar essa nova tendência. A principio no Instagram mas não duvido que isso aconteça em outras redes também.

E o que já acontecia antes com livros de arte só com fotos de celular, usando ou não aplicativos para corrigir cor e sempre passando pelo computador, agora começam a aparecer outras variáveis fotos tiradas e tratadas direto no celular, (assim como acontece com vídeos que podem ser editados diretos no celular também) como o trabalho do Jorge Brivilati, que fez um site focado em fotos suas tiradas e editadas no celular (que também ilustram esse post). Ou até mesmo um site como o Polanoid em que as pessoas podem expor suas fotos tiradas com a Polaroid.

Se o futuro das atualizações de status nas redes sociais é das imagens, qual será o futuro da linguagem? E o da fotografia? Será que isso se expandiria para outras formas de expressão? Será que isso é algum tipo de resposta ao excesso de informação que sofremos diariamente? E mais uma parte da tal Snack Culture que a Wired relatou alguns anos atrás?

Não tenho a resposta para nenhuma dessas perguntas. Mas acredito que seja algo que devamos ficar mais atentos.

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Startups, é assim que o design funciona

Ontem rolou a pseudo-polêmica Instagram no Android nas redes sociais, incluindo uma legião de donos de iPhone dizendo que agora o aplicativo de fotos com filtro vai “orkutizar” ou, na versão melhor correlata, “fotologar”.

Existe preconceito por trás dessas afirmações, obviamente. É a batalha do hipster sujo contra o coxinha mal-lavado, ou então na vertente financeira “Android é coisa de pobre” (Não vejo como um celular de R$ 800 a R$ 1700 pode ser considerado “de pobre”, mas enfim).

Eu também sempre tiro sarro do Android (foi mal Google, sou fã de todo o resto que você faz) e de seus donos (o Yassuda aguentou isso por anos, até tomar juízo), mas nunca se tratou de classe social, e sim de design. Tanto é verdade que até o Google está tentando ensinar os programadores como ser uma pessoa melhor com princípios de design.

Aliás, se qualquer outro hardware pudesse ter iOS ou Lion instalado, eu também nem falaria sobre iPhone’s e Mac’s com seus preços brasileiros astronômicos. Acontece que a Apple elevou o design e a usabilidade para galáxias jamais antes imaginadas por outras empresas de tecnologia (pode me chamar de mac-fag a vontade), trilhando um caminho que a indústria não pode mais ignorar.

Outras plataformas estão evoluindo, é claro, e espero que não demore para a concorrência encontrar o caminho da luz. Porém, nada ainda é ridiculamente simples e bonito como qualquer porcaria desenhada lá em Cupertino. Ninguém precisa sofrer por causa disso. O mundo é cruel mesmo para os amiguinhos brasileiros.

O guia para não-designersstartupsthisishowdesignworks.com – criado por Wells Riley pode parecer um pouco pretensioso, assim como todos os meus parágrafos desse post, mas nunca perde a razão ao concluir: Contrate um bom designer! Ou vários deles.

Nem todos podem ter um Sir Jonathan Ive, mas nada é desculpa para botar todas as forças em engenharia, negócios, marketing, etc, e largar o design em segundo plano. E o pior: muitas acham que seu investimento atual em design é o suficiente.

Riley reúne um monte de definições e referências em seu guia, e de forma rápida e 100% didática, só que lembrando que não se trata de um logo, um tema de WordPress uma UI inovadora, e sim de estado de espírito. Quando você pensa em planilhas e planos de negócios, muitas vezes deixa de pensar nas pessoas.

Quem sofre com o Android não é o Instagram – a fotos de comida, viagens e animais de estimação continuarão as mesmas – mas sim seus próprios usuários, que defendem com unhas e dentes o direito de ter o pior.

“Ah, lá vem o publicitário elitista do Itaim falando merda”

Uhn… meu primeiro iPhone foi o 4, meu primeiro Mac só veio em 2007, e por muitos anos fui usuário de Symbian! Acredite, como um mero usuário, eu sei do que estou falando. E só o que isso tudo significa é: contrate bons designers, seja seu produto / aplicativo / site destinado para ricos ou pobres, para gordos ou magros, para hipsters ou coxinhas.

Se nesse momento você tem uma boa ideia e não é designer, leia o guia: startupsthisishowdesignworks.com

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Post from Japan

Você sabia que depois da catástrofe que aconteceu no Japão em 2011, o país perdeu 36% dos seus turistas?

“Uma forma de incentivar os turistas a visitarem e conhecerem o Japão”

Depois de ter sido devastado por terremotos e tsunamis, as pessoas ficaram inseguras de viajarem para o país.

Para mostrar que depois de 1 ano do acontecimento o país está novamente seguro e bonito, uma campanha inteligente e engajadora foi idealizada por estudantes suecos da Berghs School of Communication, de Estocolmo, chamada Post From Japan. Uma forma de incentivar os turistas a visitarem e conhecerem o Japão e trazer de volta o movimento turístico que ele merece. De que jeito?

Usando os turistas que já estão por lá, transformando-os em embaixadores do país.

O raciocínio é o seguinte: turistas tiram fotos de suas viagens, mas não conseguem compartilhá-las na hora, pelo simples fato do acesso à internet ser caro.

Post from Japan soluciona esse problema com apenas um único aplicativo: através dele, você tira a foto e posta na sua página do Facebook. A cada like que a foto ganhar, serão 3 minutos de wifi ganhos (conexão “emprestada” pelo governo) para usar da forma que quiser: postando mais fotos, usando tradutores online para se comunicar ou simplesmente procurando locais para visitar, com a meta de fomentar ainda mais o turismo do local.

No final, as imagens atuais da catástrofe que estão pelo Google Images serão transformadas por imagens bonitas, encorajando as pessoas a viajarem para o Japão.

Uma super ideia surgida de estudantes suecos que, se executada, tem tudo para ser um mega case. ;)

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Os Fazedores de Pano da Apple

A obra de Michelangelo, como é sabido por todos, apresenta um diferencial muito grande em relação aos seus contemporâneos. Basta imaginar que ele, que era escultor, fez o afresco no teto da Cappella Sistina (o graal do Mvsei Vaticani) sem toda a experiência que pintores da época possuíam – e fez o que fez. Gênio.

Muitos anos depois de concluir o teto, Michelangelo voltou para a Sistina. Dessa vez para desenvolver o “Juízo Final”, na parede do altar. Uma obra tão grandiosa e poderosa que deixa qualquer admirador da arte perplexo, assim como o primeiro trabalho. No entanto há um detalhe que nem todos sabem…

A obra sofreu upgrades logo após a morte do artista.

O Concílio de Trento tornou a arte rigorosamente fiscalizada. E quem diria: os personagens do “Juízo Final” estavam nus. Michelangelo, que faleceu pouco depois da conclusão da obra, nada podia fazer. E a batata quente caiu na mão de Daniele da Volterra, discípulo do grande mestre. Que junto com outros artistas (intitulados de “Os Fazedores de Pano”) cobriram a nudez ali retratada. E o caso foi encerrado. É curioso pensar que, ainda assim, grande parte das pessoas que admiram essa obra não conhecem Daniele da Volterra (ou mesmo sua obra).

Digo mais: quanto você se depara com algo tão impressionante como aquilo, saber disso é (quase) irrelevante.

E é aqui que entra a Apple.

Tivemos a sorte de acompanhar de camarote os anos mais produtivos de Steve Jobs – inegavelmente um visionário. E aqui você pode até dizer que “provavelmente ele não fosse o cara que colocava a mão nos códigos e etc”, mas certamente era a mente por trás de cada detalhe, produto e ferramenta que a empresa apresentava (e que dava rumo) ao mercado. Seja iPod, iPhone, iPad ou as outras criações, elas nortearam o dia a dia de muitos consumidores e balizaram até mesmo os concorrentes.

Mas desde que o cara se retirou da empresa (e depois faleceu), muito se falou sobre ‘a decepção’ nos últimos lançamentos da maçã. Todos esperavam um iPhone 5: e veio o 4s (que não agradou tanto assim). O mesmo com o iPad: falavam de Siri e outras novidades, mas isso não aconteceu. O que há com a Apple?

Minha opinião: até aqui ela apenas pintou panos na obra de Steve Jobs.

Outro dia me falaram que antes de sair ele já tinha trabalhado em futuros projetos da empresa. E pense comigo: de um jeito ou outro ainda estamos falando em upgrades na obra que ele produziu. E isso nos leva para o outro lado desse pensamento: será que somente quando a Apple aparecer com “iTable”, “iDog”, iQualquerCoisa”, deixaremos de vê-lo escarrado no portfólio de produtos?

Me lembro de que no vídeo de lançamento do novo MacBook – poucos anos atrás – eram apresentados uma série de pessoas-chaves, que acabaram assumindo o palco e as apresentações. Provavelmente uma forma de desvincular a imagem dele a empresa, claro. O que era realmente fundamental, sabendo que o cara estava doente.

Mas pergunto: e o espírito inovador? Será que também foi desvinculado com a saída do fundador? Ou realmente é questão de tempo para voltarmos ao estado de expectativa e admiração por cada uma das novidades? Me digam vocês.

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O CCO da AKQA não entendeu o SxSWi


Meu segundo ano de SxSW Interactive e meu segundo ano de promessas de uma cobertura apavorante que acaba não acontecendo. Vou jogar as desculpinhas da conexão wifi cai-não-cai, da vontade de refletir sobre cada assunto, do cansaço… Mas a real é que na semana de SxSWi eu não quero perder um segundo. Eu gosto de escrever com calma, revisando, deixando o texto marinar alguns dias e é isso que vou começar a fazer com este texto aqui, que lanço fora da ordem cronológica ou algo que o valha em edição extraordinária. Lá eu fico andando de um lado pro outro, ouvindo muito e conversando com desconhecidos de vez em quando.

No último dia de SxSW, já no estágio pó da rabiola da barrinha de energia, fui na palestra do CCO da (badalada) AKQA, Rei Inamoto. O título, “Why Ad Agencies Should Act More Like Tech Startups” me lembrava diretamente do painel que mais explodiu minha cabeça ano passado, “Do Agencies Need to Think Like Software Companies?“.

Cannes é a Enciclopédia Brittanica. SxSW é a Wikipedia.

Inamoto abordou tema sozinho, mas com a ajuda de seis especialistas que entrevistou em vídeo, usando trechos da entrevista no telão e discorrendo em cima. Não foi uma palestra definitiva, afirmando se uma agência deve ou não deve se comportar como uma startup (ainda bem). Mas foi ótima para mostrar as diferenças claras entre as duas filosofias, para o bem e para o mal de cada lado. Foi uma das minhas preferidas do evento todo por falar diretamente sobre um assunto que esbarro todo dia no trabalho.

Eis que hoje, depois de 24 horas entre aviões e salas de conexão, no recôncavo do meu lar, vejo galera da publicitariosfera twittando (com um ar de chupa!) um artigo do japinha para a AdAge: SXSW Reminds Why Cannes Is Still King. Vai lá ler, eu espero.

Nas palavras twittadas do próprio:

Enquanto isso, diz ele, Cannes Lions é focada, celebra a inovação e a criatividade. Cannes tem meia dúzia de painéis e o SxSW tem 6 mil.

Até aí concordamos. O problema é ele dizer que, com isto, Cannes é a melhor e devemos deixar o SxSW pra lá. Aí ele mostra que não só não entendeu a pegada do festival texano como periga também não estar entendendo muito para onde nosso barco está indo.

Em primeiro lugar, o SxSW não é um evento de publicidade, não é um evento para publicitários e não existe para celebrar nada relacionado ao mundo da publicidade. O evento interativo teve um tema (entre mais de 20) chamado “Branding and Marketing”, que tinha umas 4 ou 5 salas dedicadas e é onde a maioria dos publicitários circulava. (eu mesmo fui em umas 5 palestras deste núcleo) Mas, só para termos uma ideia, estas salas (ao contrário do ano passado) não ficavam no principal centro do SxSW, o gigantesco Austin Convention Center. (o número total de palestras aumentou do ano passado para este e alguns temas tiveram que se mudar) De repente ele ficou chateado justamente por ver seu painel limitado a uma salinha com uns 100 ou 200 mulambos. (eu entre eles)

Além disso ele mesmo explicou a diferença, só que achou a diferença ruim: SxSW is the live version of the Internet.

É aí, amigo, que mora a diferença. Cannes é a Enciclopédia Brittanica, SxSW é a Wikipedia. Quem faz Cannes é a organização, quem faz o SxSW é você. Eu mesmo saí de lá com a sensação de que não fui tão feliz na minha escolha de palestras quanto o ano passado. Cannes te entrega as coisas de bandeja. O SxSW dá a responsabilidade nas suas mãos. No SxSW qualquer zé mané tem chance de palestrar. Qualquer um mesmo.

Cannes é onde se celebra o que foi feito. SxSW é onde se escreve o futuro.

De certa maneira o CCO reconhece seu erro de expectativa lá pelo meio do texto quando diz “For marketers attending for their own education, it’s best that you have a well-versed guide who can show you around.” Que foi exatamente o que o ECD da minha agência fez: usou as dicas de todo mundo da comitiva (incluindo a minha) para saber onde ir.

Eu ouvi essa opinião de que “Cannes é mais focada, SxSW é mais cachorro louco” de vários publicitários lá mesmo em Austin. Com a diferença: todo mundo já combinando de voltar ano que vem.

No fim das contas é o famoso cada um com seu cada um. Cannes tem sua finalidade e SxSW tem outra. O que não vale é tentar desqualificar um ou outro evento porque sua classe profissional não teve o destaque que você achou que deveria ter.

PS caso não tenha ficado claro: este texto foi escrito por um cara que nunca foi a um Cannes Lions. Quem quiser pagar minha ida este ano é só entrar em contato!

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Oscar 2012: Só faltou gritar “Comprem ingressos, por favor!”

Tornou-se comum dizer que a cerimônia do Oscar em 2012 seria um olhar nostálgico para o cinema, depois de a Academia de Hollywood muito tentar, em vão, rejuvenescer a sua audiência com apresentadores, atrações e indicados mais aptos ao paladar jovem adulto nos últimos anos. A mudança na categoria mais importante, que aumentou de 5 para 10 indicados (9 nesse ano) com o intuito de incluir alguns blockbusters na salada dramática, marca o movimento maior nessa direção.

A nostalgia desse ano foi representada principalmente pelos filmes indicados: obras tradicionais e/ou homenagens ao cinema em si, alguns praticamente uma metalinguagem. Os 5 merecidos prêmios para “O Artista” comprovam isso, e mesmo “Hugo” de Scorsese, com o melhor 3D que já vi no cinema e seu punhado de prêmios técnicos, também é uma ode ao passado.

Sem nenhuma surpresa, a distribuição dos homenzinhos de ouro foi bem feita. “O Artista” mereceria primeiramente pela ideia audaciosa e coragem de fazer – o próprio diretor Michel Hazanavicius admite que enfrentou risos e piadas quando falou em fazer um filme mudo e preto e branco. E as escolhas para atores, atrizes e categorias técnicas também foram barbadas – exceto pela boa surpresa de ver “The Girl with the Dragon Tattoo” levar o prêmio de Montagem.

Mas o problema da Academia não foi com justiça, e começou bem antes da noite de ontem: Nenhum dos indicados a Melhor Filme conquistou o público. Apenas “Histórias Cruzadas” (The Help) – baseado num livro já best-seller – ultrapassou a marca de US$ 100 milhões em bilheteria.

Isso pôde ser visto até aqui no Brasil na semana passada. Com uma porção de filmes indicados ao Oscar nas salas de cinema – teoricamente a seleção daquilo que teve de melhor no ano – as pessoas preferiram assistir “O Motoqueiro Fantasma 2″ ou mais uma bobagem do Adam Sandler. Esse tipo de situação escancara a sempre gritante diferença de “gosto” dos votantes da academia – brancos com mais de 60 anos em sua maioria – com o público.

Não estou dizendo que a mediocridade precisa vencer, mas alguma teimosia precisa acabar. Achei que estava se resolvendo quando indicaram “O Cavaleiro das Trevas”, “A Origem” e, mesmo detestando, “Avatar” em categorias principais – óbvios chamarizes de público para a cerimônia – mas cadê o Andy Serkis indicado por “Rise of the Planet of the Apes”, por exemplo? O TOP 10 de bilheteria de 2011 é sim rídiculo, mas o único que merecia algum reconhecimento foi completamente esnobado.

A situação então está instalada: O filmes que Hollywood quer premiar não tem apelo popular; A competição pela atenção das pessoas é cada vez mais brutal na indústria do entretenimento, e, com tantas opções, é natural que os números passado não se repitam mais; E se falarmos em pirataria aí é que a indústria chora de vez.

Com esse quadro pintado, eu não me espantei quando comecei a notar em cada movimento da cerimônia do Oscar, um quase desespero para nos mostrar como o cinema e toda o mercado é importante. No momento mais óbvio, vinhetas com atores dizendo qual o primeiro filme que se lembram de ter assistido promoviam, quase num tom choroso de despedida, como aquela experiência na sala escura era única e marcante.

Eu concordo – assistir filme no celular é uma babaquice sem tamanho – mas o problema vai bem além da tela em que se vê, e passa a ser simplesmente não ver. Dessa forma, passaram as 3 horas e 8 minutos da premiação gritando para o mundo – inclusive com a Sandra Bullock arriscando um mandarin – porque você deveria gastar o seu dinheirinho com ingresso de cinema.

E teve até a política da pena, com a valorização e holofotes para os profissionais da indústria, principalmente daqueles que nunca aparecem. No anúncio dos indicados, víamos cenas e depoimentos de cada um em relação ao processo criativo daquele trabalho em si. Algo sempre mostrado, é verdade, mas com um tom ainda mais sóbrio e centrado no talento artístico que você não verá em mais lugar nenhum.

Eu vou no cinema praticamente toda semana, e apesar da distribuição brasileira não colaborar em nada me emprenhei para assistir todos os filmes indicados. E, ainda assim, não consigo ser tocado por esse apelo. O trabalho criativo deve ser valorizado e premiado sempre, mas a indústria que o comercializa patina para tentar se adaptar.

A audiência da cerimônia em si é outro problema para a Academia, mas isso é algo que eu me importo bem menos. A ironia do Oscar nesse ano é que, mesmo sendo um dos mais curtos da última década, faltou ritmo, e praticamente nada que o Billy Crystal tenha feito funcionou – o retorno dele aliás foi outra nostalgia da noite.

A única luz de que tudo poderia ser melhor foi quando Chris Rock pegou no microfone e, se a Academia for um mínimo esperta, já o fez sair dali com o contrato assinado para apresentar a festa em 2013. Em 2005 poucos gostaram dele como host, mas já que esses parecem tempos de medidas desesperadas, eu não me surpreenderia. Uma coisa é certa: a perna da Angelina Jolie deveria voltar.

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Pós-considerações sobre SOPA [Parte 1]

Abaixo da superfície

Era final do ano passado e eu estava começando a matutar umas ideias para meu segundo artigo para o B9 sobre compartilhamento-download de conteúdo, mudanças de lógica e novos comportamentos quando, muito coincidentemente, ao navegar por certos sites gringos dignos de credibilidade, conteúdo e atenção deparei-me pela primeira vez com algumas notícias sobre o Stop Online Piracy Act e Protect IP Act. Os olhos arregalaram-se, os pêlos da nuca eriçaram, e desde então continuei apreensivamente acompanhando o desenrolar da trama, e discutindo e repassando informações nos twitterfacebooks da vida.

E aí, chegando mais perto dos momentos decisivos, pôs-se em ação o já conhecido e estabelecido modus-operandi de disseminação de informação, principalmente as de teor polêmico acima da média, e de mobilização da web: sites de informação jornalística começam a tocar no assunto (atrasado, com média de uma semana antes do evento), blogs replicam em tom alarmista, usuários começam a prestar atenção, sites e blogs criam be-á-bás e F.A.Q.’s sobre a questão seguido em um crescendo até alcançar os níveis de mini-histeria-redes-socialísticas e criação de rebanhos de usuários engajados de testa franzida, preocupados com SOPA desde pequeninhos.

E todos, olhando pra um só lado e, como sempre, esquecendo e/ou incapazes de enxergar que o quadro, sempre, sempre é maior e mais complexo do que a imagem chapada na largura e altura no monitor. Suas implicações e consequências se refletem em 3D, no eixo Z do volume e profundidade.

O efeito mais pernicioso de SOPAs e PIPAs não é só a arbitrariedade de sumariamente fechar sites em nome de detonar pirataria, o brabo mesmo é o objetivo a médio-longo prazo, maliciosamente entranhado nessas ações. Esse efeito seria, num futuro bem próximo, a pavimentação da involução, do caminho regresso a velha mídia de mão única.

A volta ao controle total de conteúdo e mídia (agora digital e virtual) pelas corporações, sem lugar nem para o usuário ativo nem para a livre produção de conteúdo independente. É a insistente tentativa de levar o usuário de volta para o estado primitivo de mero espectador-receptador e transformar a web do século XXI na televisão do século XX, no que há de pior neste conceito de passividade: veículo de puro consumo.

SOPAs, PIPAs e similares que ainda estão por vir, são censura e/ou caça-pirataria apenas na superfície. O quadro é maior, mais feio e mais profundo. É pior, é controle e moldagem de comportamento. Estes projetos de lei e mecanismos de controle são o reflexo direto, mas escamoteado, das corporações dominando completamente a produção de conteúdo e ditando o que e como você consumirá, deixando apenas o quando como alternativa verdadeira de sua escolha. Ah, mas é claro que sua voz será ouvida sim: em pesquisa de opinião…

E voltaremos ao status quo que as corporações são loucas para recuperar: eles emissores, você receptor (pagante, é claro) e a web o meio. O bom dessa involução , de emissor-receptor-meio, é que velhos livros de teoria da comunicação poderão voltar a serem usados.

1. Porque relevância é um termo que já perdeu qualquer resquício de sentido no território virtual nacional.
2. E também criador de conteúdo.
3. Fator que pode substituído por qualquer outra questão controversa e/ou intimidadora.
4. A serem comentados na parte 2 dessas pós-considerações, daqui a alguns dias.

PS: As ilustrações deste texto estão disponíveis para download GRATUITO e uso sob licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.5). Ilustrações – A3 – cmyk (700 KB). A imagem no formato vetorial “EPS” (Encapsulated Post Script) pode ser aberta na maioria dos programas gráficos e redimensionada para o tamanho desejado sem perda de resolução.

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“O Brado Retumbante” e suas muletas visuais

Entender da gramática cinematográfica é fundamental, especialmente para evitar o uso indiscriminado de algumas ferramentas, como fez a série global “O Brado Retumbante”

Quem joga videogame sabe que a chave para aprender os novos golpes, ou truques, é repeti-los ao extremo. Às vezes o jogo exige um número específico de repetições para melhorar a habilidade, às vezes o único jeito de aprender é tentando até decorar. Bem, no cinema é a mesma coisa. Há uma série de técnicas específicas dentro da gramática cinematográfica, tudo isso à disposição do diretor, responsável direto pelas escolhas de movimento de câmera, uso de lentes e outras invenções visuais. Um erro comum – muitas vezes transformado em “estilo” – é repetir alguns deles à exaustão, como visto na recente série brasileira “O Brado Retumbante”, da Rede Globo. Aposto que todos os espectadores sabem de cor como fazer rack focus e como não fazer diálogos over the sholder.

Aproveitando minha breve passada por São Paulo em janeiro, conferi a mais recente minissérie da Globo. Muita gente tem falado sobre as câmeras HD do plim-plim e da melhoria na qualidade e tal, foi hora de colocar tudo isso à prova. Sem dúvida, o visual é impressionante e a alta definição valoriza muito um produto televisivo, assim como o famoso production value e a grandiosidade do projeto. Fiquei empolgado com o primeiro episódio especialmente pela decisão do roteiro em criar uma Linha do Tempo Alternativa, com um Brasil contemporâneo, mas cheio de alterações políticas. Pois bem, fui fisgado… mas alguma coisa incomodou. Seriam os vícios de TV, com cortes bem característicos ou alguns diálogos excessivos? Talvez. Fiquei com a pulga atrás da orelha.

A ficha caiu no segundo episódio. O diretor e o diretor de fotografia pareciam dispostos a tentar todas as vertentes possíveis e imagináveis do rack focus – quando o foco da lente varia entre o primeiro e o segundo plano, normalmente executado em diálogos para garantir a atenção do espectador num ponto específico – e de diálogos com over the shoulder sujo, ou seja, um personagem fala ao fundo, enquanto alguma parte do corpo da contraparte aparece, desfocada, em primeiro plano.

Por mais técnico que pareça, é responsabilidade do diretor garantir a manutenção de sua criação visual

Essas ferramentas são bastante efetivas e usadas por praticamente todos os cineastas de Hollywood. No caso de “O Brado Retumbante”, a insistência na mesma técnica passou a incomodar e aí é que mora o perigo, pois, rapidamente, fez a transição de truque bacana para elemento responsável por tirar o espectador do clima muito bem estabelecido pelos pontos fortes da produção, como, por exemplo, as belíssimas tomadas aéreas do Rio de Janeiro. Por mais técnico que esse argumento pareça, é responsabilidade do diretor garantir a manutenção de sua criação visual, não de ficar lembrando o público a todo momento que há uma lente focando e desfocando.

Entretanto, o rack focus repetitivo não chega aos pés da pior decisão da série. O uso do diálogo over the shoulder sujo é bem definido e aceito, aliás, praticamente uma obrigação para não parecer tudo certinho o tempo todo. A escorregada se deu pelo fato da direção ter optado pelo enquadramento mais estranho possível, ao colocar a parte suja – ou seja, o corpo ou cabeça do interlocutor – ocupando mais de 60% da tela, deixando o personagem que falava espremido no cantinho da tela. Isso é um deserviço quando se tem gente como Maria Fernanda Candido e Zé Wilker em ótimos papéis.

A ideia de ter atores famosos e talentosos é justamente se aproveitar de sua habilidade, não de esconde-los atrás da cabeça de alguém, e isso “O Brado Retumbante” fez aos montes. Chegava a ser um alívio ver uma cena limpa e sem exageros. A impressão é de que a equipe envolvida aprendeu esses truques e resolveu mostrar que sabia fazer. Ok, entendemos o recado, mas para isso eles cometeram o maior dos pecados: cair na repetição. TV normal pode ser feita no automático e cheia de clichês de enquadramento e técnica, é esperado. TV em HD e com um production value tão grande, e cara de cinema, não pode cair na mesmice. Variedade é obrigatória e a Rede Globo deveria saber disso.

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Social Media Week NY: Long live Twitter!

Definitivamente, refiz os votos de casamento com o Twitter, esta ferramenta que só comecei a usar por causa de muita insistência do Merigo e de outros amigos e que, hoje, eu não consigo viver sem.

Mas gosto pessoal não é o único motivo para se adorar o Twitter.

Reunidos em um painel sobre a Censura ao Twitter por parte de diversos governos no mundo com insights levantados por Paul Smalera, da Reuters, Bianca Bosker, do Huffington Post e pelo mediador Anthony de Rosa, admirou-me que esta rede social que não vale tanto ou possui os mesmos usuários do Facebook e tem limitações de mensagens que nenhuma outra rede tem seja o alvo preferido de ações judiciais ou autoritárias de presidências, déspotas e quem está no meio-termo.

É claro que não é possível afirmar que podemos depender apenas do Twitter para uma comunicação global eficaz de informação. Empresas invariavelmente variam. Mudam rumos, políticas, formas de ganhar dinheiro. Duvido os dois então jovens rapazes do Google, ao chegar a um algoritmo revolucionário, imaginaram-se discutindo política chinesa como parte de sua estratégia de ganhar o pão nosso de cada dia. Possivelmente devem estar calculando o algoritmo de negociação com o Partido Comunista…

Mas o passarinho, ah, o passarinho. Você soube em primeira mão sobre a morte do Michael Jackson, do Steve Jobs e da Whitney Houston por ele. Mas soube mais: o que estava acontecendo no Irã no exato momento em que Mamoud Ahmadinejad se reelegeu (escrevi o nome dele com certo medo de receber “visitas” por aqui) pelo olhar de iranianos, que a Lei Ficha Limpa ia ser engavetada, que o que aconteceu na Primavera Árabe teve enorme contribuição das redes sociais, que as Acampadas espanholas foram um grito de uma juventude enfrentando quase 50% de desemprego em sua faixa etária, que a revolta em Londres não era só algazarra de arruaceiros, que o Occupy Wall Street organizou-se solidamente pela web e aqueles 200 gatos pingados acampados transformaram-se em milhares pelo mundo, incluindo SP.

Esta maravilha está sob ameaça, e clara: tanto leis de controle da pirataria e de outros crimes na Internet, bem como processos de quebra de sigilo e fechamento de contas abrem precedentes para esta relação única de seus usuários possa ser prejudicada.

A conclusão da mesa e deste autor, em certo ponto sombria, é a de que o cenário de Mídias Sociais e a livre disseminação da informação não é consistente. Não será como “1984″, não será uma Era de Aquário. Possivelmente, pode até não ser por uma rede social existente hoje.

E veja que não falamos de marketing ou de como as redes estão ganhando dinheiro ou angariando investidores. Você, caro planejador de Mídias Sociais, está olhando para o futuro e pensando pelo menos um pouco nisso? Ou aposta na eterna liderança do Facebook, que tem a política de privacidade mais estranha de todos os seus concorrentes?

Acompanhe também outros relatos meus, quase em real time, em http://smw.ag2.com.br

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Qual o papel das redes sociais nas agências?

Há mais ou menos um ano eu escrevi um post aqui no B9 em que perguntava onde na agência, as redes sociais deviam ficar. Se era no planejamento, criação, atendimento ou numa área dedicada. Não chegamos a uma conclusão embora até por conta das características desse nosso mercado. Mas agora a pergunta que gostaria de fazer a vocês é outra:
Qual o papel das redes sociais nas agências?

A pergunta deve ser levada a sério. Por que as agências devem fazer o atendimento SAC em redes sociais? Esse é o papel da agência de publicidade? Se sim, porque não pegamos o telemarketing também? O que acontece é que geralmente o cliente quer resolver sua vida ali de uma vez e a agência, para não perder o fee/job, acaba fazendo um pacote que inclui monitoramento, relatórios, SAC em redes sociais e ações/”ativações” e relacionamento com blogueiros. Tudo é vendido como uma coisa só. E, embora tenha alguma sobreposição de funções, não é a mesma coisa. É vender como parte de um pacote que, na real, não deveria ser oferecido dessa forma.

Acho o monitoramento e relatórios partes importantíssimas para a ajudar o planejamento e criação das ações. Acho que o relacionamento com blogueiros igualmente importante como função a ser feita pela agência mas o SAC eu não vejo motivo em ser executado pela agência.

Se a parte do SAC ficasse dentro das próprias empresas, teríamos as pessoas que realmente entendem do produto/serviço respondendo. Pessoas que entendem e têm algum nível de liberdade para responder aos seus consumidores de outras maneiras. Os últimos cases de sucesso em SAC online o do poema do Bradesco no Facebook e a atuação geral do perfil do Ponto Frio no Twitter são exemplos de como essa mudança é benéfica para a marca.

Claro que para existir um case como esses que citei, é preciso ter uns 200 exemplos de o que não se deve fazer em redes sociais. Mas aí eu pergunto, porque o pessoal que trabalha com redes sociais não vai para o cliente? Quando eu estava na faculdade, um professor de marketing sempre nos perguntava porque todo mundo queria só agência e poucos consideravam cliente. Muitas vezes os horários são melhores, a remuneração e a qualidade de vida também. Não é sempre mas acontece.

Uma amiga minha foi a um evento de gestão de marcas em redes sociais nos EUA no ano passado e me disse que ela era uma das únicas pessoas de agência lá. 95% era formado por pessoas que eram responsáveis pela marca em redes sociais e que eram empregados da marca para fazer exclusivamente isso.

A impressão que tenho quando vejo SAC online dentro de agências é a mesma que tenho quando se está fazendo uma obra em casa. É o famoso “Já que…”.
“Já que estamos fazendo uma churrasqueira, porque não fazemos uma piscina também?” ou “Já que estamos monitorando e fazendo relatórios para ajudar o planejamento, porque não respondemos os consumidores direto daqui também?”. É uma idéia que parece boa mas que na prática é bem complicada de ser realizada.

O que acontece é que o cliente não quer ter esse custo na empresa, mas acho que deveria. E se uma empresa contratar pessoas boas em redes sociais, pode até ter uma redução de custos de fee da agência e ter maior controle na qualidade do serviço oferecido.

Em agências pequenas, é mais difícil ainda segurar o desejo do cliente de terceirizar tudo relacionado a redes sociais. Mas pensem por um momento, por que não começamos a ensinar ao cliente que essa parte de SAC em redes sociais é melhor estar dentro da própria empresa?

O que estamos fazendo é replicar um modelo do Telemarketing? Se sim, isso pode ser ruim para todo mundo. Porque ao terceirizar o atendimento ao cliente, uma parte da essência da marca morre.

Mas assim como no Telemarketing, quando a demanda aumentar, aí sim a empresa terceiriza ou cria uma outra empresa apenas para o atendimento via redes sociais. Mas isso será um novo momento do mercado. Antes disso, é besteira.

O que temos visto em geral são marcas tratando as redes sociais como uma super ouvidoria. Reclamou ali, resolvemos rápido. Reclamou no telefone, é capaz de demorar mais. São poucas as marcas que realmente fazem o atendimento integrado, dando a mesma resposta em qualquer lugar que o consumidor entre em contato e não tentar resolver de outra maneira só porque a pessoa xingou muito no Twitter. Esse comportamento gera um vício estranho no consumidor e um problema a médio prazo para a marca. Porque o dia em que tivermos o volume de ligações que temos no Telemarketing nas redes sociais, o serviço que antes era primoroso começa a se tornar mais próximo do ordinário e aí é ladeira abaixo. E a marca vai junto. Vai colapsar.
Ouvi dizer que o mercado de Telemarketing funciona melhor quando o mercado está em crise. Se o mercado está aquecido, as pessoas mais qualificadas estão em outros empregos. Se está em crise, essas pessoas estão trabalhando em Telemarketing. Se isso for real, será que também aconteceria com social media?

Eu, honestamente, gostaria de ver os cases, a estrutura interna e organograma da área de redes sociais do Bradesco e do Ponto Frio. Eles respondem a quem? Ao marketing? Ao Atendimento ao cliente? Com esse tipo de informação podemos mensurar melhor o momento do mercado e sabe se é ou não o momento de terceirizar. Vai que você descobre que a equipe do Ponto Frio no Twitter é formada por uma pessoa só mas bem relacionada com a área de atendimento ou com acesso ao software de CRM?

Eu acho lindo quando uma empresa, ao procurar uma agência de publicidade para esforços em redes sociais, fala que o SAC online (ou 2.0 ou o qualquer outro termo) não deve ser contemplado na proposta porque isso é papel deles. E já vi empresas gigantes fazendo isso.
Assim como acho corajoso quando uma empresa percebe que terceirizar o atendimento ao cliente está danificando a marca e resolve trazer esse serviço de volta para a empresa, mesmo com o um investimento mais alto.

É por isso que eu acho que é precipitado jogar a área de SAC via redes sociais para dentro de agências de publicidade, digitais ou o que for. Essa é mais uma das maneiras que a marca tem de mostrar que se importa com a entrega do seu serviço de ponta a ponta. Deixa as agências fazerem o que fazem de melhor. A agência deve ser a responsável por planejamento e criação da comunicação de uma empresa e não do SAC em qualquer canal que seja.

E para você, Qual o papel das redes sociais nas agências?

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Fazendo compras como em Minority Report

Não é de hoje que muitas pessoas têm optado por fazer suas compras online. Muito mais do que livros ou aparelhos eletrônicos, mas também roupas, sapatos e tudo mais que estiver disponível. Basicamente, abrimos mão de experimentar uma roupa em troca das comodidades que um site oferece. Mas é mais do que isso. Online, a gente encontra com maior facilidade produtos pesquisados anteriormente, além de termos sugestões de produtos que combinam com nosso perfil.

Já tem um tempo que a gente tem pesquisado aqui na Royalpixel maneiras de integrar as facilidades da loja online com o PDV físico. Afinal, com tanto avanço tecnológico, fica difícil entender porque o mundo físico ainda não está ligado ao conteúdo digital. Recentemente, entretanto, a Razorfish anunciou um novo projeto, que propõe uma forma de reinventar a tradicional ida às compras.

Denominada 5D, a plataforma já disponível em versão beta propõe integrar diferentes dispositivos digitais em ambientes de varejo. Isso significa que a 5D é capaz de conectar quiosques, telas, tablets e smartphones para criar maior envolvimento do público – e até mesmo dos funcionários das lojas – com os produtos.

Para que essa integração seja completa, são necessários 5 elementos-chave: os dispositivos, conteúdo, experiências, analytics e o gerenciamento do relacionamento com o consumidor. E, é claro, uma boa dose de encantamento, algo que não pode faltar a nenhum bom projeto digital.

Para que o conteúdo funcione, assim como online, ele deve ser relevante e acompanhar o consumidor, criando uma experiência personalizada para lembrá-lo dos produtos que ele viu. Assim, mesmo que o consumidor não compre aquele produto na loja, as informações sobre ele ficam salvas no seu celular e disponíveis para compra em apenas um clique.

De verdade, esse é o tipo de projeto que empolga a gente. E a Razorfish, com o 5D, nos deu ainda mais inspiração para isso.

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Xeiquerobeibe: o que nos ensina o comercial da Honda com Matthew Broderick

Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off) é um clássico da juventude de qualquer tempo. Nossos filhos vão ver e curtir, boto fé. Filmaço que veio pra ficar, que lembra a gente que a transgressão é possível no cotidiano, e não apenas quando se tenta mudar o mundo com uma flashmob (tipo churrasco na Crack-o-land), e vai além das estripulias bundamoles de um mercadão em crise.

Não é um comercial escoteiro que pode esvaziar aquele dia em que Ferris Bueller resolveu cabular aula e tocar o puteiro a bagunça cidade afora. Tenho a minha teoria da conspiração, dos “criativos” pensando no Matthew Broderick cantando em chinês pra “brincar” com o maior mercado do mundo ou mesmo escancarando o suposto poder que esse ou aquele carro transmite a quem o compra (e depois o próximo carro e o próximo carro e o próximo carro e a tal sensação de poder que nunca permanece…).

Aliás, a despeito de toda crítica destrutiva que vocifero por aqui, eu vi Bueller vivo, querendo sair e tomar conta daquele “filme”, estrapolar a porra produção toda, cantar “XEIQUEROBEIBE, TWIST AND SHOUT”. E durou dez segundos, enquanto ele olhava o leão marinho taxidermizado, imóvel como a vida de um homem que depende do carro que dirige pra se olhar no espelho com o mínimo de satisfação.

Contra mim, afirmo que propaganda de carro não me convence desde que eu era moleque. Nunca vi como justificar a necessidade de possuir tal caranga usando um cachorro-peixe ou colocando pôneis pra saracotear no motor de quem tem o pior veículo. Ainda mais hoje em dia com a progressão geométrica do aquecimento global e o recorde de ozônio na cidade de Sâo Paulo (vesti o ecochato como um vegetariano veste o tuberculochato).

Vejo Ferris Bueller além disso, mesmo ao volante daquele carro vermelho que devia poluir pra caralho caramba. Naquele dia ele podia tudo. E todo mundo pode tudo em algum momento, principalmente quando solta o grito preso na garganta e canta seu XEIQUEROBEIBE, não por causa de uma carcaça de metal recheada de plástico, sustentada por quatro rodas e um motor movido por cavalos imaginários.

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Madrid 2020: Olhando para os nossos próprios problemas estéticos

Ontem o Merigo me encaminhou a mensagem de um leitor do B9 chamado Lucas Sousa, comentando que eu poderia fazer um texto sobre toda essa polêmica em torno do logo da candidatura de Madrid para ser a sede dos Jogos Olímpicos de 2020. E sinceramente? Fui dormir sem a menor vontade de falar sobre isso.

Mas acordei com esse nó na garganta. E é o seguinte…

Eu me canso dessas críticas mal fundamentadas sobre o logo disso ou daquilo. Como brasileiros, nós deveríamos é estar pressionando, criticando e lutando contra os nossos próprios problemas estéticos – como aquela coisa horrorosa que a agência África criou para a Copa do Mundo de 2014 e tentou nos convencer de que era o bonito, agradável e ideal. O Brainstorm9 chegou a receber um pseudo e-mail da “Justiça Brasileira”, nos proibindo a comentar sobre o tema. Acreditam?! Porque é assim que as coisas funcionam por aqui, no “melhor país do mundo”.

Agora, falando da Espanha?
Eles tem todo o meu respeito e admiração quando se fala em design.

É uma terra fértil (muito mais do que a nossa), com grandes – e ativos – profissionais e escritórios, como a Astrid Stavro, o Design People Studio, Martí Guixé, Toormix, Yvonne Blanco e até mesmo o “papa” da tipologia, José Scaglione. Seis nomes que pipocaram na minha cabeça – quando, se pensarmos ou pesquisarmos mais encontraremos outros seiscentos desses por lá. É como meu amigo Thiago Massambani (que tem família em Madrid) sempre me diz: “– Saulo, eu ando no supermercado e parece que estou em uma aula de design de embalagens, ando na rua e é aula de comunicação visual“. Igual aqui: só que ao contrário.

Logo, caguei se alguém acha que esse logo parece um packshot de Havaianas. Mesmo que fosse o caso, seria melhor que parecer o Chico Xavier psicografando uma carta, não?

Ou aquela história de que escreveram “20020″ ao invés de “2020″. Você, Crítico de Design via Twitter, acredita mesmo que esse logo foi feito em 20 minutos? Que ninguém olhou durante semanas (e talvez meses) para cada curva dessa peça? Tanto faz, onde você vê “20020″, eu vejo nitidamente “M20″.

No final das contas, temos é que lamentar o fato de que toda essa diferença não é apenas estética, mas é estrutural, cultural, política e social. Quer um exemplo? Madrid tem Barajas (quem já pisou lá, sabe do que eu estou falando): um aeroporto tão impressionante, que quem olha logo deduz que o Rio (sede de 2016) não tem condição de construir algo parecido nos próximos 80 anos. No lugar disso, fica a dica de uma amiga que trabalha no ramo da aviação: “- Se você comprar muitos eletrônicos em Nova York, volta pelo Rio! Porque o scanner de malas do Galeão está quebrado faz quase 10 meses.”

E Lucas, você me curou de um câncer. Obrigado.

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Luiza no Canadá, o meme que morreu cedo demais

Hoje é sexta, e me parece ainda cedo para decretar que é o fim de uma das semanas mais bizarras da internet. Luiza, Canadá, SOPA/PIPA, discussões infindáveis sobre sexo sonolento, fim do Megaupload, Anonymous que tirou as calças, pisou em cima e atacou um monte de sites e, agora, algo a ver com suruba que eu ainda não me dignei a descobrir o que é (talvez o único tópico que eu não deveria perder).

E não querendo ter a empáfia de analisar e procurar uma explicação filosófica pra tudo, discordo do que disse o Nicolas nesse post, ontem. A Luiza no Canadá cansou sim, e eu não sou ranzinza por isso. É mais um sintoma gritante e atual da nossa neurose causada pelo excesso de informação.

Adoro memes e como as redes sociais colaboram para a criação e compartilhamento de conteúdo instantâneo, onde pessoas de toda parte podem fazer suas piadas, mas o exagero de repercussão e o circo gigantesco da cobertura da imprensa praticamente tornaram os meios inúteis nos últimos dias.

Com essa corrida e circo para ver quem consegue espremer mais a piada, o mistério acabou.

Não, eu não sou contra a popularização e alcance da rede, como se a internet devesse ser um clubinho fechado dominado pelos “analistas de mídias sociais” e frequentadores de fóruns obscuros, pelo contrário – também não me acho um imbecil por nunca ter ouvido Michel Teló, mas esse é outro assunto – só que todo excesso torna-se insuportável. Eu não consegui ler ou aproveitar nada do que foi dito em português no Twitter e Facebook essa semana, plataformas que justamente deveriam ajudar a me manter conectado com amigos e pessoas/marcas/veículos que julgo importantes para o meu conhecimento.

Por exemplo, mal descobrimos que a Luiza estava no Canadá, e a mídia já tinha falado com ela, com o pai dela e com família toda, já tinha descoberto seu paradeiro, comprado passagem de volta, e tão logo pisasse no Brasil – com direito a transmissão ao vivo de sua chegada – a adolescente de 17 anos tinha participação marcada em telejornais, comerciais, entrevistas, já sabíamos tudo sobre a sua vida, tinha vendido seis apartamentos e certamente já tinha combinado de preparar alguma receita culinária no programa da Ana Maria Braga ou algo que o valha.

Não só ferramentas sociais, mas grandes portais, jornais e toda a sorte de sites tinha sido invadido pelo efeito Luiza – quem não entrava na onda era bobo, feio e chato. A moça se tornou celebridade da noite pro dia, e agora é garota propaganda da Vivo (seu pai também vai ser) e da Fiat, por enquanto.

“É muito estranho…”

Não existe problema nisso. Um dos grandes trunfos da imprensa e da publicidade é aproveitar oportunidades para gerar audiência e atenção. A diferença é que antes o universo da internet não fazia parte desse radar. Um fato global ou um bordão de novela era capaz de gerar essas reações, mas uma piada ou uma bobagem qualquer surgida na internet dificilmente ultrapassava o cabo azul do computador – ou o sinal do wi-fi, para os mais modernos.

É bonito e revolucionário ver que agora isso acontece, mas com essa corrida para ver quem consegue espremer mais a piada, o mistério acabou. Não deu tempo nem de gostar da Luiza, e eu já estava odiando a coitada e jurado nunca pisar no Canadá. A brincadeira é saudável e diverte, mas precisamos mesmo dispensar tanto esforço por isso?

No começo de 2011, nos EUA, aconteceu quase a mesma coisa. Alguém encontrou um mendigo com uma voz radiofônica, gravou, publicou no YouTube e em 15 minutos o mundo inteiro conhecia Ted Williams. A imprensa americana caiu em cima querendo fazer todo tipo de atração com o cara, agências e empresas correndo para ver quem chegava nele primeiro, e todo o mesmo freak-show que acabamos de ver.

A diferença é que, pelo menos, Ted Williams realizou seu sonho: Ter um emprego e uma casa.

Sim, eu sei que pra fazer meme e humor não precisa ser solidário ou edificante. Que não temos que ser profundos e complexos o tempo todo. Como falei lá em cima, eu adoro o nonsense que a internet cria com tudo, todos os vídeos de bebês e filhotes fofos, todas as imagens de memeface, LOLcat, todos os double-rainbow, rickroll, arvores somos nozes e outros bordões repetidos nas redes sociais desde os primórdios do bebê dançarino. Mas quando aparecer uma outra Luiza vamos apreciar com moderação, senão o barato acaba rápido demais.

Se atualmente reclamamos da angústia de viver com excesso de informação – a dor de nunca saber o bastante – jamais saberemos mais, pelo menos um pouco mais, se insistirmos na repetição ad aeternum daquilo que pouco importa.

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A Luiza não precisa voltar do Canadá

atualizado – Luisa é com z

Os dias passam, todos falam o tempo todo de algo muito engraçado: pode ser o choque do Lasier, o Lidio Mateus cantando uma música do Fresno, todo mundo falando qualquer coisa, só que ao contrário, ou mesmo descartando a Luisa, que está no Canadá.

Acho meio mágico milhares, talvez milhões, de pessoas rindo e produzindo conteúdo humorístico com a mesma deixa e raramente havendo alguma peça que não tenha graça. Foda. Pra gente que vive reclamando da vida mesmo vivendo muito mais e melhor que qualquer dos nossos antepassados jamais sonhou viver, deveria ser um alento e tanto. Mas não é.

Tem um momento que o tal do senso comum decide que acabou a piada, que ela cansou. Mas ela não cansou, em minha opinião. São alguns rabugentos cujas piadas não foram muito bem sucedidas ou que perderam a deixa.

Aliás, pior, que perderam a graça. E, dentre os mistérios da mente humana, está este: a tentação de aderir ao corte, o medo de passar a linha social do “basta”, de ir além do embargo pela repetição, de não se permitir rir e rir e rir da mesma coisa, que, no final das contas, esta sim, não perdeu a graça. Afinal, senhoras e senhores, uma das regras basilares do humor é a repetição.

Escrevo para decretar que, a despeito de toda babaquice vespertina global, para mim, a Luisa nunca vai voltar do Canadá. E tenho dito.

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A Reflexão e a Criatividade

Você pensa sobre Criatividade ou só tenta ser criativo?

No final de novembro, estive na PUC-SP para o IV Seminário NEMES ( Núcleo de Estudos de Mística e Santidade da Pós-Graduação em Ciências da Religião), que acontece anualmente, encabeçado pelo filósofo Luiz Felipe Pondé. E aquele contexto me fez retomar uma questão importante, geralmente esquecida em nosso cotidiano: a importância do fundamento e da reflexão no ato criativo.

Não é novidade que vivemos em uma sociedade desfavorável à criatividade. Burocracia, stress, necessidade de trabalhar nos “moldes que funcionam”… e aquelas reclamações-clichê das pessoas no Happy Hour da sexta à noite não deixam de ser verdade. No entanto, habituados com esse modus operandi do nosso cotidiano, nos tornamos nosso maior adversário. Assim, como poder reivindicar a si mesmo criatividade, se, sob uma ilusão de ‘movimento’ estamos, de fato, estagnados?! E, uma vez assumido isso, como fugir dessa terrível inércia?

Talvez a história possa nos ajudar.

Na trajetória de alguns grandes artistas há dois pontos que sempre me chamaram a atenção: primeiro, eles são profundamente conhecedores da tradição da área escolhida. Buscam, pesquisam, vivenciam e têm uma base sólida. E como desdobramento disso, vem o segundo: eles refletem a respeito da própria criação, de seu próprio entendimento das coisas e sobre o meio onde tudo isso está inserido – como um diálogo entre eles e o mundo.

Aproveitando o post do Saulo Mileti, tomemos como exemplo o músico Miles Davis. Conhecido por estar sempre um passo à frente no que diz respeito à inovação, Miles era, antes de tudo, um conhecedor da tradição da música americana e do Bebop, gênero que surgia na época como  fundador do que seria chamado “Jazz moderno”. Tamanho era o seu conhecimento sobre o assunto, que trabalhou e gravou com Charlie Parker (um dos criadores, senão “O” criador do Bebop) por alguns anos, e  uma vez dominada essa linguagem, passou a moldá-la à sua maneira (com o respaldo de já ser uma referência naquilo em que estava trabalhando) e também a se perguntar sobre as possibilidades ainda não exploradas naquele gênero em ascensão. O resto virou história, ou melhor, ele virou “A” história, tendo lançado as principais vertentes e músicos e sendo considerado o mais original artista de Jazz da segunda metade do Séc. XX.

O ponto onde quero chegar é: Quão consistente é seu conhecimento a respeito da sua área? Digo, história, conceitos, referências, ligações com outros campos, real compreensão desses outros campos, etc. Outra: Quanto tempo você dedica para nutrir, pela reflexão, o seu processo criativo pessoal e suas implicações (suas limitações,  pontos positivos, opiniões externas, seu trabalho em relação a outros profissionais/artistas, etc)? Talvez aqueles dias em que lhe falta criatividade tenham um correspondente nessas perguntas. Desperdiçamos tempo para saber qual o último “vídeo mais assistido do Youtube” (que amanhã será outro e o de hoje ninguém lembrará), ou para baixar os 64 discos, contando com os não oficiais, da sua banda preferida, dos quais metade você dificilmente ouvirá, mas esquecemos de olhar para trás, de pesquisar o fundamento das coisas, e para dentro (nós mesmos), o fundamento da nossa criatividade!

Um professor, compositor e esteta do século XX chamado Arnold Schönberg, em seu livro “Harmonia” (1911), já alertava sobre o perigo da falta de fundamentação, que ele chamava de “instrução”, “preparação integral” (Durchbildung). Hoje, o excesso de informação, com sua velocidade assustadora, nos priva dessa formação sólida e desse tempo para refletir, ou seja, você acaba não sabendo nada sobre nada, mas já leu sobre tudo. E isso tem um efeito devastador no processo criativo, pois você não tem raiz em lugar nenhum.

O fato é que em última instância, nós permitimos que sejamos privados disso. Discordo daqueles que dizem que para ter criatividade é preciso estar 100% “antenado”, vendo as “coisas novas”, até porque faz tempo que não aparece algo realmente novo nesse planeta. E isso, acredito ser uma “mal do nosso tempo”. Uma espécie de “Idade das Trevas” que passamos conceitualmente/artisticamente, fantasiada de “pura criatividade da geração YouTube”. O texto “O fim do Futuro” (The End of the Future) de Peter Thiel (National Review) fala sobre isso de uma maneira global muito interessante e séria.

Para mim, ainda hoje, solidificar-se com um olhar voltado para a tradição e para a reflexão é acessar o que há de mais inovador e inexplorado. Seja na Filosofia, na Música ou nas Artes, o passado talvez fale mais sobre o “Ser criativo” que o Facebook. Isso me leva para outra pergunta: O que será da criatividade quando essa geração “Touch Screen-cabeça vazia” crescer?!

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O Brasil tá com vergonha do Brasil? Ai se eu te pego…

De tempos em tempos nos amamos (sendo que as Copas dos Mundo são um desses momentos mais intensos) e, normalmente, mais comumente, nos odiamos e mostramos todo o nosso complexo de cucarachos, daqueles que acham que tudo que é gringo é melhor, mais bonito, mais organizado, mais sério, etc., etc. Conhece a cena? Pois é.

2012 começou com tudo e, como não poderia deixar de ser, com uma bela polêmica nas mídias sociais: Michel Teló.

Pra entender, resolvi ver os vídeos do moço e, claro, ferrou, pois não consigo mais tirar da minha cabeça o “ai se eu te pego na minha humilde residência!” Ok, ok, eu sei que misturei as músicas… mas que elas pegam, pegam, já ouvi em inglês, uma dupla francesa ótima (abaixo), os israelenses fake, e várias impublicáveis, etc. e aí fiquei pensando.

O cara é bom. Não é erudito, não é um Chico, mas nem acho que seja a proposta dele. O que ele perde pruma Macarena, por exemplo, ou prum Axé ou pruma Lady Gaga? É pop, é fun, é lazer, é só diversão. Toca Teló no autofalante do cara parado na praia com o porta-malas aberto, toca na favela, toca nos casamentos da classe média e toca no Jurerê Internacional, ou seja, toca no Brasil – a revista Época tem sua razão. E toca Teló no mundo!

Aí, vendo a reação nas mídias sociais, a revolta de quem não se sente incluído no “todo mundo” da Época ou quem acha que Teló é muito ruim ou ainda quem acha que o Brasil é muito ruim por conta de gostar/ouvir/falar do moço, me bateu uma sensação muito forte de que temos uma puta vergonha de nós mesmos, como povo, como ajuntamento de pessoas, não nos assumimos e não nos orgulhamos do que somos.

E, interessante, as mídias sociais têm funcionado para nós como um enorme espelho, uma imensa vitrine onde estamos todos expostos, tudo ali para quem quiser olhar. Os súditos estão nus!

Orkut, Facebook, Twitter, G+, tanto faz onde estejamos, estamos ali escrachando nossas idiossincrasias, nosso jeito, nossa ética flexível, nosso “faça o que eu digo, mas não faça ou que faço”, nossa lei de Gerson, nosso jeitinho brasileiro, nosso gosto musical, de leitura, nosso humor, nossa educação, nossa religião, nosso sincretismo, nossos hábitos, nossos costumes, nossas línguas, nossos preconceitos, nosso racismo, nossa genialidade, nossa inventividade, ou seja, nossa brasilidade toda!

As mídias sociais estão transformando a nossa vida de todo em um enorme livro aberto, explícito e transparente para quem quiser ler. Faz isso individualmente, mas faz isso em massa, como povo.

E quando a gente lê tudo o que as mídias sociais nos mostram sobre nós mesmos, a gente se estranha. É isso que sou como povo? A gente pensa “eles gostam, não eu”, mas canta no Jurerê Internacional ou na balada! A gente arruma desculpas para explicar ou justificar, a gente se envergonha da gente mesmo e tenta mostrar que aquilo é “alguém” não a gente, e a gente não consegue se ver simplesmente como um povo alegre, eclético, divertido e que, no caso do Teló, está só having fun.

Deixando Teló de lado, as mídias sociais podem cumprir um papel fundamental de nos fazer olhar nosso umbigo e nos sacar melhor como povo, quem somos, entender que Brasília é um reflexo de nós, que o Lula é a nossa cara, que não mudamos as situações que nos incomodam pois temos essa ética elástica, que nossa alegria e leveza com o mundo é contagiante, linda e talvez uma das coisas mais incríveis que temos como povo e, até, por que não, que o mundo cantar, curtir, rir, plagiar e brincar com o Teló é superbacana pra gente e não o contrário!

Aí se eu te pego… delícia! ;-)

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Procura-se: Público disposto a ler bons textos, independente do tamanho

Meses antes de sequer imaginar que teria a chance de conhecer William Shatner na última Comic-Con, fui surpreendido por sua série de entrevistas – Raw Nerve, no canal Bio – com atores de “Jornada nas Estrelas” e outras celebridades. Cheguei a acompanhar o Mind Meld – no qual Shatner e Leonard Nimoy batiam papo sobre a série e os filmes – mas não carreguei muita coisa, de fato, daquelas conversas.

Nessa nova fase, porém, um Bill mais experiente e contemplativo surgiu e essa versão fez com que toda essa relação de amor e ódio estabelecida ao longo dos últimos 20 anos (por conta de minha devoção inabalável a “Guerra nas Estrelas”, claro) fizesse sentido. Se não falhe a memória, na entrevista com Walter Koenig, ele disse algo inesquecível:

“Quero conhecer as pessoas, quero entender o que faz com que elas funcionem, como pensam e por que pensam”.

Por mais idealista que possa soar, Shatner definiu a essência de qualquer comunicador, que, antes de comunicar, precisa compreender qual mensagem precisa transmitir. É um pensamento indispensável nos dias de hoje com o público pulverizado, maior acesso à informação e, seja na publicidade, seja no jornalismo, com clientes perdidos no tiroteio de opções.

Em meus anos de faculdade, ninguém questionava a validade do trabalho do jornalista. Não havia opção à escola da reportagem e ao grande veículo impresso, rádio ou programa de TV, logo, boa parte das conversas de dedicavam a prepara a técnica, manter a ética e respeitar aquela neutralidade utópica que, de fato, nunca existiu. Veio a Internet. Boom. A escola clássica despencou e o resultado é uma imprensa perdida, em busca de novos formatos, de novas rendas, mas, acima de tudo, em busca de uma razão para continuar existindo.

“Seu texto é muito longo, ninguém lê”

Aproximando esse cenário do meu dia a dia como correspondente de entretenimento, um dos mais afetados pela nova mídia, a coisa piora um pouco, pois quando não se existe mais o elemento “especial” da proximidade com o astro e se a janela de lançamento caiu de 1 ano para 3 meses, o que sobra? É aí que William Shatner acerta em sua definição, é aí que editores brasileiros – especialmente os online – precisam lembrar das razões que os levaram a essa profissão e focar no objetivo do que fazem. Hollywood é de todo mundo.

Qualquer blog consegue traduzir entrevistas, pegar fotos, repercutir feeds de notícias e se chamar de “site de notícias”; quem faz isso vai ter milhares de concorrentes exatamente iguais, fato, mas estamos falando de jornalistas ou de verdadeiros redatores que, felizmente, puderam se expressar sem o filtro da grande imprensa. Negada que faz isso para tentar ficar famosa quer saber de hit, não do efeito que seu trabalho causa nas pessoas.

Quantas vezes não ouvi “seu texto é muito longo, ninguém lê”. Eu luto contra essa mentalidade e já perdi muito trabalho por isso. Não é reclamação, foi uma opção. Ouvi isso hoje, aliás. Aquela desculpinha do “ninguém lê texto grande na internet” não cola, desculpe. Se a internet é realmente o novo canal de comunicação, significa que todas aquelas pessoas que aprenderam a apreciar a boa matéria apurada e informativa, ou aquela opinião fantástica do articulista preferido, desaprendeu e vai ser obrigado a “análises” de quatro parágrafos? Duvido. Quando digo Hollywood é de todo mundo, falo do acesso; hoje, pulverizado e quase sempre insosso criado pelo atual sistema de assessoria de imprensa, que encara o profissional como uma mera ferramenta do departamento de marketing.

Olhando esse cenário, um modo de escapar da cobertura rasa e do nivelamento por baixo – o que realmente matou o jornalismo, por conivência de editores e preguiça de “repórteres” que não vivem sem IMDB ou Wikipedia – é justamente a compreensão que Shatner busca em suas aventuras como entrevistador.

Em algum lugar nessa internet de Deus e o Diabo deve existir um público disposto a ler bons textos

Claro que a fofoca sempre vai existir como filão milionário ao revelar as últimas estripulias de gente relevante como as Kardashians ou Lindsay Lohan, entretanto o cinéfilo quer e precisa conhecer seus ídolos, sejam eles atores ou diretores. Com o avanço tecnológico, as chances do cinéfilo se arriscar como produtor de conteúdo é gigantesca com um blog ou até mesmo fazendo seus próprios filmes. A existência de uma base de informações confiável e relevante se torna fundamental e precisa ser oferecida em algum lugar que não os extras dos Blu-Rays.

Ao entendermos como as pessoas bem-sucedidas tomam suas decisões, o que as inspira, onde procuram talentos, o que julgam valioso nos dias de hoje, podemos compreender melhor o mercado do entretenimento, planejar nosso próximos passos e, sem dúvida nenhuma, aprender com erros dos outros. Foi algo James Cameron comentou uma vez:

“Ninguém mais faz filmes bons sobre H.P. Lovecraft, por que muita gente errou demais quando tentou; já sabemos o que não fazer”.

De certa forma, esqueceram da função do jornalismo, a de reportar e registrar, e só querem saber de resolver o problema: voltar a vender. Mudou-se o fim, perdeu-se o meio, danou-se tudo.

Alterando levemente as palavras de Shatner, quero conhecer meus entrevistados e meus ídolos, quero entender o que faz com que eles funcionem do modo como funcionam, quero saber como pensam e por que pensam.

Quero entende-los e compartilhar essas descobertas, pois sei que, em algum lugar nessa internet de Deus e o Diabo exista um público disposto a ler bons textos, independentes de seu tamanho, que clame por informação e ainda se empolgue com as declarações com alguém capaz de te emocionar na tela e te deixar orgulhoso fora dela. Pode chamar de idealista, mas eu prefiro ser chamado de jornalista.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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E se um meteoro estiver a caminho de destruir a Terra?

A COP-17 (17ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas) acabou ontem e deixou no ar uma sensação desagradável de ineficácia das autoridades em lidar com a necessidade de ajustes no modo de vida que todos precisamos encarar. Isso, embora a conversa tenha evoluído. Mais de 190 nações concordaram em prorrogar o Protocolo de Kyoto para pelo menos até 2017, a executar um novo pacto global sobre o clima após 2020 e criar um “fundo verde” de US$ 100 bilhões (também a partir de 2020).

Pois é, há quem diga que a situação de mudança climática e escassez de recursos não é tão calamitosa, mas antes começar a mudança cedo do que tarde, se assim for. E não é o que estamos fazendo.

Pensa comigo: se um meteoro estivesse se dirigindo à Terra e as mesmas 190 nações precisassem decidir se mandavam umas bombas atômicas até ele ou não, esperaríamos até 2017/2020? Seria a humanidade inteira lidando com o acaso ao mesmo tempo, será que nos viraríamos bem?

Tá, eu devo estar exagerando.

A real é que o acaso não perdoa, mas nem tudo é culpa dele: as últimas crises econômicas globais, que vem acontecendo entre espaços cada vez menores de tempo, estão diretamente relacionadas a questões que deviam ser abordadas com mais propriedada em eventos como o COP-17.

O vídeo abaixo, do post carbon institute, é de quatro meses atrás, mas explica de forma redonda o elo entre caos econômico e crise no aproveitamento/produção de recursos naturais.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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