Anistia mescla protestos e futebol e pede por menos repressão no Brasil

Quando o Gigante Acordou, as imagens eram fortíssimas e altamente emocionantes. Tanto que viraram até documentário, “Junho”, que chegará aos cinemas e ao iTunes mais próximo em breve. O mesmo tipo de material impactante foi utilizado pela Anistia Internacional em sua mais recente campanha, que clama por menos repressão às manifestações de rua no Brasil.

“Protestar não é um crime, é um direito”, destaca a entidade em postagem no Facebook.

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No vídeo divulgado, imagens reais se misturam a cenas dramatizadas de policiais reprimindo violentamente jogadores de futebol mascarados. Em meio aos sons de tiros e do clamor popular dos protestos, um batuque ‘embala’ a cena. “O mundo está assistindo”, diz uma mensagem na tela preta, antes de uma moça dar um ‘cartão amarelo’ para o Brasil, como uma forma de alerta.

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“Share It to End It” combate o bullying via redes sociais

Segundo dados de uma pesquisa realizada com 4 mil estudantes pela Coalition Against Bullying for Children and Youth, de Cingapura, 94.7% responderam que já sofreram bullying pelo menos uma vez. Uma em cada oito crianças é intimidado semanalmente. É daí que entra os esforços da entidade para tentar combater o problema, com campanhas como “Share It to End It”.

A animação, criada em parceria com a JWT, tinha originalmente 100 segundos. Toda vez que ele é assistido e compartilhado, o tempo de exibição diminui um milisegundo. O objetivo, então, é colocar o assunto bullying em pauta, fazendo com que as pessoas falem a respeito e se conscientizem sobre o problema.

Até o momento em que este post foi escrito, a animação sobre um garoto que sofre regularmente com o bullying já havia sido compartilhada 12.

Para assistir e compartilhar “Share It to End It”, é preciso acessar o hotsite da campanha.

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Uma prisão de moedas ajuda a colocar agressores atrás das grades

Para mostrar a importância de uma doação, um stand dentro do São Gonçalo Shopping, no Rio de Janeiro, convidava os passantes a ajudarem a colocar agressores ‘atrás das grades’. Os tubos transparentes recebiam as doações em moedas e aos poucos faziam com que o agressor retratado fosse ‘detido’ pela prisão de moedas.

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O efeito visual das moedas empilhadas ajuda a reforçar a mensagem de que violência contra mulher é crime, e instiga as pessoas a tomarem uma atitude sobre isso, ao invés de se calarem. Além da reflexão, a ação, realizada pela Binder para a ONG Movimento de Mulheres, reverterá toda a quantidade doada para a instituição, que há 25 anos defende os direitos da mulher.

O stand ficou durante o último fim de semana no São Gonçalo Shopping, e deve migrar em breve para outros shoppings cariocas.

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O dia de uma mulher, de um ponto de vista tecnológico

Um grupo de criativos baseados em Londres resolveu dar o seu recado no Dia da Mulher, celebrado no último sábado, usando a tecnologia para lembrar que apesar de todos os avanços tecnológicos, a violência doméstica ainda está presente na vida de muitas mulheres.

Women’s Day #troughglass usa a linguagem do Google Glass para mostrar o dia de uma mulher comum que usa a tecnologia para várias tarefas cotidianas. A princípio, o filme lembra bastante as próprias produções do Google – que não teve nenhum envolvimento com este projeto, que também não foi feito para nenhum cliente específico -, mais focado na praticidade do produto e a forma como ele pode transformar nosso cotidiano, do que em qualquer outra coisa.

Chega um determinado momento, entretanto, que a tecnologia que facilitou o dia daquela mulher, também registra a violência que ela sofre dentro de casa. É mais um ótimo filme sobre o assunto – se você buscar aqui no B9, verá outros bons exemplos – que ajuda a refletir sobre como realmente algumas coisas permanecem iguais, não importa o quanto outras avancem.

Antes de dar o play, vale o aviso de que há cenas fortes de violência.

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Liberdade, Igualdade e… Violência?

A violência parece ser uma constante na história da humanidade. Dependendo do olhar que lancemos ao passado, teremos a nítida impressão de que nossa história foi escrita com o sangue de muita, muita gente. E para provar que não somos muito melhores que nossos antepassados, temos visto por todos os cantos da internet uma série de declarações que parecem reforçar uma conduta agressiva. A famigerada fala de Rachel Sheherazade, falando que era “compreensível que os tais ‘justiceiros’ amarrassem aquele menino no poste” dada a situação precária da segurança pública, foi um dos exemplos mais marcantes das últimas semanas.

Valem menção também todas as polêmicas levantadas pelo deputado Jair Bolsonaro, durante sua tentativa de assumir a Comissão de Direitos Humanos e a situação que envolveu as declarações de Joaquim Barbosa no STF, no que tange as retiradas de acusação de formação de quadrilha no caso do mensalão do PT.

No meio de tudo isso, quando um era acusado de estar incitando a violência ou deturpando algum fato, o falante geralmente diz “eu tenho o direito de dizer o que quiser”. E ele está certo, por mais errado, certo ou violento que seja seu discurso. Pior: nos casos que achamos absurdos, vemos que há um grande número de pessoas que defende tais ideias. E nós ficamos malucos, tentando achar qualquer contra argumento que o valha. Sentimo-nos violentados. E outro lado também.

O assunto “que tipo de violência está sendo exercida (de quem e contra quem)” está quente nas redes sociais. Em ano de eleições presidenciais (e Copa do Mundo, não nos esqueçamos), será muito interessante verificarmos como os candidatos se posicionarão midiaticamente. As aulas que você, leitor, teve de análise de discurso e imagem poderão ser muito úteis para pensar acerca do cenário que se monta diante de nós.

Em casos de pessoas que supostamente “merecem morrer”, poderia-se recorrer ao italiano Maquiavel – Ainda que tal frase nunca tenha sido proferida por ele – e perguntar “os fins justificam os meios”?

No último post que fiz, acerca dos protestos que estão ocorrendo pelo mundo, uma série de questões foi levantada sobre nosso consumo de informações no ambiente virtual e as formações de opiniões num Estado democrático. A legitimação do uso ou não da violência parece ser um debate constante. Com base nos últimos três Braincasts lançados, podemos também expandir essa dúvida.

Por exemplo: se o povo deseja sangue, ele deve obtê-lo? Há sabedoria na opinião popular, mesmo quando ela parece querer um retorno da barbárie? Essas opiniões são nossas (do povo) ou correspondem a grupos de interesse de elite, que ditam o que queremos através das mídias de massa? Somos influenciados pela mídia? Se sim, quanto? E quando este discurso se espalha na internet (supostamente o meio de comunicação mais democrático que já desenvolvemos), como lidar com tudo isso?

Tendo em vista todos esses fatores, acredito ser pertinente aprofundar algumas das questões do texto anterior neste post. Para tanto, focarei na questão da violência, já que ela parece ser um tema bastante em pauta atualmente.

Bolsonaro

Sangue

Violência e Punição: uma breve história

Um dos problemas em falarmos sobre o papel da violência na comunicação é o de defini-la. Acredito que, na maioria dos casos, haveria pouca discussão sobre o caráter de violência que existe em atos extremos como assassinatos ou sequestros. Mesmo nas possibilidades de contextualização, buscando os motivos de tais atos, haveria uma concordância de que matar alguém é um ato de extrema violência – mesmo que esse alguém seja Hitler.

Em casos de pessoas que supostamente “merecem morrer”, poderia-se recorrer ao italiano Maquiavel e perguntar “os fins justificam os meios”? Voltarei a Maquiavel em breve. Por ora, acho importante mencionar que, de acordo com o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor da USP e um dos grandes especialistas em Maquiavel no Brasil, essa frase nunca foi proferida pelo autor italiano.

Voltando à questão da violência e sua dificuldade em definição, podemos citar aqui os velhos casos de “piadas mal-entendidas”. Uma “piada” racista ou machista, no ouvido de um ou outro, pode ter efeitos dos mais diversos. Para os que se ofendem, é recorrente taxá-los de “sem senso de humor”. Aquele que se ofende com a piada sente-se violentado direta ou indiretamente. Do outro lado, o que proferiu a piada, se não compreendido, também sente-se violentado (ataca-se, no caso, sua estética humorista e seus princípios morais – ambos são colocados em dúvida).

Quero deixar claro que sou absolutamente contra piadas racistas e machistas (e aprendi o perigo delas após muito tempo). Se fosse para defender um lado, defenderia aquele que se sentiu ofendido. Mas não é essa a questão que desejo levantar aqui, mas sim duas: primeiro, os exemplos que citei podem ser considerados violentos? Segundo, há alguma violência permitida?

Podemos pensar em graus. Um tapa na cara de alguém, uma ofensa, seriam atos violentos em graus menor do que um assassinato. Acho que essa ideia seria bem aceita pelo leitor. Mas, novamente, perguntamos: algum nível é aceitável? Qual seria o grau de violência socialmente aceitável nas relações contemporâneas?

Violence

Em seu livro “A História da Violência”, o historiador Robert Muchembled declara: sem dúvidas, a violência social sofreu uma grande regressão a partir do fim da Idade Média, e é um desafio do historiador entender os motivos para isso. Uma das análises curiosas que ele faz é mostrar que é no momento em que o número de assassinatos começam a diminuir que ele torna-se um problema social. Tornando-se fenômeno cada vez mais raro, coube às autoridades de tais tempos e lugares questionarem “o que fazer com aquele que agride?”.

Sem dúvida, a preocupação com a violência remonta a tempos bem mais remotos do que o medieval. O famoso código de Hamurabi, datado de cerca de 1800 A.C., já explicitava a norma de conduta “olho por olho, dente por dente”. No antigo testamento bíblico, temos os 10 mandamentos, cujo 6º é “não matarás”. Outras civilizações da antiguidade, como os gregos e romanos, foram também exemplos nesse quesito.

Esta última, inclusive, chegou a elaborar complexas análises na questão de danos morais e compensação pelos mesmos. Sendo assim, é curioso notarmos que a violência sempre esteve na pauta das diferentes civilizações que já caminharam no planeta. Por mais que diferentes formas de se lidar com ela tenham surgido, desde o “olho por olho” de Hamurabi até o “dar a outra face a tapa” cristã, ela demonstra ser constante.

Poderíamos dizer então que ela é “natural” do ser humano, mas isso também é perigoso, pois pode ser usado como tentativa de legitimar algum ato cruel. Um exemplo disso é aquela lógica de elevador de que “a humanidade sempre foi violenta, portanto também posso ser agora”. Chamo isso de “lógica de elevador” por ser aquele tipo de conclusão simplista que pode chegar-se em uma rápida viagem de um andar para outro.

A relação entre “transgressão da norma” e “punição” seria historicamente constituída de acordo com certos grupos que detém o poder. Nosso senso de justiça seria, então, histórico e culturalmente construído.

Curiosamente, recentemente tive uma conversa com uma vizinha que falou algo do tipo “você ainda não tem filhos? Tudo bem, o mundo já está superpovoado mesmo. E agora que não tem mais guerras no mundo, não dá nem para dar uma limpada”. Eu imagino o que os povos em conflito na África e Oriente Médio pensariam sobre isso. Mas divago.

Outro livro obrigatório a ser citado nessa discussão é o “Vigiar e Punir”, do filósofo Michel Foucault. Analisando a história das punições, Foucault foi capaz de estabelecer uma mudança na sensibilidade punitiva que via no encarceramento uma via de correção mais humanitária em comparação com o suplício público. Contudo, segundo o autor, isso dependeria da formação de “corpos dóceis”, que interiorizam as regras sociais estabelecidas de modo a sentirem-se vigiados a todo o momento, mesmo quando não estão.

Seria este constante princípio de alerta que nos manteria em linhas de conduta socialmente aceitáveis. E isso, segundo ele, ocorreria via uma série de medidas legislativas que atendem a determinados grupos de interesse. Dito de outra forma, a relação entre “transgressão da norma” e “punição” seria historicamente constituída de acordo com certos grupos que detém o poder. Nosso senso de justiça seria, então, histórico e culturalmente construído.

Sheherazade

Sangue

Violência e Cultura

Acima de tudo, acredito que a violência é um ato que exige interpretação de acordo com o molde cultural na qual o indivíduo está inserido. Como estamos condicionados pela cultura, qualquer ato que se diga “natural” depende de seu interpretante, ganhando assim formas diversas. O cenário islâmico é bem provocador nesse sentido. É lugar-comum do ocidental achar que a religião islâmica é machista (e, sem dúvida, sob nossos olhares, realmente ela é em inúmeros aspectos).

A Burca, por exemplo, seria um símbolo máximo de que a mulher não domina seu corpo, sendo este propriedade ou da sua família ou do seu marido. Ao mesmo tempo, é cada vez mais comum os relatos de mulheres que se sentem extremamente constrangidas com homens que as abordam na rua.

Debatemos sobre isso no AntiCast 116, sobre Feminismos e Discursos de Gênero, portanto não vou me alongar nessa questão aqui. Quero apenas fazer um contraponto com o cenário islâmico dito machista: é norma reconhecida nos países islâmicos que uma mulher que sai de burca não pode ser abordada por um homem. Caso seja, este homem está cometendo um crime, previsto em lei.

Há violência dos dois lados: no ocidente, há um misto de “liberdade com consequências”. No oriente, uma sensação de “prisão libertadora”. Nos dois, há o problema da mulher conseguir se liberar da sua condição historicamente construída de “propriedade privada”. Muito se evolui dos dois lados, mas ainda estamos longe de um cenário satisfatório.

Acredito que, baseado em algumas mulheres que conheço, muitas aceitariam andar de burca na rua, se isso significasse que não seriam abordadas na rua. No ocidente, sequer temos essa opção. Discussão difícil essa num mundo que parece integrar-se cada vez mais através dos meios de comunicação. A sensação de andar em círculos é inevitável. Todos os lados parecem ter malefícios e ficamos determinados a escolher as opções “menos piores”, baseados nos nossos limites de interpretação do entorno.

Falando dos que estão mais perto de nós, eu sou apenas capaz de imaginar o tipo de concepção de “violência” que um morador de uma comunidade da periferia possui. Ao ver seu pai tendo sua dignidade violentada pelo Estado (preço da passagem do ônibus, sistema de saúde falho, baixo salário etc.), ou ainda de ver o traficante local tendo sucesso financeiro indo contra lei estabelecida, sou da opinião de que há aí um ciclo de violência que se autoalimenta. Obviamente há os casos daqueles que foram capazes de se superar, e daí há toda a discussão sobre meritocracia x condições sociais determinantes.

Somos violentos quando sonegamos imposto, quando recebemos o troco errado e não avisamos, quando invadimos a privacidade do outro e quando criticamos alguém.

Eu não sou absolutamente contra a concepção de meritocracia, mas acho que seus defensores esquecem de um dado fundamental: ela só é válida em um ambiente no qual todos possuem acesso a condições de oportunidades iguais. Por exemplo, em uma competição entre dois diretores de arte, que dispõem do mesmo tempo e ferramentas para realizarem seu trabalho, realizará o melhor trabalho aquele que souber ler melhor seu ambiente e inovar com mais contundência.

Em resumo, a criatividade poderá ser uma boa aliada – mas poderá ser pouco útil se um está usando um computador de última geração e o outro só possui um lápis e papel. Há sempre excessões, mas não são elas que determinam o ambiente todo. Sendo assim, gosto de pensar sempre num equilíbrio entre as duas coisas. Contudo, como geralmente lidamos com cenários desiguais, acredito que a violência social acaba desempenhando um papel mais determinante do que ideologias que pregam a existência de uma “boa índole”. E por violência, aqui, refiro-me a todos os seus graus.

Somos violentos quando sonegamos imposto, quando recebemos o troco errado e não avisamos, quando invadimos a privacidade do outro e quando criticamos alguém. Neste caso, não quero dizer que “é errado ser violento”. No último exemplo que dei, por exemplo, a crítica a alguém pode ser muito útil para aquela pessoa – e até para você, especialmente se ver que sua crítica está errada e pode aprender a aguçar seus critérios de julgamento com isso. Mas é um ato violento. Em grau muito menor do que um assassinato, sem dúvida.

Uma ideia parece surgir dessas ponderações: há alguma sabedoria no erro e na violência. Qual (ou quais) exatamente, não sei. Mas parece haver. E, com isso, voltamos à nossa dúvida original: qual tipo de violência seria permitida?

Dredd

Junto com o direito de expressão (e ação), há também o dever de se responder pelas consequências do discurso – especialmente se o fins não forem justificados.

Aprendendo com Maquiavel e Sheherazade

Apesar do subtítulo, quero deixar claro que discordo da opinião da jornalista, e vou explicar o motivo em breve. Antes disso, quero voltar ao pensador italiano, citado anteriormente.

Como já falei, de acordo com o filósofo Renato Janine Ribeiro, a frase “os fins justificam os meios” não é de autoria de Maquiavel. Contudo, parece sintetizar, de alguma forma, seu pensamento.

A obra mais famosa de Maquiavel, sem dúvida, é “O Príncipe”, datada do século XVI, na qual ele basicamente elenca uma série de diretrizes sobre como o monarca deve reger seu governo. Isso já é bem conhecido. Contudo, poucos sabem que Maquiavel era um Republicano, e uma das provas mais fortes disso é o longo tempo que passou escrevendo uma obra chamada “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”. Esta possui um caráter de profundo teor republicano. Não à toa, Rousseau, filósofo francês do século XVIII, levantou a hipótese de que “O Príncipe” era uma paródia. Contudo, ao lermos a obra, veremos que, se ela é uma piada, ela foi levada a sério demais.

Neste texto, Ribeiro retira do próprio texto de Maquiavel um exemplo interessante sobre o que pensa a respeito do Príncipe e seu papel político. Coloco o trecho em questão abaixo:

Árvore

“Se Maquiavel comec?a o livro especificando seu campo de interesse – o regime na?o republicano, mas mona?rquico; que na?o e? antigo, mas novo; que na?o foi obtido por armas pro?prias, mas alheias – ele praticamente o conclui com uma distinc?a?o que mais ou menos se sobrepo?e a esta. No penu?ltimo capi?tulo d’O pri?ncipe, afirma que dos resultados de nossas ac?o?es pode-se dizer que metade vem da fortuna (mais ou menos, o acaso, a sorte, boa ou ma?), metade da virtu?. Para ele, essa palavra na?o significa virtude moral, e por isso os estudiosos preferem cita?-la em italiano, a fim de preservar o sabor maquiaveliano.

A virtu? seria a excele?ncia do pri?ncipe, do condottiere, ao saber como enfeixar em suas ma?os os fios descosidos do destino. Tem virtu? quem sabe, em uma situac?a?o adversa ou apenas devida a? sorte, tornar-se senhor. Vejam o exemplo que da? Maquiavel: tempestades arrasam pontes e estradas, eis a fortuna; mas, depois, o homem refaz o que foi destrui?do, tornando-o mais resistente ao azar, eis a virtu?.

O que faz enta?o o pri?ncipe, na?o digo o ameac?ado pela ma? sorte, mas o que deve seu status apenas a? boa sorte, sem me?rito pro?prio, sem forc?as armadas suas que o defendam? Ele deve ser habili?ssimo. Cada gesto seu precisa estar dirigido a? construc?a?o de um poder que impressione. O grande exemplo de Maquiavel esta? em Cesare Borgia, quando esse pri?ncipe novo por excele?ncia – que deve sua posic?a?o apenas a? sorte de ser filho de papa – ganha a Romagna, enta?o assolada por bandidos.

Nomeia um preposto, Ramiro dell’Orco, para que acabe com eles, o que Ramiro faz com energia e crueldade. A regia?o esta? pacificada, mas Cesare ficou com fama ruim. Para sanar o entrave, Cesare manda matar, de forma cruel, seu pro?prio delegado, Ramiro. O corpo dele, ensanguentado, no centro da capital da Romagna, basta para mostrar que o pri?ncipe pode ser terri?vel e bom. Um gesto teatral fortalece Cesare Borgia.”

Suplício

Sangue

No caso citado de Cesare Borgia, pode saltar aos olhos do leitor o caráter de egoísta e sádico do Príncipe, que deseja manter seu status no poder ao invés de “pensar no povo”. O problema seria justamente esse: o Príncipe tem certeza de que sabe o que é melhor para seu povo. Pensando nisso, precisa manter o poder e faz o que for necessário para tanto.

Como eu gosto sempre de dizer, não existem pessoas que se dizem “malvadas” – o que implica dizer que não existe “gente de bem”, pois o julgamento de “bem” ou “mal” depende de quem está julgando. Todos acham que estão fazendo algo correto, mesmo nas piores das situações. Se pegarmos a totalidade de transgressões que realizamos todo dia, os casos em que sentimos genuína culpa são mais raros do que imaginamos.

Neste sentido, a lógica maquiavélica parece cair como uma luva. “Sei que o que estou fazendo é errado, mas é para um bem maior”. Uma variação é “não sei se o que estou fazendo é errado ou não, mas o resultado sem dúvida é para um bem maior”. Os fins justificando os meios. Contudo, isso é uma interpretação equivocada de Maquiavel. Como defensor da República, ele buscou justamente apontar os perigos de tais atitudes monárquicas.

E o que Sheherazade (entre outros citados no início do texto) tem a ver com isso? A questão é simples: num Estado democrático em que vivemos, todos tem o direito de falar o que bem entendem. Se ela acha que é compreensível amarrar alguém num poste, ela tem o direito de achar isso. Mas o que devemos aprender com Maquiavel e seu “O Príncipe” é que, junto com o direito de expressão (e ação), há também o dever de se responder pelas consequências do discurso – especialmente se o fins não forem justificados. E as consequências das ideias de Sheherazade não são das mais agradáveis para aqueles que defendem um cenário democrático.

Em primeiro lugar, como espero ter demonstrado, o “sentir-se violentado” é algo que depende de uma série de fatores. É importante sabermos quem está acusando a violência e o que Estado diz sobre isso. Ao permitir-se que o cidadão faça “justiça com as próprias mãos”, é importante lembrar-se daquelas aulas chatíssimas de História que teve, na qual o(a) professor(a) explicou o modelo dos três poderes, atuante no Brasil. Aquele que cria as Leis (Legislativo) não pode ser o mesmo que julga (Judiciário) e muito menos o que executa (Executivo).

Ditadura

Se concentrarmos esses poderes em apenas uma pessoa, entramos em um terreno perigoso: e se um dia o meu colega decidir me julgar? Em resumo, ao defender a legitimidade do “fazer justiça com as próprias mãos”, você está pondo em risco a própria liberdade. Ou você deseja viver num futuro pós-apocalíptico estilo Juiz Dredd? Ou deseja o retorno da Ditadura Militar?

Ao defender um novo Golpe, ou um modelo social que restrinja a liberdade do Outro, você está pondo em risco a sua própria.

O fato do Estado ter problemas em manter ordem e segurança a seus cidadãos é obviamente algo grave que deve ser trabalhado dentro dos trâmites legais e do exercício democrático. Particularmente, acho um absurdo ver tanta gente hoje em dia sonhando com um novo golpe militar no Brasil, querendo trocar a própria liberdade conquistada por uma ilusão de segurança. Primeiro: segurança para quem? Para você? Para as “pessoas de bem”? E quem decide quem é de bem ou não? Somos realmente tão egoístas e egocêntricos assim?

E se você acha que com isso estou querendo “defender bandido”, recomendo fortemente a leitura do texto “Ninguém é a favor de bandidos, é você que não entendeu nada”, de Ramon Kayo. Sobre as implicações de Sheherazade e sua demonstração de completo desconhecimento acerca do funcionamento de um Estado democrático moderno, recomendo este texto de David G. Borges, “A jornalista e os justiceiros do Flamengo”, muito esclarecedor.

Por fim, espero que o leitor entenda o seu próprio poder comunicativo. Ao pregarmos a legitimação do uso da violência, seja num jornal no horário nobre, seja na numa rede social para seus amigos, às vezes estamos realizando um atentado contra nós mesmos. Você tem direito de expressão e deve usá-lo à vontade. Mas aprenda a arcar com as consequências. Ao defender um novo Golpe, ou um modelo social que restrinja a liberdade do Outro, você está pondo em risco a sua própria.

Sejamos, portanto, menos preguiçosos no pensamento.

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Mute lembra povo indiano onde está sua voz

Sabe todas as vezes que você se revoltou ao ler uma notícia falando sobre corrupção, violência e tragédias que poderiam ter sido evitadas, entre outros problemas presentes no nosso cotidiano? Pois é exatamente este o sentimento vivenciado pelo personagem do filme aí em cima. Apesar das semelhanças, Mute se passa na Índia, e não no Brasil.

Produzido pela The Handloom Picture Company e dirigido por Ram Subramania, o filme mostra um jovem mudo reclamando de todos os problemas do país, do preço dos vegetais aos ataques terroristas, sem esquecer dos incontáveis casos de estupro.

No final, descobrimos que na verdade, ele não é mudo, apenas não tem voz por uma única razão: ele não votou na última eleição. A ideia é boa, com uma execução acertada. E apesar de simplificar bastante a realidade política, o filme consegue nos fazer refletir sobre a importância do voto.

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Uma boa “reflexão” sobre o assédio em espaços públicos

Em 2013, a gente mostrou aqui pelo B9 algumas campanhas bem interessantes, focadas no assédio contra a mulher em espaços públicos – que em alguns casos podem, inclusive, evoluir para a violência escancarada. Em meados de dezembro, a Whistling Woods International chamou atenção para o problema, mais uma vez, com o filme Dekh Le, com criação e produção da da Postman Piktures, de Bombaim.

A ideia era relembrar o primeiro aniversário do crime cometido contra Nirbhaya, estudante estuprada e morta por cinco homens em um ônibus na Índia e lembrar que todos devem “pensar, refletir e agir”.

Dekh Le é um daqueles filmes simples, mas que conquistam a nossa atenção pelos detalhes, provocando e depois quebrando nossos pré-conceitos. Isso acontece, por exemplo, quando as primeiras mulheres que aparecem sendo assediadas estão com roupas mais curtas ou decotadas – para, em seguida, vermos uma mulher toda coberta também enfrentando o problema.

A maneira encontrada para que os homens pudessem também “refletir” sobre o assunto é genial, pois muitos deles fazem isso de maneira inconsciente e não percebem como são vistos pelas mulheres. E o resultado incomoda, é claro.

Em duas semanas, o filme ultrapassou os 2 milhões de views no YouTube. Vale o play e a reflexão.

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Estupro? A culpa é sua!

Se você acompanha o noticiário internacional, deve perceber uma certa frequência em notícias sobre estupros na Índia. E, por incrível que pareça, a mulher continua levando a pior, já que não basta ser vítima deste crime, mas de acordo com alguns setores indianos, elas também são as responsáveis. O absurdo é tão grande que virou piada pelas mãos do coletivo de humor All India Bakchod (AIB 365), que trata o assunto com sarcasmo e humor em It’s Your Fault.

Já tem algumas semanas que o vídeo criado por Tanmay Bhat, Gursimran Khamba, Rohan Joshi e Ashish Shakya tem rodado a internet. Com uma pegada de televenda, elas transformaram os comentários infelizes de lideranças do país em uma espécie de cartilha de prevenção à violência contra a mulher. Detalhe: ao mesmo tempo em que apresentam as sugestões dos conservadores, elas explicam porque as mesmas não vão funcionar.

O roteiro é muito bem amarrado, com argumentos ora inteligentes, ora tão absurdos quanto os comentários que os originaram:

“Estudos científicos sugerem que mulheres que usam saias são a principal causa de estupro. Você sabe por quê? Porque homens têm olhos.”

O vídeo também mostra alguns exemplos de roupas provocativas que poderiam resultar em algum crime de violência sexual.

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Em outro momento, a apresentadora ensina que, se ao chamar os estupradores de Bhaya (irmão), eles cessarão imediatamente com a violência. Este trecho é uma referência direta ao guru indiano Asaram Bapu, que destacou que uma estudante estuprada e morta por cinco homens em um ônibus no ano passado também foi culpada pelo crime, uma vez que ela não deveria ter resistido, mas sim rezado para Deus e pedido que os homens que a atacaram a deixassem em paz, referindo-se a eles como Bhaya.

A lista de “razões” para que as os estupros ocorram também é surreal: comida, filmes, celulares… Sem esquecer, é claro, os horários em que as mulheres estão na rua, trabalhando – afinal, para que ser independente se você pode ter um marido para te sustentar… “Fato divertido: se é o seu marido, não é estupro”.

A mensagem final é clara e séria: parem de culpar a vítima. Vale para a Índia e para qualquer lugar do mundo.

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Campanhas colocam assédio sexual em evidência

Inconveniente: que não é conveniente, que é importuno, impróprio. Acontecimento que embaraça, importuna, incomoda. É desta maneira que muitas mulheres definem o comportamento de um homem quando ele as aborda em um local público, usando um “elogio” como uma espécie de disfarce para a intimidação – às vezes, até muito mais do que isso, quando o verbal se transforma em físico. Agora, duas campanhas, uma nos Estados Unidos e outra no Brasil, resolveram colocar o assédio masculino em evidência, criando um grande zum-zum-zum na internet.

E como é que esse assunto veio parar até aqui, no Brainstorm9? Basta uma rápida busca pelo nosso arquivo e você irá encontrar diversas campanhas relacionadas à violência contra a mulher no ambiente doméstico, geralmente caracterizada por agressões verbais, psicológicas e físicas. O que a gente percebe nestas ações é que existe um grande incentivo para que as vítimas denunciem seus agressores, já que a maioria costuma ficar em silêncio por medo ou vergonha.

Romper o silêncio, entretanto, não é uma tarefa fácil. Significa ter de se expor, de admitir que não se é tão forte e segura quanto se gostaria, e ainda por cima ser julgada, como se fosse sua a culpa pela violência sofrida. São sentimentos confusos, muito parecidos com os de quem sofre assédio em locais públicos, um tipo de violência tão comum para muitas mulheres quanto ignorado pela sociedade em geral .

Seja para o bem ou para o mal, o assunto parece estar começando a ganhar certa atenção – apesar de as opiniões em relação a ele estarem longe de um consenso. À frente desta cruzada contra as abordagens intimidatórias estão a artista plástica Tatyana Fazlalizadeh, nos Estados Unidos, e a jornalista Juliana de Faria, no Brasil.

Nos EUA, Tatyana resolveu dar um basta – ou ao menos tentar – no assédio sofrido pelas mulheres nas ruas de Nova York e Filadélfia, usando a arte como sua principal arma. Stop Telling Women to Smile é uma série de cartazes com ilustrações e frases que falam diretamente aos ofensores, atualmente em fase de captação de recursos no Kickstarter para percorrer outras cidades dos Estados Unidos.

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Na descrição do projeto, a artista conta que começou o STWTS como uma forma de explorar o ativismo social por meio da arte nas ruas, usando ilustrações de mulheres – algumas, amigas dela – para dar rostos e vozes aos corpos sexualizados. As histórias dos assédios sofridos no espaço público inspiram o texto que acompanha a imagem da pessoa retratada.

Ao levar o Stop Telling Women to Smile para outros lugares, Tatyana planeja repetir o trabalho com as mulheres de cada cidade, ouvindo suas experiências e retratando-as nos cartazes, que depois serão espalhados localmente. Para a artista, será uma forma de aprender como o assédio acontece nas ruas e como as mulheres reagem a ele em diferentes pontos do país, e desta forma criar trabalhos que reflitam melhor aquela comunidade.

Na primeira leva, por exemplo, espalhada pela região de Nova York, as mensagens dizem “Pare de dizer às mulheres para sorrirem”, “Minha roupa não é um convite”, “As mulheres não estão na rua para o seu entretenimento”, “As mulheres não estão em busca da sua validação”, “Meu nome não é baby, pequena, docinho, querida, linda, buu, coração…”, “Críticas ao meu corpo não são bem-vindas”, “Mulheres não devem a você seu tempo ou sua conversa”.

Na primeira leva, espalhada pela região de Nova York, há mensagens como “Minha roupa não é um convite”

A princípio, Tatyana estabeleceu uma meta de US$ 15 mil no Kickstarter, a ser atingida até o dia 3 de outubro. A alguns dias do prazo final, ela já arrecadou mais de US$ 29 mil. Com o sucesso muito além do esperado, a artista está estudando formas de expandir o projeto, talvez incluindo outras cidades além das já definidas – entre elas Baltimore, Boston, Atlanta, San Francisco, Miami, Kansas City, Los Angeles e ?Chicago. Ela também não descarta a ideia de levar o STWTS para outros países, provavelmente no próximo ano. Amsterdã, na Holanda, e Berlim, na Alemanha, são dois destinos em potencial.

Em uma breve troca de mensagens com Tatyana, perguntamos se o Brasil também poderia estar incluído em seus planos. “Eu adoraria ir ao Brasil. Para que eu possa viajar para qualquer cidade ou país, entretanto, eu preciso ter recursos. Isso significa que se eu conseguir fazer alguns contatos, levantar recursos e encontrar pessoas ou organizações dispostas a trabalhar comigo por aí, então será muito mais viável”, explica. 

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Chega de Fiu Fiu

A disposição de Tatyana Fazlalizadeh em vir ao país é uma boa notícia, especialmente agora, quando os resultados de uma pesquisa realizada pela jornalista Karin Hueck e divulgada pelo site Think Olga estão em evidência: 99,6% das 7.762 mulheres ouvidas já foram assediadas em locais públicos. E tem mais: 81% já deixou de fazer alguma coisa por medo do assédio, que disfarçado de “cantada” é rejeitado por 83% das entrevistadas.

Há aqueles que acreditam que tudo se resolve rotulando as mulheres de “mal-amadas”, “mal-comidas”, “frescas” e afins

O estudo pode ser conferido na íntegra aqui, e apesar de seus dados e informações não serem definitivos, eles serve de ponto de partida para debates importantes e que precisam ser feitos. Ao ler os comentários sobre a campanha Chega de Fiu Fiu, criada por Juliana de Faria e da qual a pesquisa faz parte, é possível encontrar todo tipo de opiniões sobre o assunto. Há aqueles que acreditam que tudo se resolve rotulando as mulheres de “mal-amadas”, “mal-comidas”, “frescas” e afins, aqueles que acham que essa história toda é um exagero e quem ainda está se esforçando para entender o motivo disso tudo.

Em comum, é perceptível que a maioria dos homens não consegue entender de verdade a razão de ser da campanha, e talvez ela devesse ter começado por aí: não basta apenas dizer para os eles que nós consideramos determinadas abordagens ofensivas, é preciso explicar para eles o que caracteriza uma abordagem ofensiva e a razão de as mulheres interpretá-las como tal.

É provável que isso seja um choque para alguns homens, mas mulher nenhuma gosta de ser encoxada por um estranho no metrô ou no ônibus. Mulher nenhuma gosta de receber assobios (o tal do fiu fiu), como se fosse um animal de estimação, ou de não conseguir ir de casa ao trabalho (ou a qualquer outro lugar) sem ouvir comentários do tipo “te chupava inteira”. E sabe aquela história de que a mulher quando está com a autoestima baixa passa em frente da construção, só para receber uns elogios? Lenda urbana.

É provável que isso seja um choque para alguns homens, mas mulher nenhuma gosta de ser encoxada por um estranho no metrô ou no ônibus

Se você é mulher, há grandes chances de ter alguma história para contar de abordagens invasivas ou toques indesejados em locais públicos. Se você é homem e duvida, pergunte para a mulher mais próxima. Eu tenho várias, do cara que tentou me cheirar no meio da rua até o cara que ficou passando o pé em mim no cinema. E essas são as mais leves.

No site Think Olga, as mulheres são convidadas a deixar depoimentos com suas histórias de abordagens invasivas – e são não são poucos os casos. Assim como o STWTS, o Chega de Fiu Fiu também conta com algumas ilustrações contra o assédio, assinadas pela designer Gabriela Shigihara. “Apesar de eu não conseguir entender o que está escrito, gosto da ideia por trás deste projeto. Eu adoraria encontrar uma forma de poder trabalhar com elas”, diz Tatyana Fazlalizadeh.

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Cantada x contexto

Se você leu este post com atenção, provavelmente percebeu que a palavra “cantada” foi usada apenas na apresentação dos resultados da pesquisa publicada pelo Think Olga, e agora neste trecho final. Em praticamente todos os textos que li, percebi que as pessoas se prenderam demais à ela e deixaram de prestar atenção ao que realmente importa: a questão do assédio sexual em espaços públicos, definição básica da campanha Chega de Fiu Fiu.

Enquanto todo mundo está discutindo semântica e filosofando sobre como as mulheres estão sendo injustas tentando acabar com um patrimônio antropológico-sentimental que é a cantada, a intimidação, o assédio e a violência continuam sendo ignorados pela maioria, fazendo parte apenas do cotidiano de suas vítimas.

Há várias formas de se abordar uma mulher em público e é possível iniciar uma conversa sem precisar chamá-la de linda, gostosa ou afins. É claro que essas palavras vão acabar aparecendo em algum momento, mas é sempre bom esperar para inseri-las em um contexto mais apropriado.

No final das contas, mulher nenhuma quer ser tratada como um pedaço de carne esperando para ser garfada por aí. O importante é que as pessoas se conscientizem de que o problema existe, sim, e que campanhas como Stop Telling Women to Smile e Chega de Fiu Fiu devem ser apenas um primeiro passo de uma caminhada que deverá passar, também, pela forma como a mulher é tratada no mundo publicitário. Mas isso é assunto para uma outra hora.

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AntiCast 93 – Videogames e Violência: Chega!

Olá, antidesigners e brainstormers!
Neste programa, Ivan Mizanzuk, Marcos Beccari, Rafael Ancara, e os convidados Pablo de Assis e Zamiliano, conversam sobre a polêmica (e cansativa) tentativa da mídia tradicional em relacionar videogames e violência, assunto que voltou em pauta após o caso do menino de 13 anos que teria, supostamente, matado sua família. Discutimos sobre casos de psicopatia infantil, Freud dando pulos de alegria do túmulo, banqueiros jogadores de Banco Imobiliário, e as influências da família e da sociedade na formação da psique infantil. Ah sim, e tentamos falar sobre videogames também.

>> 0h11min46seg Pauta Principal
>> 1h27min24seg Leitura de Comentários
>> 1h32min36seg Música de encerramento: “And the Hero Will Drown”, da banda Story of the Year

Arte da episódio por Brads | Fan Page

Links
Curso de Tarô do Beccari e Workshop/Lançamento do livro “Filosofia do Design”, com Marcos Beccari e Daniel Portugal
O garoto
Vídeo mostrando como é dar um tiro com a arma supostamente usada pelo menino
Album “Games em Foco”, do Guilherme Oliveira, satirizando a situação toda
Tumblr “Matei porque joguei”
Renegados Cast (podcast do Zamiliano)
Site pessoal do Pablo
Mitografias, site do podcast Papo Lendário, que o Pablo participa, falando sobre Mitos

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Crianças invisíveis contam sua história em nova campanha da Unicef

Todos os dias, milhares de crianças são vítimas da violência ao redor do mundo. Algumas delas tem seus nomes reportados no Daily Abuse. Outras permanecem anônimas, e até mesmo invisíveis, como na nova campanha da Unicef. Narrado por Liam Neeson – embaixador da Unicef desde 1997 -, o filme percorre cenários onde ocorreu algum tipo de violência, sem mostrar quem a sofreu ou quem a causou.

Segundo o diretor Jonathan Notaro, da produtora Brand New School, a ideia era criar imagens perturbadoras de local onde a violência ocorreu – mais ou menos como o cenário de um crime a ser investigado pelo CSI -, deixando o ato em si implícito, mas permitindo que o espectador tirasse suas próprias conclusões a partir das histórias contadas por Neeson.

“Independentemente do país de origem ou experiência, todas as pessoas vão concluir sua própria poderosa e comovente história, que esperamos incentivá-los a agir”, diz Notaro.

Realmente, é uma mensagem bastante poderosa, que segue ao pé da letra a ideia de que em muitos casos menos é mais.

A criação é da agência Naked.

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